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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 99 :: Setembro/2006 :: -

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Em breve: uma nova versão de Mapas do Brasil.

DOSSIÊ PLUTÃO

Os astrônomos viram a mesa
e encolhem o Sistema Solar

Fernando Fernandes

Ao reclassificar Plutão dentro de uma nova categoria, a dos planetas anões, os astrônomos resolvem um problema metodológico de sua própria ciência, que nada tem a ver com a forma que a Astrologia percebe o céu. Contudo, a decisão reflete um movimento simbólico no mundo contemporâneo.

Há anos a ausência de uma clara e inequívoca conceituação do que é um planeta já vinha incomodando fortemente os astrônomos. Durante algumas décadas pensou-se que o Sistema Solar já estivesse completamente mapeado, mas várias descobertas recentes embaralharam outra vez o tabuleiro e tornaram as definições cada vez mais imprecisas. Em primeiro lugar, constatou-se aos poucos que Plutão era menor do que parecia na época de sua descoberta. Na verdade, Plutão chega a ser menor do que nossa velha conhecida Lua. Além do mais, tem um satélite, Caronte, que não funciona exatamente como satélite, mas sim como a outra peça de uma espécie de sistema duplo.

Nos últimos vinte anos as novidades sucederam-se em ritmo vertiginoso: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno "ganharam" novas luas, enquanto corpos celestes até então ignorados começaram a surgir nos remotos confins do Sistema Solar. Quaoar em 2001, Sedna em 2003 e - para excitação da comunidade científica - Xena em 2005, com seu diâmetro maior do que o de Plutão, obrigaram os astrônomos a repensar suas categorias de classificação e a adotar uma metodologia mais rigorosa. Este foi exatamente o prato principal da XXVI Assembléia Geral da IAU (União Astronômica Internacional), realizada em Praga, República Tcheca, entre 14 e 25 de agosto de 2006.

Plutão e seu satélite Caronte em foto da NASA.

A sessão mais polêmica da XXVI Assembléia Geral da IAU aconteceu na tarde de 24 de agosto. Após uma disputada votação, o plenário decidiu que Plutão deveria deixar a categoria de planeta e inaugurar uma nova categoria de corpo celeste: a de "planeta anão" do Sistema Solar. A notícia repercutiu no mundo inteiro, em manchetes sensacionalistas (algumas totalmente nonsense, como "Sistema Solar perde um planeta"). Bastaram poucas horas para que a polêmica chegasse ao meio astrológico e alimentasse a disposição belicosa dos críticos de sempre ("Como vão se virar os astrólogos com um planeta a menos?").

Para entender claramente o que significam as novas resoluções da União Astronômica Internacional, é preciso considerá-las uma a uma. Vamos a elas, em tradução livre do documento oficial:

Resolução da União Astronômica Internacional: Definição de um planeta no Sistema Solar

As atuais observações estão mudando nossa compreensão sobre sistemas planetários, e é importante que a nomenclatura para objetos celestes reflita nosso corrente entendimento. Isso se aplica, em particular, ao conceito de planeta. O termo planeta originalmente designava "viajantes", dos quais se conhecia apenas o fato de serem pontos de luz que se moviam no céu. Recentes descobertas levaram-nos a elaborar uma nova definição, à qual chegamos utilizando a informação científica hoje disponível.

RESOLUÇÃO 5A

Em função do exposto a IAU delibera que "planetas" e outros corpos em nosso Sistema Solar serão classificados em três distintas categorias, a seguir definidas:

(1) Um planeta é um corpo celeste (a) em órbita em torno do Sol, (b) com massa suficiente para (...) assumir uma forma quase redonda e (c) que tenha "limpado" a região em torno de sua órbita.

(2) Um planeta anão é um corpo celeste (a) em órbita em torno do Sol, (b) com massa suficiente para (...) assumir uma forma quase redonda (c), que não tenha "limpado" as vizinhanças em torno de sua órbita e (d) que não é um satélite.

(3) Todos os demais objetos que orbitam em torno do Sol, exceto satélites, serão denominados genericamente "pequenos corpos do Sistema Solar".

NOTAS:

1 - Os oito planetas são: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
2 - A União Astronômica Internacional instituirá um procedimento para estabelecer a distinção, nos casos limítrofes, entre planeta anão e pequeno corpo do Sistema Solar.
3 - Tais objetos incluem a maioria dos asteróides do Sistema Solar, objetos Trans-Netunianos (TNOs), cometas e outras corpos de pequena dimensão.

RESOLUÇÃO 6A

A União Astronômica Internacional resolve ainda que:

Plutão é um planeta anão nos termos da definição acima, e é reconhecido como o protótipo de uma nova categoria de objetos trans-netunianos.

Entendendo as resoluções

O primeiro ponto que chama a atenção nessas resoluções é a extrema simplicidade de sua redação. O segundo é o critério que "derrubou" Plutão de status anterior: a necessidade de que um corpo celeste "limpe" sua órbita para merecer a classificação de planeta. Isto significa, simplesmente, que um planeta deve ter uma clara superioridade em seu domínio orbital. Em outros palavras: precisa ser "o rei do pedaço", não compartilhando sua órbita com nenhum outro objeto de dimensões semelhantes. Plutão não apenas forma um sistema duplo com sua lua Caronte (proporcionalmente grande demais para ser considerado um satélite comum) como também cruza periodicamente a órbita de Netuno, tornando-se não o último, mas o penúltimo planeta do Sistema Solar.

O mais provável é que Plutão sirva de modelo para a definição de uma futura categoria de objetos trans-Netunianos, que também abrangerá Xena, Caronte, Sedna e outros corpos de dimensões semelhantes. Tais objetos, além da grande distância com relação ao Sol e das dimensões reduzidas, caracterizam-se ainda por uma órbita muito inclinada e alongada em comparação à dos planetas "clássicos".

Quanto ao critério do formato arredondado, que distingue planetas e planetas anões dos demais corpos celestes, a justificativa é que a esfericidade indica que o objeto tem gravidade forte o suficiente para preservar sua forma.

Como interpretar o "rebaixamento" de Plutão?

Para a ciência, é essencial a utilização de uma terminologia precisa, de aplicação padronizada e elaborada com base em critérios objetivos. Por mais estranho que pareça, faltava ainda à Astronomia uma definição rigorosa do significado de planeta, lacuna que só foi resolvida na última Assembléia Geral da IAU. Ao distinguir Plutão dos outros oito planetas "clássicos" e inseri-lo em uma nova categoria, o IAU não está expulsando Plutão do Sistema Solar nem revelando nenhum dado novo sobre esse corpo celeste. As diferenças entre o comportamento de Plutão e os demais planetas do Sistema já eram bem conhecidas de astrônomos e astrólogos, e não se tornaram maiores com a nova classificação. Em termos de dimensões, por exemplo, a diferença entre Júpiter e Mercúrio continua sendo bem maior do que a que existe entre Mercúrio e Plutão. A linha divisória entre o que se entende por planeta e por "não planeta" teria de ser fixada em algum lugar. Este ponto de corte é, em boa parte, arbitrário, já que depende dos critérios utilizados - critérios tão sujeitos a controvérsia que, na véspera da votação definitiva, ainda havia astrônomos apostando que a Assembléia Geral da IAU votaria pelo reconhecimento não apenas de Plutão, mas também de Xena e do asteróide Ceres como planetas.

Mais importante: toda essa discussão interessa a astrônomos, muito mais do que a astrólogos. A Astrologia, linguagem analógica por definição, não estabelece relações causais entre as dimensões do planeta, ou sua distância com relação ao Sol, e o comportamento de indivíduos que o tenham em destaque em seus respectivos mapas. Na verdade, a Astrologia não trabalha, em absoluto, com relações de causa e efeito de qualquer espécie, e sim com esquemas de correspondência analógica. Para o astrólogo, planetas não "influenciam" eventos humanos, sendo tratados apenas como indicadores celestes que se encontram em sincronia com determinados fenômenos terrestres. Neste sentido, o tamanho de um corpo celeste não guarda nenhuma relação direta com sua "eficácia astrológica", que depende de outros fatores que poderíamos definir como "sintáticos": a compatibilidade do planeta com o signo em que se encontra, as relações angulares com outros planetas etc.

Para fins astrológicos, planetas recebem uma conceituação diversa daquela utilizada pela Astronomia - e cabe lembrar que as diferenças não são de agora, mas já remontam a vários séculos. Assim, Sol e Lua, respectivamente uma estrela e um satélite da Terra, recebem tratamento de planeta, não porque falte aos astrólogos conhecimento técnico sobre a teoria heliocêntrica vigente desde o século XVII, mas porque a carta astrológica é referenciada a uma perspectiva geocêntrica, ou, mais precisamente, topocêntrica. Ao astrólogo importa mais o movimento aparente dos corpos celestes do que o verdadeiro, pela simples razão de que são tais movimentos aparentes - ou seja, os movimentos do céu vistos a partir de uma perspectiva terrestre - que carregam o investimento simbólico de representar os ciclos da vida humana.

Tudo isto significa que a decisão da IAU não tem a menor importância para a Astrologia? Em parte, sim. Vamos poder continuar usando Plutão como sempre usamos. Por outro lado, há que considerar um componente não muito objetivo, mas nem por isso menos importante na abordagem astrológica: um planeta é, em boa medida, aquilo que queremos que ele seja. Em outras palavras: determinados significados associados aos corpos celestes só emergem quando o ambiente cultural de uma dada época está maduro para admitir aqueles significados. Já tratamos disso em outro artigo (Sedna, a deusa mutilada, em Constelar edição 70 - abril/2004):

Descobertas de corpos celestes costumam coincidir com a ampliação dos horizontes civilizatórios, como se cada novo planeta representasse a emergência de um novo processo na consciência humana. (...) Considerando que os novos corpos celestes sempre expressam desafios emergentes, basta observar o que vai pelo mundo no momento em que [um novo corpo celeste] se revelou aos astrônomos.

A mesma sincronicidade aplicável ao momento da descoberta pode ser invocada também para explicar momentos em que a comunidade científica e, por extensão, toda a opinião pública, por influência dos meios de comunicação de massa, muda sua percepção do céu. O jogo, então, é tentar correlacionar os dois grandes momentos da "vida" de Plutão - o de sua descoberta e o de sua reclassificação - com os processos históricos em curso. Talvez encontremos aí alguma pista para entender melhor nosso próprio mundo.

Leia também em Dossiê Plutão:

A menina que batizou um planeta - por Fernando Fernandes
Pluto, o cão de Mickey Mouse - por Fernando Fernandes
O mapa do planeta anão - por Fernando Fernandes
Plutão não é mais planeta... e daí? - por Carlos Hollanda
Limpeza de órbita e limpeza étnica - por Maurice Jacoel



Atalhos de Constelar 99 - Setembro/2006 | Voltar à capa desta edição |

Fernando Fernandes - Dossiê Plutão | A menina que batizou um planeta | Pluto, o cão de Mickey Mouse | O mapa do planeta anão |
Carlos Hollanda - Dossiê Plutão | Plutão não é mais planeta... e daí? | O medo do monstro sob a cama |
Maurice Jacoel - Dossiê Plutão Limpeza de órbita e limpeza étnica |
Thiago Veloso/Equipe de Constelar - Astrológica 2006 | No ritmo da Astrológica 2006 | Entrevista com Robson Papaleo |
Renata Lins - Os tempos de Saturno e Urano | Chronos e Kairós |

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Raul V. Martinez - Astrologia Médica no século XV | Um mapa de doença, delírio e morte |
Raul V. Martinez - Jack, o Estripador | Um assassino de sangue real | A carta natal de Albert Victor |
Dimitri Camiloto - Saturno em Leão e o Brasil em 2006 | Fuzarca, decepção e realidade |
Dimitri Camiloto / Fernando Fernandes - Astrologia Mundial | Coréia do Norte e agressividade infantil | Duas Coréias, muitos mapas |
Americo Ayala Jr. - Astrocartografia e catástrofes naturais | Terremoto na Indonésia, Maio de 2006 |
Thiago Veloso/Equipe de Constelar - Astrológica 2006 | No ritmo da Astrológica 2006 | Entrevista com Robson Papaleo |


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