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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 124 :: Outubro/2008 :: -

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ASTROLOGIA NA UNIVERSIDADE

Plutão na compreensão da morte

Daniel Pires Rodrigues Nunes, Felipe Reis Santos Gomes de Paiva
e Renata Romano Barros da Silva

O mito sumeriano de Eresquigal

Segundo Puiggros (1993), Plutão rege o mais denso de nós, desde a matéria menos refinada, os desejos não transmutados, as idéias menos elevadas – tudo o que nos impele para baixo, que nos vincula à Terra. A matéria que oculta o espírito. Greene (1990) diz que a depressão carrega consigo a sensação de que nada irá melhorar, e o cheiro da morte íntima desenha os próprios temores de uma pessoa. Para Puiggros (1993), Plutão nos apresenta paralelamente as chaves da caminhada espiritual. Antes que se ultrapasse a porta que conduz a outro reino, é necessário defrontar-se com o guardião – o cão Cérbero de três cabeças – parte animalizada do ser. A parte positiva do homem não se manifesta até o momento em que este aprenda a refinar a sua parte negativa. Se o homem entra no confronto sem estar preparado, sucumbe ao animal que traz dentro de si. Há apenas duas opções: ou se atinge outro nível, de pura consciência, plenitude e totalidade, ou o cão devora o homem.

EresquigalNo mito sumeriano, que antecede o mito grego, é Eresquigal [imagem estilizada à esquerda] quem rege o reino dos mortos. Namtar (que significa “destino”) é um de seus servos. O mito sugere que Plutão tenha relação com algo feminino, primordial e matriarcal. Quando sua irmã Inanna, rainha sumeriana do céu, desce ao reino da Senhora da Grande Região Inferior (Eresquigal), é tratada como qualquer pessoa que descesse àquela região. Inanna foi levada nua de joelhos, enquanto suas roupas e insígnias reais foram ritualmente rasgadas em cada um dos sete portais do inferno. Muitas vezes este ritual de entrada é acompanhado por trânsitos e progressões de Plutão, trazendo, de alguma forma, a perda gradual de tudo o que se usou previamente para definir a identidade e o “pôr-se de joelhos” em sinal de humilhação, em aceitação de algo maior que a própria pessoa (GREENE 1990).

Outras formas míticas que simbolizam o mesmo arquétipo estão presentes na astrologia antiga: egípcia, caldéia e hebraica. Nestas culturas, o Escorpião era representado pela serpente, cujo símbolo está fortemente enraizado na psique humana. Sua incessante troca de pele mostra a capacidade de auto-renovação, e por isso era considerada imortal. Característica semelhante a Escorpião, que tem sua vida fragmentada em diversos capítulos, levando-o a viver em ciclos constantes.  A serpente é também o símbolo da sabedoria da própria Terra, move-se junto ao solo e ouve o segredo das raízes de todas as coisas. Na Bíblia, ela representa o Diabo, aquele que tentou Eva no paraíso. Tem duas caras, podendo ser encarada pelo escuro ou pelo claro, assim como Escorpião, que tem poder tanto para o bem quanto para o mal (GREENE 1994).

Ao analisar o escorpião animal, percebemos logo que vive isolado, não gosta de multidões, prefere um pequeno círculo de amigos de confiança. Geralmente, não ataca outros animais, apenas se for cutucado - esse é o senso de justiça que as pessoas de Escorpião apresentam. Outro fator fascinante a respeito do escorpião: se você o cercar e não lhe deixar saída, ele mesmo se ferroará para morrer. Portanto, o orgulho de Escorpião faz com que prefira se destruir por suas próprias mãos – literal ou psicologicamente – a se submeter ao ultimato ou controle de alguém. “Antes reinar no inferno do que servir no paraíso”, frase pronunciada por Lúcifer (GREENE 1994).

Existe um mito que se adapta muito bem a Escorpião. Em um dos doze trabalhos de Hércules, este é enviado para matar a Hidra de Lerna, uma besta parecida com uma serpente que tem nove cabeças, cada uma dotada de dentes com veneno mortal. E tem mais um detalhe: ao cortar uma destas cabeças, nascerão três em seu lugar. Em síntese, após uma intensa batalha, Hércules se lembra de um aviso dado por um velho sábio de que Hidra não suporta a luz.  Ele se ajoelha e levanta a criatura até a luz do sol, que atordoada se contorce e começa a morrer. Ainda resta uma cabeça que é imortal e contém em si uma jóia. Hércules apenas a enterra sob uma rocha (GREENE 1994).

Mais cedo ou mais tarde, todo Escorpião descobre Hidra dentro de si, o que significa uma série de coisas: ciúme, vingança, sexualidade frustrada, inveja, raiva. Escorpião é um signo de desejo intenso, e as muitas cabeças de Hidra podem significar os muitos desejos de um coração selvagem. Se o deixarmos crescer no escuro, pode-se tornar venenoso e começar a destruir os outros. Portanto, não podem ser reprimidos, devem ser compreendidos e levados à luz. E, mesmo quando vencidos é bom lembrar que uma cabeça é imortal, ou seja, para o Escorpião, todo ser humano carrega dentro de si as sementes do bem e do mal (GREENE 1994).

Astrologia e Plutão

O planeta Plutão está relacionado de modo natural com o signo de Escorpião [3] e a oitava casa [4]. Nascimento, morte, poder e transformação, tanto num nível individual quanto coletivo, físico quanto psicológico, são as formas de se vivenciar este planeta, signo ou casa [5]. Muitos aspectos [6] com Plutão, muitos planetas em Escorpião, na casa VIII ou Ascendente em Escorpião podem se somar para caracterizar uma personalidade plutoniana, que constelaria temas como culpa, ressentimento, desejo de controle ou de vingança (CUNNINGHAM 1986).


NOTAS

[3] Escorpião é, sem dúvida, o mais desconcertante e talvez o mais incompreendido signo do zodíaco, e os escorpianos, em si, não ajudam muito a resolver este problema, tornando-se enigmáticos e misteriosos sempre que se sentem inseguros. Como qualquer signo de Água, Escorpião também está mais ligado ao lado sentimental da vida, sendo profundamente sentimental e sensível, facilmente afetado pelas correntes emocionais que fluem nele e à sua volta, muitas vezes intensamente solitário e paradoxalmente dotado de uma necessidade voraz de relacionamento. Escorpião não é solitário em seu coração, ansiando, na verdade, por uma união verdadeiramente profunda e íntima, mas, pelo fato de poder perceber aquilo que as pessoas não têm coragem de mostrar, assume uma postura de desconfiança em relação aos outros. A falta do elemento Ar e a intensidade do elemento Água não permitem que Escorpião formule suas percepções, restando a ele as reações viscerais e violentas. Todos os indivíduos carregam dentro de si um lado sombrio, e é Escorpião que não consegue deixar de percebê-lo ao seu redor. Para este signo, o homem fundamentalmente bom é apenas um conceito que se choca com a realidade sentimental captada por suas antenas. Sua compaixão é sincera, pois compreende em seu íntimo a dor e o sofrimento do outro. No entanto, ele não admite a preguiça e a fraqueza. Escorpião sabe que tem poderes para sair de qualquer enrascada em que tenha se metido, acreditando que os outros também funcionam da mesma maneira. Além de as outras pessoas não terem sua autodisciplina e de não precisarem passar pelas mesmas dificuldades, existe, em contrapartida, um orgulho que não lhe permite ter a coragem de fraquejar (GREENE 1994).

[4] A oitava casa está naturalmente associada a Plutão e a Escorpião. Esta casa representa a essência dos relacionamentos, em que ocorre o compartilhamento de valores, recursos, necessidades biológicas e emoções, todos num nível bastante profundo, que permite o aparecimento de diversas formas de conflito entre as pessoas envolvidas. A sexualidade experimentada nesta casa representa a partilha com o outro de uma parte de nós que geralmente mantemos escondida. As energias desta casa (planetas e signo da cúspide) trariam para a superfície problemas não resolvidos relacionados aos vínculos da infância com a mãe ou pai, que podem tanto ser vivenciados de uma forma interior, como através de projeção em uma relação. De qualquer modo, esta casa está ligada à forma com que o lado sombrio de nossa natureza se apresenta à consciência para que possamos purificá-lo, regenerá-lo ou fazê-lo renascer. Deste modo, a destrutividade desta energia, normalmente experimentada através de explosões irracionais de raiva, inveja, ódio, ou através de perdas e sofrimentos externos, podendo chegar a se expressar como a própria morte física, é direcionada conscientemente para saídas mais construtivas, fazendo do indivíduo o possuidor desta força primordial (SASPORTAS 1996).

[5] Para March & McEvers (1981), pode-se dizer sucintamente que planetas são verbos que se expressam de acordo com seus advérbios (signos) em áreas específicas de experiência (casas).

[6] Segundo March & McEvers (1981), aspecto são ângulos específicos entre dois elementos do horóscopo. Estes aspectos podem ser harmônicos (30º, 60º e 120º), desarmônicos (45º, 90º, 135º e 180º) ou neutros (0º e 150º), que modelariam a relação entre os dois elementos envolvidos. De acordo com Puiggros (1988), não se faz esta diferenciação quando a aspecto envolve planetas lentos (Saturno, Urano, Netuno e Plutão). Sua dimensão temporal oferece parâmetros adequados à evolução coletiva, não sendo bons nem maus, mas simplesmente necessários a essa estrutura evolutiva.


glifo de plutãoO símbolo de Plutão, composto pelo círculo, semicírculo e a cruz, representa respectivamente o espírito, a consciência e a matéria. Pode ser interpretado de duas formas: a vinda do espírito, penetrando a consciência para atingir a matéria, ou, o espírito elevando-se acima do corpo (matéria) e da alma (consciência) ilustrando o princípio de renascimento e morte atribuído a Plutão. Este planeta representa o limite, o círculo intransponível de nossa consciência atual, sendo o último círculo conhecido, o rio circular que as almas dos mortos atravessam antes de chegar ao outro mundo (PUIGGROS 1988).

Outro símbolo de Plutão é o do Guardião da Galáxia (por se tratar do último planeta conhecido). Como todo guardião, Plutão é assustador. Porém, reflete apenas nossos pecados ancestrais, nossos fracassos, medos e culpa, em geral bem ocultos (RUDHYAR 1991).

Por estar muito distante da Terra, sua influência é abstrata e difícil de ser notada individualmente, porém, com o tempo, seu impacto é profundo e de longo alcance. Devido a esta distância, também existe a dificuldade em significar Plutão nos signos, uma vez que sua revolução (tempo de duração de uma volta completa em torno do Sol) é muito longa, aproximadamente 250 anos, e desde seu descobrimento, em 1930, até hoje, esta revolução não foi completada. A posição por signo de Plutão assinala o tipo de experiência geral de toda a humanidade, não indicando de modo algum a resposta que damos a essa influência e, por isso, não será avaliada a posição zodiacal deste planeta. Já a sua posição por casas nos mostraria onde e como cada pessoa poderia atingir o ponto mais alto ou mais baixo de seus sentimentos. Esta posição mostra o ponto fraco, ainda não conhecido pelo eu consciente. Deveríamos permitir que sua energia aflorasse ao mundo exterior antes de sermos envolvidos pelos efeitos ocultos de Plutão relacionados às experiências da casa em que está colocado (PUIGGROS 1988).

Os aspectos de Plutão constituem um dos fatores menos previsíveis do tema astrológico, pois sua manifestação está ligada ao nível de profundidade em que este estiver agindo, e nem todos os elementos importantes se manifestam no plano físico, havendo mudanças que se passam em níveis muito interiores. As modificações ocorrem no nível da abordagem que cada indivíduo faz dessa energia, estando ligado à forma como ele encara vida. Neste sentido, os aspectos podem tanto ser vivenciados como condicionamentos praticamente insuperáveis, quanto como guias para novas oportunidades (PUIGGROS 1988).

Plutão aumenta o grau de consciência, e seus aspectos, principalmente com os planetas pessoais (Sol, Lua, Mercúrio, Vênus e Marte), assinalam a parte simbolizada pelo planeta aspectado, em que esse fenômeno se realiza e onde deve acontecer o renascimento. A pessoa se sente forçada a introduzir mudanças em sua vida, normalmente sem conhecer a causa desse desejo. Tal evento causa, nos indivíduos, transtornos mais ou menos compulsivos e a pessoa deverá fazer um exame honesto de si mesma para identificar estes impulsos (PUIGGROS 1988).

O “bom aspecto”, que faz com que a energia flua com facilidade, fará com que a pessoa entre constantemente em contato com Plutão. O “mau aspecto” não saberá dosar a quantidade de energia, podendo trazer rompantes plutonianos à consciência. Independentemente da natureza do aspecto, a dimensão relacionada ao planeta aspectado terá que se submeter à transformação exigida por Plutão (PUIGGROS 1988).

Quer Plutão seja forte ou fraco, suas características estarão presentes de alguma forma. Entretanto, suas manifestações mais complicadas costumam estar presente quando existem aspectos difíceis envolvendo um Plutão forte. Assim, o constrangimento costuma ser comum nestes indivíduos, afastando-os daquilo que está sendo exigido - o confronto com a verdade. Admitir Plutão para si e para os que o cercam é o início deste processo de transformação (CUNNINGHAM 1986). Este processo é caracterizado pela não-identificação, atributo genuíno de um escorpiano, que, quando usado sabiamente, livra-o de amarras sociais e mundanas, conectando-o ao seu Eu verdadeiro, sendo autêntico para seguir a sua jornada, seguro em sua identidade individual (RUDHYAR 1991). O não confronto traz a repetição e a obsessão. Onde fomos traídos, esperamos a traição e escolheremos as situações que nos levarão a ela (CUNNINGHAM 1986). Neste caso, fica claro o processo de identificação, onde o indivíduo, viciado em neuroses, mantém sua vida presa a atos que o distanciam de seu espírito (RUDHYAR 1991). Uma possível causa para esta obsessão seriam as disputas por poder relacionadas à casa ou a aspectos de Plutão (CUNNINGHAM 1986).

Um indivíduo com um posicionamento difícil de Plutão pode ser escorpiano nesta área da vida. Enquanto este indivíduo não realizar o confronto com a verdade, destilará seu veneno em direção aos outros de diversas formas. Ele se torna, assim, uma vítima vingativa. Um homem com a Lua em Escorpião pode vingar-se de sua mãe, lançando sua raiva sobre outras mulheres, normalmente de uma forma dissimulada e controlada (CUNNINGHAM 1986).

Sexo plutonianoO poder e o controle podem ser muito explorados através do sexo. As armadilhas emocionais da passionalidade podem representar um amplo espectro de causas, que normalmente são encontradas na infância, onde o radar de alguém com um Plutão forte atrai e absorve situações para modelar sua sexualidade. Incesto, maus-tratos, traições, desejos reprimidos, que poderiam estar pairando na atmosfera do lar, fornecem alimento para a forma na qual a criança irá um dia experimentar a intimidade. Pode acontecer de se encontrar celibatários que provavelmente não suportaram as sensações de frustração, de medo, ódio e abandono que foram captados no ambiente familiar, onde, muitas vezes, o parceiro acaba sendo visto como um grande risco (CUNNINGHAM 1986).

De acordo com Cunningham (1986), a ordem de importância aproximada para interpretação de Plutão\Escorpião seria:

  • Plutão na casa I ou em conjunção com o ascendente
  • Plutão em aspecto com planetas pessoais e impessoais [7]
  • Plutão na casa VIII
  • Planetas em Escorpião
  • Planetas na casa VIII
  • Escorpião na cúspide de uma casa

NOTA

[7] Segundo Greene & Sasportas (1994), os planetas pessoais são Sol, Lua, Mercúrio, Vênus e Marte e os impessoais são Júpiter e Saturno.


O plutoniano



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