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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 116 :: Fevereiro/2008 :: -

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TÉCNICA ASTROLÓGICA E NOVAS PROPOSTAS

Astrodramaturgia e o caso "Cinderela"

Eduardo Loureiro Junior

O mapa pode ser entendido como narrativa: traçando paralelismos entre planetas, aspectos e a função dos personagens na estrutura dramática, constrói-se um modelo de interpretação em que a carta natal é lida como se fosse uma história.

Astrologia e mitologia são conhecimentos interdependentes. Que um dos elementos básicos da interpretação astrológica, os planetas, sejam nomeados por associação com seres mitológicos é a mais notória expressão disso. Sendo tão próxima a ligação, por que a interpretação de mapas astrais vale-se apenas do conteúdo mitológico e não de sua forma? A forma como os mitos, sejam eles antigos ou modernos, são contados, sua estrutura narrativa, tem sido negligenciada pela astrologia. E das formas de se contar uma história é que se ocupa a dramaturgia.

O primeiro a tratar de dramaturgia foi Aristóteles (1979). Ele definia dramaturgia como a organização de ações humanas de forma coerente provocando fortes emoções ou um estado irreprimível de gozo ou maravilhamento. Analisando a produção poética e teatral de sua época, Aristóteles lhes descreveu os elementos e, mais importante, sua trama, a forma como os fatos são tecidos.

Modernamente, Joseph Campbell (1999) voltou ao assunto, revelando a estrutura narrativa subjacente aos mais variados tipos de relatos:

"é sempre com a mesma história - que muda de forma e não obstante é prodigiosamente constante - que nos deparamos, aliada a uma desafiadora e persistente sugestão de que resta muito mais por ser experimentado do que será possível saber ou contar." (p. 15)

Essa reflexão sobre a estrutura narrativa, de caráter dramatúrgico, já foi feita para a literatura por Vladimir Propp (1984) e para o cinema por Christopher Vogler (1997). Este artigo é a tentativa de trazer uma reflexão semelhante para a astrologia, introduzindo uma nova abordagem astrológica que chamamos de astrodramaturgia.

Traçaremos, primeiramente, paralelos entre elementos astrológicos (planetas e aspectos) e elementos dramatúrgicos (personagens e estrutura narrativa). Em seguida, apresentaremos o caso do mapa astral de uma criança real que bem poderia ser o mapa astral de Cinderela, a personagem de contos de fadas.

1. Planetas e personagens

Os personagens, em qualquer narrativa, são representações de determinadas funções dramáticas. Embora sejam inúmeros os personagens presentes na grande quantidade de histórias produzidas pela humanidade, sua multiplicidade é ilusória visto que, fundamentalmente, são poucas as funções dramáticas. Cada personagem é, assim, uma espécie de reedição de antigas funções dramáticas. Por exemplo, Branca de Neve (do conto de fadas), Neo (de Matrix) e Perséfone (da mitologia grega) são personagens que nos parecem muito distintos, mas que realizam uma mesma função dramática: a de herói.

As funções que trabalharemos aqui, associando-as aos planetas, são as seguintes: o herói, o camaleão, a deusa, o arauto, o guardião do limiar, o mentor e o sombra. Baseamo-nos, para tanto, em Campbell e Vogler.

O herói é o ponto focal da história, com o qual o leitor, ouvinte ou espectador se identifica. Sua importância para a história é tamanha que, muitas vezes, a história recebe o seu próprio nome. A história, na verdade, é apenas um relato de transformação do herói. Não é difícil associá-lo ao sol astrológico. O Sol também é o ponto focal do mapa astral, é o que indica a identidade da pessoa ou evento analisado.

O camaleão caracteriza-se pela mudança. Suas ações, ou mesmo sua aparência, não se mantêm constantes durante a história. Tanto pode ser aliado quanto inimigo, e, freqüentemente, desempenha os dois papéis durante a narrativa. Nesse estudo, associamos o camaleão com a Lua, cujas fases e caráter reativo trazem acontecimentos inesperados ao herói-sol. De maneira complementar, vindo da astrologia para a dramaturgia, a Lua pode representar a mãe do herói.

Duas funções dramáticas, a do arauto e a do pícaro, podem ser atribuídas a Mercúrio. O arauto é aquele que chama para a mudança ou a anuncia. O pícaro, por sua vez, apresenta caráter cômico, expondo o ridículo e a hipocrisia dos outros personagens. Ambas funções bem próximas à imagem comunicativa e pregadora de peças de Mercúrio. Na concretude da narrativa, ele pode se apresentar como mensageiro, ajudante ou irmão do herói.

O guardião do limiar tem por função impedir o acesso do herói a determinados locais, situações ou pessoas. Com freqüência, utiliza-se de força para realizar sua função, por isso o associamos com Marte. Enfrentá-lo constitui um teste de aptidão para o herói, podendo o obstáculo se transformar num impulso. Logo Marte, num mapa astral, pode representar também amantes, amigos ou o mesmo o próprio protagonista do sexo masculino.

A deusa tem por função casar com o herói ou tentá-lo a fazer algo que ele não deveria fazer. Devido ao seu caráter de afetividade e/ou sedução, associamo-la a Vênus. À semelhança de Marte, Vênus também pode representar, no mapa, amantes, amigas ou o próprio protagonista do sexo feminino.

O mentor tem uma função importantíssima na narrativa, provendo o herói de instrumentos, conselhos ou entusiasmo necessário para seguir adiante em sua aventura. Está associado astrologicamente a Júpiter, podendo representar desde mestres mortais até o próprio Deus.

Também dispondo de muito conhecimento necessário ao herói, mas menos benevolente, temos o sombra, uma autoridade que representa as leis do mundo comum ou do mundo extraordinário do herói. Corresponde ao Saturno astrológico, podendo indicar ainda o pai do herói.

Essas são as funções dramáticas básicas, associadas a personagens. Mas uma história normalmente conta com a intervenção de forças e/ou eventos naturais e/ou sobrenaturais, que poderíamos associar aos planetas transpessoais - Urano, Netuno e Plutão - dependendo do caráter dessas forças ou eventos.

Para facilitar a visualização, elaboramos a tabela abaixo com a correspondência entre planetas e funções dramáticas.

PLANETAS PERSONAGENS e FUNÇÕES DRAMÁTICAS
Sol Herói
Protagonista
Lua Camaleão
Mãe
Mercúrio

Arauto
Ajudante
Irmão

Vênus Mulher, companheira, amante
Amiga
Protagonista mulher
Marte Guardião do limiar
Homem, companheiro, amante
Amigo
Protagonista homem
Júpiter Mentor
Deus
Saturno Sombra
Autoridade
Pai
Urano Força ou evento natural ou sobrenatural: terremotos, gênios, revoluções...
Netuno Força ou evento natural ou sobrenatural: enchentes, fadas, ilusões...
Plutão Força ou evento natural ou sobrenatural: erupções, demônios, mortes...

2. Aspectos e estrutura narrativa

As ações dos personagens são organizadas em uma estrutura narrativa que tenta simular no leitor, ouvinte ou espectador a mesma transformação por que passa o herói. Essa estrutura, comum a milhares e milhares de histórias, traça o percurso do herói de seu cotidiano até um mundo extraordinário, conduzindo-o a um novo cotidiano qualitativamente diferente do primeiro.

Podemos associar as fases desse percurso aos aspectos astrológicos, às distâncias angulares entre os planetas. Essas fases, ainda baseando-se em Campbell e Vogler, são as seguintes.

O mundo cotidiano. O primeiro momento de um herói em qualquer história é a apresentação de seu próprio ambiente, quando conhecemos um pouco o herói. Este momento tanto pode ser o início quanto o reinício. O herói possivelmente viveu aventuras anteriores, e talvez esteja descansando enquanto aguarda uma nova aventura. Poderíamos associar essa fase à conjunção. Dois planetas conjuntos indicariam dois personagens que fazem parte do mundo cotidiano um do outro ou que caminharão juntos durante toda a história.

O chamado. Em determinado momento da história, a rotina do herói é interrompida por um anúncio, convite ou convocação. O herói é avisado de que uma nova aventura está prestes a começar. O aspecto a que poderíamos associar esse aviso é o semi-sextil de 30º que, astrodramaturgicamente, diferenciaremos do semi-sextil de 330º. Se o planeta mais rápido estiver se afastando do planeta mais lento, temos uma situação de chamado, ou seja, o personagem representado pelo planeta mais rápido está fazendo um convite, normalmente cumprindo a função dramática de arauto, ao personagem representado pelo planeta mais lento. Enquanto isso, o planeta mais lento atua sobre o planeta mais rápido, de maneira complementar, segundo a lógica astrodramatúrgica do aspecto de 330º, que veremos adiante; e o mesmo valerá para o sextil, a quadratura, o trígono e o quincunce.

O auxílio. O herói não atende imediatamente ao chamado e, freqüentemente, recusa-o. Antes que se decida, ela costuma contar com o auxílio ou orientação de uma pessoa mais experiente, que cumpre a função dramática de mentor. Tal momento está associado ao sextil de 60º, que difere do sextil de 300º. O planeta mais rápido, que se afasta, orienta o planeta mais lento.

A passagem. Vencida a resistência inicial com a ajuda de um companheiro mais experiente, o herói entra no mundo da aventura. Este difere de seu mundo cotidiano tanto estética quanto eticamente. Essa travessia de limiar quase nunca é confortável, e podemos associá-la à quadratura de 90º. O planeta mais rápido, que se afasta, proporciona ao planeta mais lento a entrada em um novo mundo.

O ventre. Passado o trauma da entrada no mundo da aventura, o herói se enche de encanto, afinal tudo é tão novo, tão diferente, em relação ao seu mundo cotidiano que ele se deleita em descobrir as novas possibilidades de ser e de estar no mundo. A esse momento corresponde o trígono de 120º. O planeta mais rápido, afastando-se, está à vontade em relação ao planeta mais lento, flui com ele sem preocupações.

O caminho de provas. Com pouco tempo, o herói percebe que nem tudo são flores. O mundo da aventura tem suas próprias regras que o herói precisa aprender para cumprir sua missão. Associamos esse momento de adaptação ao quincunce de 150º. O planeta mais rápido, em afastamento, faz pequenas correções de rumo no planeta mais lento de modo que este se prepare para o momento seguinte da aventura.

O encontro. Em praticamente toda história, existe um antagonista, aquele que se opõe ao protagonista. Nós não o atribuímos a nenhum planeta específico porque o antagonista pode se apresentar em qualquer um deles, em vários deles e mesmo no próprio herói. Aproximadamente na metade da história, o herói se encontra ou se confronta com aquele que se lhe opõe, e, obviamente, associamos esse momento à oposição (180º). Os dois planetas entram em conflito, ou se complementam, de forma que já não são mais os mesmos, são também o outro a que se opõem.

A tentação. O enfrentamento do seu oponente pode levar o herói a desejar adotar atitudes do adversário, comportamentos que não condizem com seu quadro de valores. São necessários novos ajustes para que o encontro com o antagonista seja incorporado com base naquilo que o herói acredita e não no que o antagonista propõe. Temos o quincunce de 210º. O planeta mais rápido, agora se aproximando, corrige o rumo do planeta mais lento.

A sintonia. Feito esse novo ajuste, o herói consegue perceber o todo. É como se ele olhasse para trás e visse o rastro de sua aventura, compreendendo-lhe o sentido. Ele vê que tudo aconteceu como tinha de ser, que seguiu a corrente certa. Associamos esse momento ao trígono de 240º. O planeta mais rápido, aproximando-se, revela todo o significado da história ao planeta mais lento.

A apoteose. O herói, que até então só era herói para nós, atingiu a consciência de ser herói. A meta foi alcançada, o topo foi atingido. Ela precisa concluir a mudança e deixar o mundo da aventura, tomando o rumo de casa novamente. Esse é o momento da quadratura de 270º. O planeta mais rápido, aproximando-se cada vez mais, finaliza a mudança que veio empreender e tenta passar, ou é forçado a retornar, ao mundo de que veio.

A bênção. Com o olhar voltado para a direção de casa, o herói antevê o começo de um novo ciclo, antecipa mentalmente o seu novo mundo cotidiano e o anuncia. É o sextil de 300º. O planeta mais rápido, cada vez mais próximo, oferece um vislumbre de futuro ao planeta mais lento.

A fuga ou resgate. Antes de retornar, entretanto, o herói tem que bater o pó das chinelas, tem que descartar aquilo que lhe foi útil durante a aventura, mas que não terá mais serventia em seu mundo cotidiano renovado. Ou então deve resgatar algo que é de suma importância para o seu novo ciclo. Esse momento está associado ao semi-sextil de 330º. O planeta mais rápido, a um passo do planeta mais lento, pede que ele se despoje de tudo que é supérfluo e que ele não se esqueça de levar o principal.

E o ciclo se fecha. E tudo está pronto para começar novamente.

Resumo da estrutura narrativa e o mapa de Cinderela



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