|
Novidades em mapas do Brasil
Um link direto para os vinte mapas mais recentes
Em breve: uma nova versão de Mapas do Brasil.
|
|

Início
do artigo | Parte 2
O jogo da vítima
Existe outra parte de nós que recebe os julgamentos,
e essa parte chama-se: a Vítima. A Vítima carrega a culpa,
a responsabilidade e a vergonha. É a parte de nós que diz:
"Sim, você não é bom o suficiente". E tudo
isso é baseado num sistema de crenças que não chegamos
a escolher. Essas crenças são tão fortes que, mesmo
anos mais tarde, depois que fomos expostos a novos conceitos e tentamos
tomar nossas próprias decisões, descobrimos que essas crenças
ainda controlam nossas vidas.
O movimento da vida, seja no Sonho ou fora dele, é
sempre um fluir e refluir, a vida vem em ondas como o mar, como diz a
canção. Tudo é energia, tudo flui através
de ondas, e isto é um fenômeno comprovado fisicamente.
Neste vai-vem, o julgamento e sua contrapartida também
estão submetidos ao fenômeno ondulatório. O julgamento
é o mundo se oferecendo para a gente e, filtrado por nossos canais
distorcidos e modulados pelo Sonho, provoca uma resposta à altura,
que é a conduta de vítima.
Ser vítima é uma reação e uma
conseqüência da expectativa inadequada, ou melhor, adequada
apenas ao Sonho, e não ao nosso instinto e nossa natureza essencial.
O jogo da vítima é absolutamente institucionalizado
e aceito dentro do plano do Sonho. É incômodo, é verdade,
mas nossa maneira de construir uma realidade sustentada por julgamentos
implica a reação inevitável de sermos vitimados por
estes mesmos julgamentos que fazemos todo o tempo.
A
Vítima, óleo sobre tela do pintor William Ranney (1813-1857).
Ranney, que faleceu com apenas 44 anos, sofria de tuberculose, doença
ainda sem cura no século XIX. Provavelmente este quadro, que mostra
três lobos atacando um boi, seja uma metáfora da luta mantida
pelo artista contra a doença mortal.
Os planetas no horóscopo cumprem a dupla função
de julgar e de ser vítima, que é a mesma coisa que ser julgado
como conseqüência dos nossos julgamentos.
Júpiter, por exemplo, julga moralmente, e depois
se torna vítima moral do julgamento que faz, como forma de justificar-se
e suportá-lo. Saturno julga o peso, a medida e a conveniência
das coisas todas, e torna-se vítima do medo de sair da medida,
perder os limites, perder a estrutura. Marte julga a energia investida,
por si mesmo e pelos outros, julga a sexualidade e o vigor das coisas
- em vez de vivê-las como lhe compete - sempre com base em regras
que nem sempre correspondem ao tônus e à natureza da pessoa;
depois se torna vítima de seu desejo, vítima de seu gesto,
que isto faz parte do script de manutenção do Sonho. Mercúrio
vive do julgamento que cada palavra de seu discurso, cada movimento de
sua compreensão produz; e é vítima da incompreensão
que isto provoca, é vítima de eternos mal entendidos, ou
pior, vítima da interpretação inadequada do que é
real e do que é imposto a nós pelo Sonho. Vênus, o
senhor do desejo, julga acompanhando os critérios impostos pelo
Livro da Lei, em vez de simplesmente desejar com o coração;
torna-se uma vítima contumaz de suas escolhas inadequadas e de
seus desejos sem coração.
Toda expressão destes planetas é acompanhada de culpa e
sentimento de inadequação, por não estarmos acompanhando
o desejo de nosso íntimo, por estarmos submetendo a expressão
destes símbolos planetários a um modelo que muitas vezes
não corresponde à nossa real necessidade. Esta culpa, para
ser aliviada, precisa de que assumamos a postura de vítima, para
não sermos responsabilizados pelo destino, ou sei lá por
quem, por não termos respeitado nossa verdadeira natureza, por
termos adotados critérios e regras que precisavam de julgamento,
em vez de serem espontâneos e naturais, principalmente para amar.
Quem ama sem julgamento? Quem não conhece a condição
de ser vítima do amor? Vítima das escolhas amorosas que
foram produto de julgarmos entre o certo e o errado, entre o bom e o ruim,
com base em critérios que são culturais, em vez de obedecermos
nosso coração.
O que quer que vá contra o Livro da Lei irá
fazer você experimentar uma sensação estranha no plexo
solar, que é chamada medo. Quebrar as regras do Livro da Lei abre
seus ferimentos emocionais, e sua reação cria veneno emocional.
Porque tudo que está no Livro da Lei tem de ser verdade, qualquer
coisa que desafie aquilo em que você acredita irá produzir
uma sensação de insegurança. Mesmo que o Livro da
Lei esteja errado, ele faz com que você se sinta seguro.
Quebrar as regras é muito difícil. Sempre
temos a sensação de que temos algo muito precioso a perder,
fomos convencidos disto desde a infância. Mas nunca sabemos o que
é este algo que podemos perder. O que será?
Bem, entre outras coisas, perdemos a sensação
de "pertencer", esquecemos que pertencemos naturalmente ao mesmo
plano, à mesma espécie, ao mesmo planeta, ao mesmo organismo
cósmico, e vivemos a ameaça de, por qualquer transgressão
ao Livro da Lei, sermos excluídos da tribo, e este medo constante
nos assombra.
Sermos excluídos da espécie ou deixarmos de
fazer parte do gênero humano é uma impossibilidade natural,
mas isto não nos avisaram. Acabamos convencidos pelo contexto dos
sonhadores que "pertencer" é poder prestar contas continuamente
do que somos, de quem somos, do que estamos fazendo, do que fizemos. Somos
na verdade uma biografia ambulante, uma descrição de nós
mesmos e do que esperam de nós, e é comum esquecermos quem
somos na verdade e nos confundirmos com a descrição de nós
mesmos - a que fazemos e a que os outros fazem.
Talvez nos primórdios da humanidade, ou em pessoas
que sobrevivem em condições muito precárias e selvagens,
a presença da tribo realmente representasse proteção,
mas, curiosamente, entre estas pessoas a ausência de medo e a auto-suficiência
é notavelmente maior que entre os homens civilizados.
A idéia de que "não nos bastamos"
muda completamente o código de leitura do horóscopo. Toda
interpretação passa a ser feita em função
da pressão, das cobranças do contexto onde a pessoa vive.
Toda interpretação dos símbolos astrológicos
passa a ser uma descrição das expectativas que a sociedade
tem do indivíduo, e se ele está correspondendo ou não
a elas, se está sendo feliz por sentir-se aceito na tribo, ter
algum grau de importância na tribo, ter status por ser o que esperam
dele. Bem, talvez isto seja o certo, não é? Quem sabe?
Os vínculos pessoais e sociais em geral, que poderiam
corresponder a uma troca amorosa, a uma complementação energética
e afetiva, acabam funcionando como desafios e questionamentos desnecessários;
funcionam como exercedores de pressão, como se cada pessoa fosse
uma "quadratura" que nos mantém eternamente vigilantes
e atentos às ameaças do julgamento do "outro",
e sempre preparados para assumir o papel de vítima, completando
a trama das relações de dependência.

Quando ousamos sermos nós mesmos, seguir nosso instinto
ou coração, a reação que surge não
é apenas a angústia existencial: realmente abrem-se as feridas
de nossa desconexão com a essência, e temos que nos intoxicar
de ilusões, ou de comportamentos típicos de vítima,
para suportarmos a dor desta ruptura com a gente mesmo. Como Vítimas,
fica mais fácil, a coisa se justifica, redime-se de certa forma.
Outros textos de Valdenir
Benedetti.
Comente
este artigo |Leia comentários de outros leitores
|