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do artigo | Parte 3
O outro e a separatividade
O Sonho do Planeta se mantém mecanicamente através
da projeção de nossas expectativas, e daí que, astrologicamente,
a casa oposta a qualquer questão, a casa onde se projetam
as expectativas, onde está a sombra de uma determinada casa
qualquer, passa a ser prevalente na realização do horóscopo
da pessoa.
Um bom exemplo é a intensidade com que nos projetamos,
focalizamos nossas expectativas na casa VII, a casa do outro. Na
verdade, do "outro que está em nós", mas que,
no Sonho do Planeta, que precisa da separatividade para subsistir,
é um "outro" que está sempre fora de nós,
e com o qual temos que nos preocupar, e para o qual temos que sempre dar
conta de nossos atos e tudo mais, isto desde a infância, desde a
infantil necessidade (cobrada e condicionada) de dar conta de cada mínimo
movimento ou sorriso ou lágrima a nossos pais e formadores. Isto
apenas continua re-criando a ilusão de que a casa VII representa
algo ou alguém que está fora de nós, está
separado de nós, e precisa ser seduzido e conquistado e mantido
para que nos sintamos um pouco inteiros. Na verdade, se fossemos por um
segundo inteiros e plenos, nos rebelaríamos e acordaríamos
deste eterno Sonhar.
Ah, e não precisaríamos do outro como
nos é proposto pelo Sonho do Planeta, pois o outro está
dentro de nós mesmos, e só percebemos e reconhecemos nele
o que está dentro de nós. Se estamos vivendo na dimensão
de um sonho, o outro torna-se uma ilusão que, com a primeira brisa
da consciência, o primeiro vislumbre de nossa verdade interior,
se desfaz...
E aí a casa VII passa a ser uma imensa fonte de problemas,
talvez a mais significativa deste planeta, pois, nas condições
impostas pelo Sonho do Planeta, o "outro" é sempre a
referência da minha realidade, ou melhor, da minha ilusão
de que existo.
Quem
de nós quer transgredir esta regra? Quem de nós ousaria
dizer que não precisamos do outro para não sofrermos
de uma imensa solidão? Quem de nós se atreve a atribuir
um outro significado à casa VII, que não seja uma mera projeção
de nossa profunda carência (por sermos apenas parte de nossa verdadeira
essência, de nossa plenitude natural)?
Não é incômodo? Eu me sinto incomodado
pensando isto. Que posso não precisar da pessoa que amo, que posso
apenas compartilhar com ela minha plenitude natural, que infelizmente
não me é permitida neste plano da existência por não
ser conveniente às regras de manutenção e controle
do Sonho do Planeta.
Vamos portanto continuar descrevendo e analisando a casa
VII (e todas as outras casas, evidentemente) como algo que temos que conquistar
FORA de nós mesmos, como algo que pode ser descrito como uma experiência
a ser vivida, e não como algo que já existe em nós,
bastando ser acessada pela consciência.
A Astrologia do Bem e do Mal
Para ensinar um cachorro precisamos punir e dar recompensas
a ele. Treinamos nossos filhos, aos quais amamos tanto, da mesma forma
que treinamos qualquer animal doméstico: com um sistema de castigos
e recompensas. Dizem-nos: "Você é um bom menino"
ou "Você é uma boa menina" quando fazemos o que
mamãe e papai querem que a gente faça. Quando isso não
acontece, somos "meninos maus" ou "meninas más".
Para a Astrologia que praticamos dentro desta dimensão
ilusória, ser bom ou mau é essencial. Daí
que temos também "bons e maus aspectos", piores ou melhores
configurações. Tanto na vida quanto na análise da
vida, através do horóscopo ou do que for, usamos os mesmos
modelos. Esta expressão dos modelos externos e sociais na metodologia
particular da Astrologia tem a função de nos manter divididos
e confusos, submersos na ilusão, atrelados ao Sonho do Planeta.
Na
Natureza, se observarmos criticamente, as coisas são o que são,
e os atributos de bondade ou maldade que observamos nas
relações entre os animais e as plantas é um problema
de nossa mente, de nossa expectativa de como as coisas deveriam ser, do
que é certo ou errado. Daí que nos chocamos quando um animal
simplesmente devora outro, quando uma aranha se alimenta do macho após
o acasalamento, quando uma orquídea suga a seiva da árvore
que a hospeda até extingui-la, quando um corpo morre após
cumprir sua função natural, que certamente é imensa,
muito maior que nossos desejos, medos, leis e tudo mais que a psique descreve
e espera da vida. [Ilustração: imagem
da cultura tolteca, período pré-colombiano.]
Enquanto isso, projetamos neste contexto biológico
que não tem definições de "bem e mal",
nossos conceitos pessoais, adquiridos exatamente no processo de domesticação
da psique.
É conseqüente que, na decodificação
dos símbolos astrológicos, utilizemos estas referências
condicionadas. É decorrente destes conceitos sustentados pela separatividade
que, na tradução humana dos significados das configurações
astrológicas, atribuamos aos símbolos conteúdos sustentados
pelos conceitos de bem e mal, e, com este procedimento e
uso da linguagem, vamos sustentando e sedimentando cada vez mais o sentimento
de que somos seres separados uns dos outros e da natureza.
Nas oportunidades em que fomos contra as regras, nos
puniram; quando agimos de acordo com elas, ganhamos uma recompensa. (...)
A recompensa é a atenção que conseguimos de nossos
pais, ou de outras pessoas como irmãos, professores e amigos. Logo
desenvolvemos necessidade de captar atenção de outras pessoas
para conseguir a recompensa.
| A casa II corresponde ao universo
dos valores pessoais, mantidos por um mecanismo de punição
e recompensa. Isso nos deixa constantemente inseguros e ameaçados. |
Este é o mecanismo que o Sonho do Planeta adota para
nos forçar a construir critérios de Valor e de Realidade.
A casa II do horóscopo corresponde ao universo dos valores pessoais,
e, neste plano do Sonho, os valores são elaborados e mantidos por
um mecanismo de punição e recompensa. Isto nos deixa constantemente
inseguros e ameaçados, além de incapazes de perceber que
já temos dentro de nós todos os valores de que precisamos.
Mas é do mecanismo mantenedor do Sonho do Planeta
que projetemos e busquemos a referência de nossos valores fora de
nós, pois nos sentimos separados do outro e, por isso, o
outro tem de reconhecer e endossar meu Valor, pois sem isto eu
não tenho como ter consciência de mim mesmo.
A conseqüência é que vivemos inseguros,
tabulamos um estado permanente de fragilidade e dependência do julgamento
e do critério dos outros para que tenhamos algum valor. Tal fragilidade
é necessária à manutenção do Sonho
do Planeta, pois uma pessoa que tenha conhecimento de seu valor pessoal
e, conseqüentemente, que tenha convicção e aja com
base nesta convicção, pode libertar-se do Sonho, e isto
não convém...
A casa II passa a ser projetada na casa VIII, a dos valores
do outro, a II da VII, já que a VII é o outro separado
de nós. Só assim este mecanismo de recompensa pode funcionar.
Com medo de ser punidos e medo de não ganhar
a recompensa, começamos a fingir ser o que não somos apenas
para agradar aos outros, só para ser suficientemente bons para
outras pessoas. Tentamos agradar a mamãe e papai, tentamos agradar
aos professores na escola, tentamos agradar na igreja, e com isto começamos
a representar. Fingimos ser o que não somos porque temos medo de
ser rejeitados. O medo de sermos rejeitados torna-se o medo de não
sermos suficientemente bons.

A rica cultura mexicana, que contextualiza a obra de
Don Miguel Ruiz,
preserva valores tradicionais ausentes de outras culturas mais racionalistas.
Um destes valores é a morte como festa, presente nas comemorações
do Dia dos Mortos, que no México assume contornos únicos.
O mecanismo de elaboração dos valores pessoais
(casa II) através da recompensa e da punição é
mais que uma relação meramente material. Tende a ser física,
mas não necessariamente financeira. Afeto, compreensão e
reconhecimento são também valores que adquirimos muitas
vezes como recompensa por nosso "bom comportamento". Lembremos
que os critérios da casa II passam a ser definidos pelo que a casa
VIII nos apresenta, ou seja, nossos valores são delimitados pelos
valores que re-conhecemos no outro e pelo que podemos obter
dele, e com isto, negamos a capacidade de conquistar valores a partir
de nosso íntimo, de nossa essência.
Podemos considerar também o fato de a casa II ser
a V da X, a quinta casa a partir do Meio do Céu. Neste caso ela,
a casa II, representaria a "cristalização", a
materialização, a formatação dos princípios
que regem nossa presença no mundo social, nosso status,
e a expectativa que os outros tem de nós, tudo isto representado
pela casa X.
A casa X se "fixa", condensa-se, toma forma, materializa-se
através da casa II. E como estamos falando de uma condição
que vem de fora, que vem do mundo, nossos valores passam a ser
a expressão e a sedimentação de todo um modelo, de
uma série de códigos e regras estabelecidas para que sejamos
coniventes com o Sonho do Planeta.
Valores
pessoais e a questão do apego
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