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O xamã mexicano Don Miguel Ruiz faz uma crítica
feroz aos condicionamentos da vida moderna, que conformam o indivíduo
a uma ideologia alienante e anestésica: é o "Sonho
do Planeta", que anula o livre arbítrio e a lucidez da consciência.
Com base em Don Miguel, Valdenir Benedetti analisa a questão das
crenças, dos julgamentos, do medo e da vitimização.
Júpiter e a mutabilidade gasosa
O sistema de crenças é como o Livro da Lei
que regula nossa mente. Sem questionar, o que estiver escrito no Livro
da Lei é nossa verdade. Baseamos todos os nossos julgamentos segundo
o Livro da Lei, mesmo que esses julgamentos e opiniões venham contra
nossa própria natureza. Mesmo leis morais como os Dez Mandamentos
são programadas em nossas mentes no processo de domesticação.
Um a um, todos esses compromissos passam a constar no Livro da Lei, e
esses compromissos regem nosso sonho.
O
planeta Júpiter e a questão que o envolve - casa IX, Sagitário
- representam a elaboração das Leis de um modo geral. Representam
nossa aceitação às Leis, nossa identificação
com as Leis, sejam as do Livro da Lei que regula o nosso Sonho coletivo,
sejam as Leis da Natureza.
A casa IX do horóscopo simboliza, por ser a terceira
casa de Fogo, o Fogo Mutável, e como é próprio do
modo Mutável, representa uma passagem, um momento de compreensão
na dinâmica dos signos. Enfim, esta casa é o aspecto mais
sublime de nossa identidade, simbolizada pelo Fogo, é o momento
em que transcendemos nosso modelo normal e conhecido e experimentamos
uma passagem dimensional para outro plano do elemento, da vida, no caso,
conquistamos uma nova Identidade. Por isso, a casa IX simboliza o futuro
da nossa identidade, aquilo que queremos ser além de nós
mesmos, aquilo que gostaríamos de "ser quando crescermos".
O modo Mutável é, fazendo uma analogia com os estados da
matéria, equivalente ao gasoso, enquanto o Fixo corresponde ao
estado sólido e o cardinal ao líquido. Este "gasoso"
do mutável, seja de Sagitário, Peixes, Virgem ou Gêmeos,
pode significar um meio adequado para a propagação do som,
ou das idéias, mas pode representar uma neblina, uma névoa
que distorce as imagens e impede que a gente veja a real realidade.
Ir além de mim mesmo, como indica o Fogo Mutável
de Sagitário e é a função da nona casa, implica
ter acesso às Leis Naturais que permitem isto. Implica estabelecer
uma relação mais profunda com a Totalidade, e por isso o
mecanismo de compreensão das Leis que regulamentam todos os movimentos
da Natureza.
A redução deste processo evolutivo natural
aos mínimos denominadores comuns estabelecidos pelo Sonho do Planeta
faz com que identifiquemos apenas as Leis contidas no Livro da Lei que
regulamenta o sonho, e com isto percamos nossa possibilidade de nos vincularmos
às Leis Maiores, à Lei da Natureza, a Lei que está
contida em nossa essência e em nossa condição de Ser
Natural.
Neste caso, em função do compromisso com o
Sonho do Planeta, e com nosso Sonho Pessoal, - que foi elaborado a partir
de nosso filtro pessoal (identificável pelo horóscopo),
mas cujos parâmetros foram fornecidos pelo Sonho coletivo - a perspectiva
de sermos mais do que somos, de evoluirmos para outro plano da existência,
para projetarmos e criarmos a expectativa de uma nova e cada vez mais
requintada identidade, torna-se limitada, ou melhor, atrelada a este Sonho.
E, como podemos observar, a proposta do Sonho do Planeta, de um modo geral,
é de acumular, ter cada vez mais, possuir, estabilizar, conservar.
Tudo bem, não é uma má proposta, afinal, estamos
encarnados e somos por enquanto seres físicos, profundamente vinculados
e dependentes de uma realidade material. Mas o problema é que é
só isto, paramos nisto, nos bastamos com isto.
O peso do compromisso com a realidade material se transforma
em um lastro, em um limite difícil de ser superado. Nosso desejo
de ser "mais", de evoluir, de nos tornarmos mais plenos, está
sempre circunscrito pela necessidade de estabilidade e conforto, o que
cria um conflito entre a possibilidade de transformação
e a necessidade de conservação. E o sonho nos impõe
a conservação. Esta é a idéia de "normalidade"
que nos é imposta, a idéia de "mundo perfeito"
e de felicidade que aprendemos desde a infncia.
Fica difícil saber para onde ir, além destes
referenciais materiais e comportamentais. Fica difícil imaginar
que poderíamos ser algo mais do que somos, sem abrir mão
do conforto material e da segurança.
Tanto a questão II quanto a questão IX (quando
as outras casas todas do horóscopo) tornam-se um peso, algo que
nos puxa para a estagnação, em vez de serem referências
para a transformação e evolução.
É tão forte o peso do Sonho do Planeta que,
escrevendo estas linhas, fico imaginando que não sei o que mais
poderiam significar estas casas, que experiências elas poderiam
representar além de eu ser uma "pessoa mais importante e com
mais dinheiro e estabilidade", e também imagino que não
tem sentido não lutar por isso apenas, e que conquistar isto (segurança,
estabilidade etc.) é o caminho e a base para a evolução.
Fui convencido e meus olhos não conseguem atravessar a névoa
e ver algo além. Sinto que existe, mas ainda não reconheço
em mim mesmo a capacidade de Ver além.
Como diz o Osho, "...um tomate não pode analisar
outro tomate, ele precisa ser mais que um tomate para isto...", e,
em termos de olhar a dimensão da nossa existência dentro
do estado do Sonho, somos tomates tentando se entender. Por isso a mesmice
e a repetição dos conceitos astrológicos; por isso
nossa resistência em aceitar que a Astrologia poderia ser diferente
do que é. É a mesma resistência em aceitar que nós
poderíamos ser diferentes do que somos.
Existe
algo em nossa mente que julga a tudo e a todos, incluindo o tempo, o cão,
o gato... tudo. O Juiz interno usa o que está escrito no Livro
da Lei para julgar o que fazemos e o que não fazemos, o que pensamos
e o que deixamos de pensar, mais tudo o que sentimos e deixamos de sentir.
Tudo vive sob a tirania deste Juiz. Todas as vezes que fazemos alguma
coisa que vai contra o Livro da Lei, o Juiz diz que somos culpados, que
precisamos ser punidos e que deveríamos nos envergonhar. Isso acontece
muitas vezes por dia, dia após dia, ao longo de todos os anos em
que vivermos.
Este algo que existe dentro de nós e que julga é,
na verdade, o significado reduzido, distorcido e adaptado pelo Sonho do
Planeta para a expressão autorizada de cada símbolo planetário
em nosso horóscopo pessoal. Cada expectativa representada por um
planeta conduz a um julgamento, pois construímos a realidade a
partir desta expectativa, e quando não conseguimos elaborar uma
realidade adequada e satisfatória à nossa expectativa, tentamos
estabelecer outros critérios para mudar esta realidade, e o mecanismo
disso é o julgamento.
Como o julgamento é baseado no Livro da Lei, o significado
possível de cada planeta é potencializado pelos códigos
e regras contidos neste livro. É isto que passamos a achar certo,
é este o significado - o do Livro da Lei - que atribuímos
aos planetas no mapa astrológico.
Daí que Vênus passa a corresponder simplesmente
aos critérios universais de relacionamento, mas este desejo e estes
critérios de relação estão de acordo com o
Livro da Lei, são aceitáveis dentro do grande Sonho do Planeta,
não representam nenhuma liberdade, nenhuma transgressão.
Apenas adaptação aos padrões comuns e aceitáveis
pela Ilusão Coletiva de certo e errado.
Evidentemente que Vênus utilizado de acordo com a
Lei do grande Sonho Coletivo, não representa necessariamente infelicidade
ou desequilíbrio. É necessário sabermos caminhar
também neste sonho, pois é nele que nascemos. Mas, olhando
em volta de nós, olhando em nossas próprias vidas, percebemos
com clareza a quantidade de experiências que deixamos de viver,
a intensidade do sofrimento amoroso que as pessoas encontram, a dificuldade
que existe para se fazer uma escolha saudável e viver uma relação
harmoniosa e plena. Por que será?
Bem, imaginamos que, para o Sonho do Planeta, para que Ele
se mantenha, não seria conveniente que as pessoas experimentassem
a plenitude do relacionamento consciente, isento de culpa e de competição
e conflitos inúteis, pois assim todos descobririam que estamos
juntos, que podemos trocar, compartilhar e confiar uns nos outros, e isto
seria extremamente perigoso e revolucionário para a manutenção
do Sonho, pois eliminaria nossa maior fragilidade.
Isto foi apenas um exemplo de como a necessidade de julgar
tudo segundo os critérios do Livro da Lei, o manual de regras do
Sonho do Planeta, distorce e nos faz viver distantes de nós mesmos,
alheios à nossa plenitude e aos seres divinos que somos.
Pensemos em outro exemplo: Saturno. Este aí, uma
das molas mestras da manutenção das leis que nos atrelam
ao grande Sonho. O julgamento que Saturno faz da realidade é sempre
baseado no medo, na fragilidade de nossa estrutura, exatamente porque
no Livro da Lei consta que nascemos frágeis (educadores, parentes
etc., insistem obsessivamente em mostrar nossa fraqueza, e que, se não
formos obedientes à Lei, seremos punidos), consta que o Medo é
uma das referências para definirmos e julgarmos a realidade.
Será que Saturno em outra dimensão de compreensão
é apenas medo? É apenas necessidade de segurança?
É apenas rigidez? Ou estes critérios, que funcionam como
lentes para que vejamos o mundo apenas de acordo com eles, apenas se prestam
para que nos mantenhamos atrelados ao Sonho do Planeta e suas decorrências?
O jogo
da vítima
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