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UMA COMPREENSÃO ASTROLÓGICA DA CRISE DA AMÉRICA
"With Love, WTC"

João Acuio
Início | Parte 4

Cerveja com rosquinhas

Outra evidência da despontencialização do homem na sociedade americana está no último fenômeno da televisão americana nos anos 90: A Família Simpson. [De Tarzan a Homer Simpson - banalização e violência masculina em sociedades contemporâneas ocidentais, de Sócrates Nolasco, Ed. Rocco.]

Os Simpsons é um desenho que se tornou popular no mundo todo ao falar da vida da família tipicamente americana. Springfield é o nome da cidade na qual vive a família Simpson. Coincidência ou não, Springfield é também o nome da cidade que viu um de seus garotos armado de rifle matar colegas de classe, após assassinar seus pais.

O chefe de família é Homer J. Simpson, um americano típico: branco, protestante, barrigudo, heterossexual, pai dedicado e marido carinhoso. Segundo Sócrates Nolasco, "ser um pai dedicado e um marido carinhoso são características desejadas para o 'novo homem'. O que este personagem aponta é que estas emergem de um sujeito fracassado". Homer é inspetor de segurança em uma usina nuclear. Apesar da seriedade da função, é um bebedor compulsivo de cerveja e amante de rosquinhas, que o fazem distrair-se de suas atividades. Homer é caracterizado como preguiçoso e incompetente.

O dono da usina é Charles Burns, um ser desprezível, egoísta, frágil, desonesto e dono de uma fortuna incalculável. Tem ao seu lado um fiel ajudante gay que o ama.

O pai de Homer se chama Abraham Simpson. Foi abandonado pela esposa e por isso criou seu filho com muita dificuldade. Tem uma vida desregrada e vive abandonado num asilo.

Barney Gumble é o melhor amigo de Homer. Basicamente, o que se sabe dele é que é norueguês e alcóolatra.

Quanto aos vizinhos, há o Ned Flanders, um fanático religioso, e Ruth Power, uma mulher divorciada e desimpedida.

Há ainda outro homem adulto: o judeu polonês Krusty, o palhaço. Krusty é um jogador nato, analfabeto e mau-cárater. É o ídolo de Bart Simpson, filho de Homer.

Bart é um pequeno terrorista que adora passar trotes e pichar muros. É um sociopata mirim. Um eterno adolescente. Não gosta de estudar e sempre vai mal na escola. Foi eleito pela revista Times, em 1999, como o personagem que mais influencia o comportamento dos americanos, derrubando os scores de Mickey e Cia.

Até a Liberdade, um dos ideais máximos da sociedade americana, é representada, assim como a Justiça, sob roupagem feminina.

Os homems são esses. As mulheres são melhores.

Lisa é a segunda filha do casal. É uma garota prodígio, está na segunda série e é tida como a mais inteligente, culta e bem informada da família. Resolve conflitos políticos e sociais. Além de ser uma grande saxofonista. Sempre está pronta para ajudar Bart. Ganhou o prêmio principal da 11ª edição dos Environmental Media Awards (2001) por seu comprometimento com as causas ecológicas e a proteção dos animais.

Marge, a mãe, é uma dona de casa dedicada. É considerada o ponto de equilíbrio da família. Sempre com opiniões politicamente corretas e pacificadoras. É ela quem resolve problemas que vão desde consertar a porta da garagem até denunciar seu chefe por assédio sexual.

O que podemos concluir, portanto, é que os personagens masculinos dos Simpsons são o verdadeiro tacho da sociedade americana, enquanto os femininos podem ser considerados politicamente corretos, já que estão alinhados com as tendências sociais e políticas da atualidade. [De Tarzan a Homer Simpson, p.55.]

Nolasco acrescenta: "A representação social masculina nas sociedades contemporâneas tem ficado restrita à caracterização de um fracassado, Homer sendo um exemplo disto. (...) interpreto tal restrição como expressão de uma das formas de violência deste tipo de sociedade. O loser é um sujeito que perdeu sua forma pessoal e portanto se mostra incapaz de decodificar, compreender e agir em contextos complexos; ele é um anti-herói sem vigor, vitalidade ou força. É um anti-herói porque não é um winner e desta maneira, para os padrões deste tipo de cultura, é alguém que precisa ser eliminado".

Tratar o homem como um loser é uma espécie de assassinato, mesmo que simbólico. "A violência, então, surge como uma possibilidade de sentido para a vida do sujeito, na medida em que é necessário fazer-se presente para realizá-la, convocando sua história pessoal como sendo uma profissão de fé e por meio dela restituindo a si mesmo força e vigor". [De Tarzan a Homer Simpson, de Sócrates Nolasco, p. 55.]

Parte da sociedade americana entendeu essa encruzilhada. Alguns trataram de se defender, indo às vias de fato, ao utilizar da arma de seus pais, exterminando quem os coloca nessa condição de Homer. A última tragédia em escola americana envolvia um rapaz que era humilhado diariamente por seus colegas. Talvez por usar óculos ou por se interessar mais por literatura do que por basquete. Outra parte se utilizou do cinema para refletir sobre essa condição. Defesa simbólica.

Em cartaz, os instintos norte-americanos


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