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UMA COMPREENSÃO ASTROLÓGICA DA CRISE DA AMÉRICA
"With Love, WTC"
João Acuio

Entre correlações astrológicas e incursões pela cultura de massa, o autor mobiliza a família de Homer Simpson, Batman, os personagens do filme O Clube da Luta, Superman e as cartas do tarô para chegar ao cerne da doença social que ameaça colocar por terra a arrogância norte-americana.

Ninguém regula a América. Este é o título da música lançada em clip na MTV tupiniquim pelas bandas Sepultura e O Rappa exatamente quando Saturno se opôs a Plutão, isto é, um mês antes do atentado terrorista mais cinematográfico da história da Humanidade.

À medida que a TV, naquela manhã de 11 de setembro, transmitia ao vivo e a cores a destruição das torres gêmeas de Nova Iorque, eu me lembrava da letra dessa música [leia mais abaixo] que versa sobre a arrogância americana e sobre o sentimento de impotência do mundo diante da impossibilidade de parar essa máquina que dita regras a todos, pobres ou ricos, devido ao seu esmagador poder econômico.

Verdadeira música de impotência furiosa gestando raiva frente ao fato de que realmente ninguém regula a América. Ao menos até aquele momento.

Antes de continuar, quero deixar claro que não sou antiamericano. Muito menos fanático por Tio Sam. Portanto, o que escrevo aqui são apenas considerações. Reflexões sobre o sentido do destino do mundo. Pretensões.

Nos escombros, o fim do tédio

As pessoas ficaram eufóricas. Sonhos e premonições faziam sentido. Nostradamus era devorado e suas palavras começaram a rodar freneticamente nas gráficas. Listas de astrologia se alvoroçaram. Textos foram escritos a toque de caixa e o seqüestro da filha do Silvio Santos, dias antes, já parecia enlatado americano perto daquele acontecimento. A vida ganhara novo ânimo.

Os acontecimentos de 11 de setembro marcam o fim de um longo tédio histórico. Também pudera, nem todo dia caem torres redundantemente fálicas ou muros de Berlim. Parece ser este o poder do encontro entre Saturno e Plutão, quer seja em conjunção, quadratura ou oposição: destruição da velha ordem a favor do futuro a ser criado, a favor do inesperado e, com isso, o fim da monotonia jornalnacional.

Ninguém regula a América/ Ninguém regula a América/ Satélites de cima vigiando todos os atos de rebeldia/ MST observado pela CIA/ Um avião cara de pau preso na China/ Painel de controle, cidades sem culpa/ Na sensação do protocolo de Kioto/ Carbonizado em plena chuva de armas exportadas sangrando no dólar / O dólar dos outros/ Coagulado e globalizado nas veias abertas/ De outra dívida externa/ Forçando a porta da Colômbia com uma hipocrisia que vicia/ O intelecto de Brasília e outras capitais estreladas deixando a bandeira de fardas / Que segue na arrogância, independente de quem for o W. Bush de plantão/ Limite que engatilha um novo míssil sobre o céu de Wall Street/ Arriscando a todos com o medo de perder mais uma guerra/ Com medo sempre de perder mais outra guerra/ Ninguém regula a América/ Ninguém regula a América. (letra: Yuka/ música: O Rappa) A caricatura de Bush é de Carlos Hollanda.

Ola anti-USA

Dias depois, o mundo presenciou algo que surpreendeu a todos: a onda anti-USA.

Numa espécie de ola revoltosa, do México ao Irã, do Paquistão aos Estados Unidos (!), vimos bandeiras azul-vermelhas sendo rasgadas, bonecos-bush sendo espancados, ou em forma mais branda, o pedido de reavaliação de políticas externas do país que comanda este processo ao mundo livre s/a.

Acredito que, de certa forma, as pessoas guardam simpatia a quem ousa desafiar o poder. Parece que cada um de nós nutre o desejo de ser David derrubando o gigante Golias. Estilingue levando à lona um império. Maguila nocauteando Mike Tyson.

Todo mundo tem um lado Osama Bin Laden, e não há nada de novo neste velho desejo humano de transcender os limites. Em linguagem astrológica, essa vontade se traduz na tentativa de ir além da órbita de Saturno, o mais distante planeta visível a olho nu. Talvez seja por isso que tenham grudado em Saturno os significados de limite, castração, culpa, dor, karma etc, sendo prometido, a quem tentar ultrapassar seus limites, o castigo mais que merecido.

No imaginário greco-romano, ousar ser deus acabava em sede eterna, fome insaciável ou trabalho sem sentido.

Na astrologia medieval, Saturno - o Grande Maléfico - era o senhor dos infortúnios, das doenças e da morte. Acredito que na origem estava o fato de que essas experiências nos lembram que a finitude existe. É o limite marcando a carne.

Em outras palavras, o tempo nos lembra que no fim somos todos feitos do mesmo pó de estrela. Aliás, a caveira da morte da carta de tarô - perambulando na noite com sua foice - sugere Saturno, o Senhor Ampulheta.

Mas podemos perguntar: não é legítimo ir além de Saturno e ver o que está além do muro?

É aí que reside a ironia de Saturno: somente quando encarnamos, admitimos os limites e o medo, é que podemos ir além do conhecido. É quando o muro vira ponte para o mundo de Urano, Netuno, Plutão. Ou além.

Saturno ensina que alma, a gente ganha com o tempo.

Projeção cósmica: EUA na cartomante


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