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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 173 :: Novembro/2012

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PERFIL ASTROLÓGICO

Heleno, antagonista de si mesmo

Vanessa Tuleski

Heleno de FreitasGarrincha, ídolo do Botafogo, morreu pobre, mas foi inscrito na História, ultrapassando as próprias fronteiras do Brasil. Heleno de Freitas, que brilhou no mesmo clube cerca de uma década antes, foi uma celebridade no seu tempo, e é um nome respeitado dentro do universo futebolístico, mas quem está distante deste circuito talvez não saberia da sua existência se não fosse pelo filme “Heleno”, protagonizado por Rodrigo Santoro. E ironia das ironias: o jogador fez de tudo para ser um grande craque (e foi) e deixar seu nome para a posteridade, mas foi como se tivesse perdido um último pênalti. Resta saber o porquê.

“... Heleno de Freitas, o craque das mais belas expressões corporais que conheci nos estádios, morreu, sem gestos, de paralisia progressiva, e descansa, hoje, no cemitério de São João Nepomuceno, onde nasceu um dia para jogar a própria vida num match sem intervalo entre a glória e a desgraça”. (Armando Nogueira, em crônica de 1970)

Ao terminar de assistir “Heleno”, fiquei pensando sobre o mapa de uma pessoa capaz de, literalmente, dar um tiro no seu próprio pé – e de jogador de futebol, o que é ainda mais sério.

Uma pessoa para quem o corpo estivesse a serviço de uma paixão, contando com ela como uma amante capaz de sustentá-lo. Mas se as paixões não sustentam sequer a si mesmas, que dirá, então, corpos castigados por éter, nicotina, lança-perfumes ou sífilis, como o do polêmico e brilhante jogador Heleno de Freitas, morto em 1959.

Segundo seu biógrafo, Marcos Eduardo Neves, o craque era “temperamental como Edmundo, bonito como Raí, mulherengo como Renato Gaúcho, artilheiro como Romário, boêmio como Ronaldinho Gaúcho, inteligente como Tostão, de boa família como Kaká, elegante como Falcão e problemático como Adriano”. Acabou por pagar o custo de ser tantos em um.

Jogador aristocrata

Heleno tem nome de mito grego. Em Tróia, sua homônima feminina causou um estrago, e assim ele também fez por onde passou. Para cada gol miraculoso, toda uma epopéia de destratos, surtos, farras e declarações provocativas.

Era um tempo em que jogar futebol não era uma carreira milionária como hoje, em que o sucesso também depende da construção de uma imagem, vinculada a inúmeros patrocínios. Jogava-se pelo emprego ou pela raça e necessidade de brilhar, sendo este último caso exatamente o de Heleno de Freitas, que ganhou a alcunha de “Príncipe Maldito”.

Heleno de Freitas Nasceu em 12 de fevereiro de 1920, às 00h20, em São João Nepomuceno, MG [1]. Filho de um abastado dono de um cafezal e de outros negócios, bacharel em Direito, Heleno tinha berço, elegância e arrogância aristocráticas. Era conhecido pela postura física impecável, dentro e fora dos campos. Tanto que o ator Rodrigo Santoro, para simular-lhe a leveza e agilidade, precisou tomar aulas com um bailarino.

Vênus, o planeta da estética, ocupa o signo de Capricórnio no mapa de Heleno, que gostava de se vestir bem e era tido como um jogador de futebol com pinta de ator hollywoodiano. Tinha gostos refinados, como jazz, Dostoievski, Shakespeare. Este posicionamento também lhe infundiu um acentuado amor à carreira, somado a outros fatores, o que muitas vezes fez seu casamento e vida familiar ficarem em segundo plano, rivalizando com sua proverbial faceta farrista. Na época em que Heleno viveu, era isto que se esperava de um homem: que fosse capaz de prover sua família, mas que tivesse sua cota de prazer fora dela, o que, no caso de Heleno, era bem grande, extrapolando qualquer medida razoável. 

No filme, a mulher que se tornou a sua esposa sofre até o fim da vida do craque a dúvida se foi ou não importante para o marido. Nas palavras do seu biógrafo: “para o Heleno, a coisa mais importante do mundo era ele. Ele e o Botafogo. Azar se tinha filho, se tinha mulher. Era um cara sozinho, solitário. Ele ficou louco, e a mulher percebeu isso. Fugiu até para preservar o filho.”

Heleno de Freitas

Heleno de Freitas, carta natal - 12.2.1920, 00h20 - São João Nepomuceno, MG
043w01, 21s33.

Os ares de nobreza, o Direito, a origem abastada e o estilo arrogante e confiante nos lembram um filho de Júpiter, e quando vamos procurá-lo no mapa de Heleno, vemos este astro regendo o Ascendente e no signo de Leão, formando uma aliança estreita com o idealista Netuno. Em Heleno, esta conjunção o levou aos céus, onde brilhou como um Sol (Leão), mas também lhe derreteu as asas de Ícaro antes que pudesse completar 40 anos. Nenhum aspecto astrológico do seu mapa o explica mais do que esta conjunção, que o engoliu inteiro, complementada por uma apimentada quadratura com Marte em Escorpião. Eis o porquê do apelido de Príncipe (Leão) Maldito (Escorpião).

Júpiter e Netuno: e Ícaro voa, mas também cai

Júpiter e Netuno lhe insuflavam um amor apaixonado e sem limites ao esporte, regido, afinal, por Leão, signo dos hobbies e das coisas não necessárias, mas que fazem a alegria do povo – e a celebridade de quem o alegra. A este amor – segundo alguns, doentio – combinava-se, por quadratura, a força, energia e garra fornecidos por um Marte domiciliado em Escorpião. Eis que encontramos uma mistura de loucos capazes de amar até o fundo da alma e também destruírem tudo o que vêem pela frente – não importando que o alvo sejam os próprios pés.

Nesta quadratura temos toda a essência de sua imensa energia como jogador, mas também de todos os seus excessos, da egolatria à boêmia. Marte em Escorpião não precisa de nenhum aditivo para ter paixão, mas aqui ainda se aglutina com Júpiter e Netuno, em um resultado sem limites e explosivo em todos os sentidos, capaz de compor a faceta de herói (Leão) que ora se junta aos deuses, ora os desafia. Enche-se de Eros e dribla Tânatos, querendo arrogar para si poderes que não lhe cabem, e que, por amor à glória (Leão), toma emprestados até que eles mesmos o exaurem (Marte em Escorpião, a morte).

Os deuses gregos nunca brincaram em serviço. Nunca houve nada grátis e que tenha ficado impune no reino do Olimpo, quanto mais o brilho desmedido do talento e também da vaidade e da paixão cega com que Heleno usou esta configuração do seu mapa. Era um caso típico de viver somente no presente, consumindo a si mesmo como um cigarro, e por isto teve sua vida ceifada antes da maturidade. 

Heleno fumandoHeleno de Freitas sempre fumando. No filme, a bizarrice de acender na boca dois cigarros ao mesmo tempo.

Esta configuração também é bastante arquetípica da sífilis, doença que abreviou sua carreira e matou-o no final. Marte em Escorpião já é sexualizado, e com o incentivo de Júpiter transmuta-se em garanhão, contraindo, com Netuno, uma bactéria que pode levar à total loucura como a sífilis, diagnosticada, no caso do jogador, em estágio avançado.

O jogador com cara e postura de galã de cinema (eis novamente o glamour de Júpiter e Netuno em Leão) era uma alma zangada (Marte em Escorpião) com a mediocridade, em uma aversão típica da junção de Júpiter e Netuno no idealista signo de Leão. Conhecido pelo seu perfeccionismo (Saturno em Virgem), só aceitava o máximo (Júpiter/Netuno) e reclamava dos jogadores que só jogavam por dinheiro e dos dirigentes cuja último interesse era o próprio clube.

Idealismo

Heleno queimava e rasgava dinheiro se preciso fosse em nome da camisa. Por isto, talvez tenha ganho o epíteto: “nunca houve um jogador como Heleno”. Realmente, não houve, nem haverá, ao menos não neste quesito financeiro. Helenos loucos, abusados, abusivos, mas idealistas só nascem uma vez a cada milênio.

Era bom cabeceador (Marte, regente da cabeça, em domicílio) e também falava as coisas na cara. Nada a estranhar se considerarmos que o Sol e Mercúrio estavam próximos do imprevisível Urano. A conjunção Mercúrio/Urano também lhe dava um raciocínio e movimento ágeis como os de um bailarino, pois Urano, que governa Mercúrio em Aquário, está em Peixes, signo que rege os pés. Tudo isto somado a uma imensa vontade (Marte em Escorpião) focalizada na precisão do que precisava fazer (Saturno em Virgem) o converteram em um jogador de futebol brilhante, um goleador. Conseguiu a impressionante marca de 209 gols em 235 jogos nos oito anos em que foi o principal jogador do Botafogo.

Franqueza suicida

A Lua transitava em Escorpião na madrugada do seu nascimento. Heleno, muitas vezes, tinha gênio intratável (uma possibilidade desta Lua) e muita dificuldade em ser diplomático e compactuar com o que não concordava. Não lhe importava ficar mal com os outros: estava sempre apontando os “reis nus” que ninguém queria notar, tampouco denunciar.

Segundo seu filho, com quem o atleta não conviveu, o pai “foi uma pessoa difícil de se lidar, fácil de se amar, fácil de se odiar. Ele era oito e oitenta. Ou se gostava dele, ou não se gostava. Ele falava o que vinha na cabeça e não se preocupava com a dor dos outros. Ele teve o temperamento de um gênio. Foi um cometa.” Uma ótima descrição para uma Lua e Marte em Escorpião e uma conjunção dissociada de Sol e Mercúrio em Aquário com Urano em Peixes. Urano: talvez o planeta astrológico com significado mais parecido com o que seria um cometa e que costuma ser identificado com os gênios.   

Além disso, a Lua escorpiana faz quadratura ao Sol e Urano em Aquário, signo que rege os grupos e equipes: a vida inteira, Heleno foi um estranho no ninho, um solitário (Escorpião). O seu calcanhar de Aquiles sempre foi a dificuldade em se integrar com os grupos (Aquário).

Sua relação com as figuras de autoridade também era altamente problemática, o que bem pode ser um sinal de ambos os signos. Heleno não as respeitava e era incapaz de bajulá-las. Como arrogante herói, acreditava unicamente no seu brilhantismo e competência técnica, naquilo que sabia fazer com uma bola. E ponto. Achava que assim funcionaria o mundo.

A marca de um gênio

Mas o que há de especial e comovente no mapa de Heleno é um poderoso trígono no elemento Água, unindo Marte em Escorpião, Urano em Peixes e Plutão em Câncer. Paixão, determinação, força, estilo e originalidade.

O filme mostra um Heleno altamente concentrado na hora do jogo e totalmente entregue ao que fazia, com uma seriedade beirava o patológico. Não fossem seus vícios, que eram muitos, só pensaria em futebol, ou talvez tenha sido sua adição em futebol que o tenha levado a outras.  Era preciso viciar-se (Netuno) para ser um rei permanente (Júpiter em Leão) e manter a confiança e autoestima elevadíssimas de uma maneira irreal (Netuno), ligadas a um motor de funcionamento obsessivo e incessante (Marte em Escorpião), que o impulsionava constantemente na busca da ultrapassagem dos seus próprios limites (Júpiter). Ele não era uma pessoa, e sim, um jogador de futebol, em uma perigosa identificação muito comum às celebridades.

Peixes, onde Heleno tinha Urano conjunto ao Sol aquariano, é reconhecidamente um signo ligado ao tema dos vícios e da transcendência e também do azar e do sacrifício, todas estas marcas registradas do craque.

Urano em Peixes: uma paz que nunca vem, uma redenção que nunca chega, uma missão que nunca termina e que se interrompe (Urano) antes do final. Uma mensagem subliminar (Peixes) de que é mais importante amar o futebol (Peixes também) do que viver, brilhar do que ter uma vida calma, se prejudicar do que pedir aprovação. Autoimolar-se, sabotar-se, se preciso for. Viver boa parte do tempo fora e abaixo da linha da consciência, mas na suposição de estar acima (ilusão).

[1] Nota: Os dados constam da p. 14 da biografia Nunca houve um homem como Heleno (NEVES, Marcos Eduardo. Ed. Ediouro), "Enquanto Dona Miquita dava à luz um novo rebento, na chácara da família, aos 20 minutos do dia 12 de fevereiro...". A versão original deste artigo foi publicada apenas com uma carta solar. A informação correta foi passada alguns dias depois por Marcos Pelegrini, através da lista de discussão Databrasil.

Rodrigo Santoro e Heleno de Freitas: uma relação no eixo Leão-Aquário

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