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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 144 :: Junho/2010 :: -

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ASTROLOGIA E UNIVERSIDADE

História, imagem e narrativas

Entrevista

A revista eletrônica História, Imagem e Narrativas, editada pelo historiador e astrólogo Carlos Hollanda, lança uma edição especial quase inteiramente voltada para a astrologia e outras formas de leitura simbólica. Detalhe: o público habitual da revista não é de astrólogos ou estudantes, mas sim de professores e estudantes da área de ciências humanas.

História, Imagem e NarrativasA revista eletrônica História, Imagem e Narrativas é uma típica publicação acadêmica, lida por professores e estudantes de História, Antropologia, Artes Visuais e outros cursos da área de ciências humanas. Contudo, a décima edição, publicada em abril, deu um susto em seu público habitual: em vez da temática de praxe, uma sequência de artigos explorando astrologia, tarô e outras linguagens simbólicas a partir de diversas abordagens e perspectivas teóricas. O editor da publicação, Carlos Hollanda, além de historiador e professor universitário, é também um astrólogo com duas décadas de experiências, mas esta é a primeira vez que escancara seu "lado B". Contudo, o resultado está longe de ser uma provocação aos preconceitos do ambiente acadêmico: os artigos primam pela erudição e neles se reconhece muito mais a linguagem da pesquisa universitária do que o jargão dos intérpretes de símbolos.

Vários dos autores são professores e pesquisadores que também atuam como astrólogos profissionais. Esta interpenetração entre dois ambientes culturais vistos antes como antagônicos é um fenômeno cada vez mais comum, reflexo de dois movimentos convergentes: de um lado, a crescente elevação do nível de qualificação da comunidade astrólogica; do outro, o expressivo número de mestrandos e doutorandos que decidiu pesquisar linguagens simbólicas e acabou se interessando pela astrologia.

A tendência pode ser comprovada pelos números coletados por Cristina Machado, uma das autoras presentes na edição especial: na primeira década do século XXI foram produzidas nove trabalhos, entre dissertações de mestrado e teses de doutorado, tendo a astrologia como foco específico. Durante toda a década de noventa, ainda segundo Cristina, foram apenas duas teses.

Uma entrevista com o editor de História, Imagem e Narrativas

CONSTELAR - Por que você abriu a revista eletrônica História, Imagem e Narrativas?

CARLOS HOLLANDA - Na época eu estava cursando o mestrado em História Comparada pela UFRJ e queria uma publicação que me permitisse maior mobilidade, sem tantas restrições comuns ao meio acadêmico, mas ainda assim com caráter acadêmico. Os primeiros números apresentam essa característica relativamente menos formal. Entretanto, com o tempo fui adotando critérios mais rigorosos e fortaleci o corpo de pareceristas (que está para ser acrescido de novos nomes de peso), a fim de não apenas divulgar pesquisas, mas de ancorar a proposta no meio universitário. Minha idéia inicial era oferecer a revista a um programa de pós-graduação e continuar participando segundo as regras dele, mas ainda era uma visão ingênua de minha parte. Os programas são obrigados a ter um campo bem restrito em suas publicações e eu queria uma abertura inter ou até transdisciplinar. Eu não queria falar só de História do Brasil Colônia ou de História Antiga ou qualquer outro campo mais ou menos fechado. Queria um trânsito maior por outros campos do saber que tinha a certeza íntima de serem partes importantes para a construção de um conhecimento mais consistente. Um pouco do que me motivou também foi meu interesse e minha pesquisa sobre histórias em quadrinhos e semiologia, mitos etc. Não encontrava em História, até então, trabalhos que falassem disso com dissertações e teses. Foi um meio de divulgar essa possibilidade no campo. Ali veio o desejo de ampliar da História para a Antropologia, a Filosofia, as Artes, a Literatura e tudo o mais que viesse de Humanas. Isso, futuramente, quando ela ganhasse um certo relevo no meio acadêmico, seja entre alunos ou professores, me permitiria publicar artigos que falassem direta ou indiretamente sobre astrologia e simbolismo.

CONSTELAR - Por que a edição especial sobre Astrologia? Foi uma forma de "sair do armário"?

CARLOS HOLLANDA - Como disse acima, queria poder falar de astrologia, ainda que fosse numa pesquisa que versasse sobre algo como "as inspirações metafísicas na cosmologia de Kepler em suas teorias", ou seja, ainda que eu estivesse fazendo uma pesquisa puramente histórica da coisa e não falasse de modo algum de técnicas para ler um mapa. Aliás, isso estava longe de qualquer idéia minha a respeito da revista.

Vinha preparando uma edição como aquela há uns 4 anos, mas aguardara até o momento em que a revista tivesse atingido mais de 15 mil visitas ao mês ou que tivesse granjeado relativa notoriedade e respeitabilidade entre estudantes e professores de graduação e pós. Como minha tese de doutorado tem astrologia e cabalá no meio, aproveitei e convidei outros astrólogos cujo trabalho eu sabia ser de confiança pela coerência e temática. Mas não foi só pela astrologia que a edição veio. Foi pela temática do hermetismo, do gnosticismo, do neoplatonismo/neopitagorismo e de outras vertentes que se nos apresentam hoje na forma de astrologia, tarot, cabalá etc.

CONSTELAR - Como foi a produção da edição especial? Qual foi critério para convidar os autores, selecionar os textos e assim por diante?

CARLOS HOLLANDA - Convidei vários autores, mas nem todos responderam, infelizmente. Se todos tivessem respondido, em vez de oito artigos falando sobre o tema da edição, teríamos uns 15, mais ou menos. Procurei contactar especialmente pesquisadores que já tinham uma prática reconhecida na área ou então que estivessem em nível de pós-graduação stricto sensu e que dominassem bem os assuntos da temática. Tem muito doutor e doutorando mexendo com essas coisas, se quer saber. Gente de tudo quanto é área, desde humanas até tecnológicas.

Alguns dos convidados confundiram a revista com uma publicação normal de astrologia ou de artes divinatórias e pensaram em fazer permutas entre sites. Ocorre que História, imagem e narrativas não é uma revista especializada em astrologia ou tarot, é uma publicação de ciências humanas. Não tem fins lucrativos nem tampouco se destina a fazer propaganda de qualquer tipo de profissional, exceto o de estudos acadêmicos, livros universitários e similares. Então, pode ter havido uma truncada nas informações no meio do caminho.

CONSTELAR - Seu site tem algum vínculo com a UFRJ, onde você cursa o doutorado? Depois da edição especial não houve nenhuma represália?

CARLOS HOLLANDA - O site não tem apoio de qualquer universidade, a não ser que estejamos falando do apoio voluntário do corpo de pareceristas que são contactados independentemente. Eu mesmo arco com os custos de manutenção do site, com o design, envio de material, troca de correspondências e demais atualizações. Anualmente preciso pagar pelo ISSN, que me garante a legitimidade pela periodicidade da revista também. Não houve qualquer represália por causa da publicação. Talvez porque esteja fazendo doutorado em Artes Visuais e haja, ali, uma abertura maior a pesquisas sobre simbolismo. Mesmo assim, essa abertura não é suficiente para afirmarem que astrologia é válida e coisa e tal.

Vamos ver o que o tempo dirá, se vem algo complicado de fora, de quem leu a edição e se sentiu mexido por ela.

CONSTELAR – Você tem trabalhado muito, nos últimos anos, com o campo de interseção entre a Astrologia e as Ciências Humanas, especialmente História e Antropologia. Em comum, existe a questão do discurso para lidar com a dimensão simbólica. O caminho da aceitação da Astrologia é explorá-la segundo o olhar antropológico?

CARLOS HOLLANDA - Creio que um caminho para a melhor aceitação é aumentarmos ao máximo nossas competências como intérpretes ou usuários de astrologia (usuários como terapeutas que a usam em seus trabalhos, por exemplo). Produzir resultados demonstráveis. Precisamos ser autocríticos, embora não autoflagelantes, e insistir naquilo que é verificável. Isso, no entanto, não faz com que se invalide a prática do astrólogo que trabalha com expressões mais subjetivas. Se assim o fosse, estaríamos caindo no mesmo radicalismo que impede o diálogo entre esses saberes arcaicos e o mundo acadêmico, exceto quando ele ocorre entre o antropólogo e a cultura por ele estudada.

A propósito, aqui vale uma observação: há uma tendência do olhar antropológico a considerar a o sentido ou funcionamento da interpretação astrológica do mesmo modo que o faz com o ritual de cura xamânico: como resultado de eficácia simbólica. Eu mesmo cheguei a me fazer essa pergunta para ver se tudo se restringia à crença na eficácia da coisa. Mas não pode ser exatamente isso, porque pessoas que não crêem em astrologia e que de forma alguma vão a um astrólogo para fazer sua leitura passam por situações análogas ao simbolismo de um planeta em trânsito justamente quando eles formam aspectos que representam aquelas situações. Essas pessoas não podem estar sugestionadas por um astrólogo e nem tampouco por uma crença de que aquilo que o planeta simboliza irá acontecer (e por isso se colocarem inconscientemente naquelas situações).

Apresentei, há alguns anos, um trabalho no I Encontro Nacional de Astrologia da UnB, em que falo justamente sobre esse problema e recorri ao trânsito de Marte para procurar períodos que fizessem sentido dentro daquilo que se diz a respeito de seus, digamos, "efeitos". Procedendo daquela maneira, é possível verificar que a proposta não é tão louca assim. Não acho que seja uma resposta definitiva, mas sim uma proposta para investigação mais detalhada.

Fica ainda a pergunta: mas será que por sabermos que o símbolo diz aquilo não estamos forçando a barra para dar o sentido que queremos para aquele evento? Penso, então, nos físicos, quando se depararam com os Quanta e todas as subpartículas que se comportam de um jeito quando acho que devem se comportar assim e se comportam de outro quando acho que deveriam fazê-lo de outro modo. O que há de real nisso tudo? Uma passagem que trata de um assunto semelhante e que me agrada muito é a de um dos filmes de Andrei Tarkovski, Solaris, não aquela versão simplificada, embora cheia de efeitos especiais, em que atua o galã George Clooney, mas a versão original do cineasta russo. Nessa passagem o protagonista abraça a mulher que é um construto ou simulação do planeta que os cientistas pesquisam e diz: "você é muito mais importante para mim do que qualquer verdade científica". Acho que os filmes do Tarkovski são muito interessantes para essa atual discussão sobre ciência, arte e fé, não necessariamente nessa ordem. Outro muito bom é o Stalker. Cito esse cineasta porque a questão de que ora tratamos é algo que mobiliza esses três campos do viver e do saber atualmente em crise.

Sete artigos para quem tem estômago forte

Eis a pauta de astrologia e simbolismo da décima edição de História, Imagem e Narrativas, lembrando que o material é de difícil digestão: todos os artigos apresentam dezenas de notas de rodapé, citações em línguas mortas e referências a obscuros filósofos do período helenístico. O risco, portanto, é todo do leitor!

Marcus ReisDeterminismo, Liberdade e Astrologia nos Estóicos. Marcus Reis Pinheiro - Prof. Adjunto do dep. de Filosofia da UFF, Pós-Doutor em Filosofia, UFRJ; Doutor em Filosofia, PUC-Rio. [Na foto: Marcus Reis em palestra no Simpósio do Sinarj de 2004.]

O artigo descreve a filosofia estóica especialmente no que concerne ao problema da liberdade e do destino. Sendo uma doutrina determinista tanto em relação ao cosmos quanto em relação à ética, o estoicismo defende certo tipo de previsão divinatória, como a astrologia. Assim, o trabalho termina apresentando alguns argumentos estóicos que defendem a prática divinatória

Um estudo hermenêutico do Tarô. Marcelo Bolshaw Gomes, Doutor em Ciências Sociais e Professor de Comunicação da UFRN.

Apresenta o sistema simbólico do Tarô como um mapa cognitivo de leitura do inconsciente. Para tanto, a partir de uma estória, discutem-se os princípios de uma interpretação dialógica. Em seguida, descrevem-se as cartas, suas origens e suas principais referências esotéricas e analíticas. Por fim, atualiza-se o método de interpretação através de quatro leituras – utilizado na tradução do velho testamento para o grego: a leitura literal (objetiva), a alegórica (subjetiva), a tradicional (contextual) e mística (ou teatral). Conclui-se que a interpretação dialógica das imagens simbólicas é um fator importante para construção de um novo saber complexo.

O Tetrabiblos de Ptolomeu: um texto e sua circunstância. Cristina de Amorim Machado, Doutora em Letras, PUC-RJ; Mestre em Filosofia - PUC-RJ.

O objetivo é apresentar o Tetrabiblos de Claudio Ptolomeu, escrito em grego na Alexandria do século II, mas reescrito e transmitido ao longo do tempo e do espaço nas mais diversas circunstâncias culturais e linguísticas. O artigo analisa o contexto em que o Tetrabiblos veio à luz e como começou a sua longa jornada de reescritas, ainda no período helenístico. Na sequência, examina o texto mais de perto, a partir das edições que circulam hoje em dia. São enfatizados os três primeiros capítulos do Tetrabiblos, notadamente teóricos, que tratam de algumas questões filosófico-científicas que se impunham no tempo de Ptolomeu e relevantes ainda hoje para pensar a Astrologia.

A imortalidade em camadas planetárias: o imaginário do céu arcaico nos quadrinhos de "Promethea”. Carlos Manoel de Hollanda Cavalcanti, Doutorando em Artes Visuais (linha Imagem e Cultura) – PPGAV - UFRJ; Mestre em História Comparada das Formas Narrativas – PPGHC - UFRJ; Professor Colaborador – Projeto DSG 1003 – PUC-RJ.

Lançada no final do século XX, a série de quadrinhos “Promethea”, de Alan Moore, sintetiza em suas representações visuais um grande conjunto de símbolos do imaginário ocidental a respeito da relação mundano-sagrado. Este estudo percorre algumas de suas bases míticas, associadas ao hermetismo, ao gnosticismo, à astrologia, à cabalá e ao tarot sob o forte sincretismo e influência de movimentos das matrizes judaico-cristãs do Ocidente em várias épocas, condensados nas páginas da personagem. Aqui são também estabelecidas as relações entre esse sincretismo e importantes concepções de cosmo em períodos pré-copernicanos, além de noções mítico-religiosas que permanecem em muitas sociedades contemporâneas em torno do sagrado feminino.

Iconografias do feminino: Mitos, arte e outras representações. Regina Moura, Mestre em Artes Visuais EBA/UFRJ.

O estudo aborda aspectos da iconografia feminina manifestada em mitos, produções artísticas e representações do tarot enquanto produção simbólica. Entendendo que a questão feminina está impregnada por uma linguagem metafórica tecida em imagens, signos e subjetividades relacionadas à fecundidade e gestação, o artigo discute até que ponto essas linguagens contribuíram para a construção de uma identidade feminina, dramaticamente conquistada em meio ao sistema patriarcal dominante.

A Jornada do herói e os ciclos astrológicos: uma aproximação possível. Ana Maria Mendez González, Mestre em Literatura Portuguesa pela USP

Abordagens interdisciplinares possibilitam a aproximação de linguagens variadas e também análises que mesclam diferentes áreas da cultura. Assim, parte-se do conceito da jornada do herói de Joseph Campbell, que, de forma cíclica, indica um caminho de aprendizagem e transformação do ser humano. Daí, vamos à área dos símbolos astrológicos e observamos as semelhanças que existem no conceito de ciclos temporais com o da jornada do herói. Mais do que simples semelhanças, encontramos nessa aproximação uma contribuição para a compreensão deste mundo e da vida humana. A mesma grandeza pode ser percebida nas duas abordagens elevam a vida, fecundam-na de símbolos e de significados.

A Astrologia e a relação entre Cosmo e Homem. Edil Carvalho, graduando do curso de filosofia da UFRJ.

O artigo visa desenvolver uma hipótese que explique um dos fundamentos da astrologia: a relação existente entre o cosmo e o homem. Para tal, investiga a noção de espaço, bem como a noção de vida e biografia - sobretudo a noção de direção que aparece como fundamental e comum na definição de ambos, e se pergunta: o fato de tanto a vida quanto o espaço serem constituídos fundamentalmente de direção seria suficiente para vislumbrarmos um laço de parentesco entre o homem e o cosmo?

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