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 Edição 108 :: Junho/2007 :: -

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ASTROLOGIA E IMAGINÁRIO NORDESTINO

A cosmovisão popular
e o reencantamento da ciência

Ângela Brainer

Em entrevista a Ângela Brainer, a coordenadora do Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros – NASEB – conta por que o mundo acadêmico precisa dar um passo em direção à Astrologia e às cosmovisões presentes na cultura popular.

Maria Aparecida Lopes Nogueira é psicóloga com mestrado em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (1994), além de doutorado e pós-doutorado em Antropologia pela PUC-SP (2000). Atualmente é professora do Departamento de Ciências Sociais da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco, ao qual está vinculado o NASEB.

ANGELA - Porque a proposta de religação da Astronomia com a Astrologia, vinda do meio acadêmico?
  
Angela Brainer e Maria Aparecida Lopes NogueiraAPARECIDA - A proposta é construir uma ciência reencantada. E a ciência reencantada é operacionalizada sobretudo a partir das religações. Reencantar a ciência é reencantar o mundo. A sutura que foi operada pela ciência clássica ocidental é uma sutura imposta, mas o real é todo interligado. Então, o pensamento complexo parte deste pressuposto.

Ângela Brainer (esquerda) com Maria Aparecida Lopes Nogueira (direita).

Mais especificamente, a proposta do Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros era homenagear o Ano Internacional da Astronomia. Mas, como trabalhamos na perspectiva da religação, religamos a astronomia com a astrologia, porque é desse modo que o pensamento complexo entende que deva ser estudada a cosmologia. Que o maior pertencimento que nós humanos temos é sermos todos filhos do céu. Toda a proposta do nosso núcleo é uma tentativa de dizer que estamos filiados a este tipo de pensamento e estamos atuando de acordo com esse ideário: não basta só a formulação teórica, é necessário operacionalizar, e o evento foi uma oportunidade.

Um livro foi fundamental para nós na religação da astronomia e astrologia, que é a obra mais recente publicada por Edgar Morin: uma conversa dele, principal pensador da complexidade, com Michel Cassé, um astrofísico.

De acordo com as teorias de Michel Cassé, que está alarmado com a quantidade de mistérios que envolvem o cosmo, é necessário ter um outro olhar a partir das pesquisas que ele e sua equipe desenvolvem em laboratórios.

Quero dizer isso: não são especulações, apenas. Infinitos universos nascem e morrem todos os dias. É necessário ter a dimensão histórica para pensar a cosmologia e a astronomia, e redimensionar a astronomia em outro patamar, que admita a presença da incerteza e do mistério no nível do macro. Quando se admite a dimensão do mistério, isso requer uma religação com a astrologia. A cultura, para Edgar Morin, importa não apenas no capital especificamente cultural, mas também num capital técnico e num capital mitológico. Então, toda e qualquer ciência deve ser elaborada a partir dessa tridimensionalidade. Ao religar astronomia e astrologia, estamos operacionalizando tais pressupostos. A astrologia é uma ciência, e precisamos compreender isso.

ÂNGELA BRAINER - E as pesquisas sobre o chamado alfabeto sertanejo? Que relação têm com a questão cosmológica?

Alfabeto Sertanejo

O alfabeto sertanejo, oriundo do desenho das letras utilizado
nos ferros de marcar bois.

APARECIDA - O alfabeto tem origem nos ferros de marcar boi do sertão nordestino. Esses ferros de marcar boi têm uma rica simbologia construída a partir do conhecimento da alquimia e da astrologia antiga. Os mestres ferreiros do nosso sertão guardam até hoje com eles essa sabedoria dos símbolos dos nossos antepassados. Baseados nos símbolos, eles desenham os ferros. Aqueles considerados “grandes mestres” do povo de Pernambuco são os que têm esse repertório, mas muitas pessoas pensam de forma equivocada que a marca de ferro é colocada pelos cereais. Há um grande engano, porque os símbolos escolhidos guardam um sentido de pertencimento que tem a ver com o céu, com os astros. E é com base nesse tipo de pertencimento maior, que é cosmológico, que os mestres ferreiros criam até hoje as marcas.

Estamos no início de um projeto de registro, porque os mestres são poucos e estão muito velhinhos. E a transmissão é feita pela oralidade. Então, precisamos registrar.

Em Ariano a gente encontra isso. Ariano tem um livro específico em que ele fez um levantamento detalhado das marcas do sertão do Cariri, da Paraíba. Têm outros – a biografia é muito pequena, há o escritor Osvaldo Lamartine, que fez sobre uma região do sertão do Rio Grande do Norte, e o pesquisador Virgílio Maia, que fez sobre uma região do sertão do Ceará. O nosso projeto vai fazer um levantamento das marcas do sertão central de Pernambuco, que é, segundo dados mapeados, onde existe a maior quantidade de mestres ferreiros. Mas infelizmente eles são muito poucos. E a técnica é lenta, porque eles riscam o símbolo na areia com graveto, com o cuidado de manter o símbolo, porque eles conhecem a família, eles têm uma obrigação com aquela família, eles têm uma história. Então, quando estão criando, já estão fazendo a filiação com o capital simbólico dos antepassados. Depois eles vão para a forma. Significa mais do que ferrar o gado e marcar a propriedade: na realidade, isso traz consigo todo um capital cultural, técnico e mitológico que precisa ser preservado e valorizado.

Alfabeto nordestino de Ariano Suassuna

O alfabeto nordestino na versão de Ariano Suassuna (visão parcial).

O alfabeto de Ariano é baseado nesta relação. A marca do NASEB é a marca do ferro de marcar boi do pai de Ariano. Porque Ariano herdou. Eles têm o ferro, a marca matriz da família de acordo com as regras da Heráldica Sertaneja, que não é a mesma européia. A heráldica nasceu na África, com as tribos africanas. Com a colonização é que os europeus descobriram, levaram e ressignificaram. Quando isso migrou para o sertão nordestino através da península ibérica, os sertanejos recriaram [as marcas] em outro patamar, fazendo um link a partir desses conteúdos arquetípicos. É um patrimônio de toda espécie humana. O ferro que Ariano usa é o ferro do pai dele. Cada um dos outros filhos, de acordo com a regra, faz um “puxada” para dar uma diferenciação. O de Ariano não, é o do pai dele, que é essa marca utilizada para o NASEB.

NOTA - Eis o que diz o site Poemia (na verdade, o mesmo texto aparece em diversos sites, sendo difícil determinar qual o original):

A partir de um registro de vários ferros familiares feitos por seu antepassado Paulino Villar, fazendeiro do século XIX, Ariano estudou a fundo as formas que encontrou e as relacionou com a simbologia antiga. Segundo ele, o traço vertical, chamado tronco, representa o céu; o horizontal, ou puxete, significa terra. Os dois juntos podem formar o galho, a união imperfeita entre o divino e o ser humano. Ou ainda a cruz, a união perfeita entre ambos. Há signos para o macho, a fêmea e para a fusão sexual.

O escritor viu semelhanças entre 'as formas meio hieroglíficas dos ferros sertanejos mais abstratos' com alguns dos signos ligados à astrologia, ao zodíaco e à alquimia, e acha que alguns dos primeiros fazendeiros podem ter escolhido para seus ferros os símbolos astrológicos de seus signos e planetas pessoais.

Leia também:

Astrologia e imaginário nordestino
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Saiba mais sobre Ângela Brainer.

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