A ELEIÇÃO DE BENTO XVI

Constelar antecipou:
um papa sem jogo de cintura

Fernando Fernandes

 

O eclipse de abril x a oficialização do Catolicismo (380 d.C.)

No conjunto, esta comparação fala de um conclave que se realizaria sob forte clima de radicalização, com resultados inesperados e escolha de um papa que teria de enfrentar - seja por suas escolhas políticas seja pelas circunstâncias do momento - pesadas questões relacionadas a violência, terrorismo e polarizações político-religiosas.

Se bem que Ratizinger sempre fora cotado como um forte candidato, a maioria dos especialistas duvidava de suas possibilidades de vitória. Segundo eles, Ratzinger tinha inimigos demais, áreas de atrito demais, e o conclave deveria acabar chegando a um nome de consenso, não tão desgastado. O que sucedeu foi exatamente o retrato da combinação astrológica entre as cartas da lunação e daquela remota oficialização da Igreja Católica, no ano de 380.

É como se a Igreja, subitamente privada da figura de um pai carismático, fosse agitada por uma onda de motivações arcaicas, remotas, como um cachorro que de repente resolvesse morder o próprio rabo. Num movimento circular, o conclave estará sintonizado com as grandes questões que já assombravam a Igreja naqueles séculos iniciais: a mistura entre a religião e o poder temporal, o conflito entre centralização e descentralização administrativa, as velhas desconfianças entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, a afirmação dos dogmas e da liturgia e a discussão de estratégias para o enfrentamento dos "bárbaros".

Ao adotar o nome de Bento XVI, Ratzinger prestou uma homenagem a Bento XV (foto), que liderou a Igreja durante os horrores da I Guerra Mundial.

Ratzinger foi durante 23 anos o guardião da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, órgão que ficou no lugar do antigo tribunal da Inquisição. Na função de moderno "Grande Inquisidor", o novo papa "calou sacerdotes latino-americanos da Teologia da Libertação, como o voto de silêncio imposto ao frei Leonardo Boff, um dos líderes da corrente" (site de O Globo, 19.4.2005). A eleição do Grande Inquisidor para o papado não poderia ser mais significativa deste retorno da Igreja às questões que a agitaram em épocas remotas. Quanto ao que chamamos "enfrentamento dos bárbaros", basta lembrar que Ratzinger se opôs de forma contundente à pretensão da Turquia (um país muçulmano) de entrar na Comunidade Européia, a pretexto de que a identidade cristã do continente precisaria ser preservada.

Este dogmatismo que chega às raias do discriminatório e de uma postura fortemente seletiva em relação a tudo o que é diferente pode ser visto no mapa de Bento XVI por várias configurações:

a) a já referida presença de Saturno em Sagitário na casa 9;
b) a quadratura da Lua em Libra na 7 a Plutão em Câncer na 5 (uma configuração relacionada a restrições na livre manifestação do outro - controle, portanto);
c) a quadratura de Júpiter-Mercúrio na 1 a Marte na 4 (tendência querelante e não conciliadora).

Em resumo: no rigor teológico de Ratzinger parece não haver tanto espaço para a generosidade quanto a que caracterizou João Paulo II (Júpiter-Netuno no Meio-Céu) no contato com outras culturas e religiões.

Todas as comparações mostram um conclave que se encaminha para a escolha de um papa mais guerreiro e mais "duro" do que seus antecessores. As três sinastrias diferem nos detalhes, mas concordam ao destacar um tom de inflexibilidade e de risco de confrontos na gestão daquele que São Malaquias já chamava, há muitos séculos, De Gloria Olivae. Ao escrevermos este artigo ainda não sabemos quem será este personagem. Mas já temos o suficiente para sabermos que, com ele, a Igreja entrará no olho do furacão.

Bem... agora já sabemos muito bem quem é o novo papa. E Bento XVI se encaixa como uma luva neste perfil. Alguns exemplos: segundo a Folha Online, em matéria de 19.04.2005, Ratzinger (definido como um "ultraconservador") condena homossexualidade por ser "uma depravação e uma ameaça à família e à estabilidade da sociedade". É contra a adoção de crianças por casais do mesmo sexo e "preparou em 2003 uma campanha mundial contra a legalização da união civil homossexual". Tudo isso levou Luiz Mott, antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia, a declarar que o Espírito Santo devia "estar caduco" ao permitir "a eleição do teólogo mais intolerante e anti-homossexual na história recente da igreja". Já o teólogo e escritor Leonardo Boff declarou ao Estado de S. Paulo que "haverá dificuldade em amar esse papa, por causa da posições perante a Igreja e o mundo".

Ratzinger é eleito papa - 19.4.2005, 18h05 - Cidade do Vaticano - 41n54, 12e27. Este mapa apenas confirma aspectos já presentes no próprio mapa de Joseph Ratzinger: a ênfase em Júpiter (no Ascendente) e em Urano (oposto à Lua). Mais uma vez confirma-se a noção de um papa "espaçoso" e "dono da verdade".

Por outro lado, segundo a mesma Folha de S. Paulo, Ratzinger, no auge dos escândalos de pedofilia envolvendo padres norte-americanos, chegou a dizer que era uma "campanha maquinada" a "constante presença na imprensa de pecados de padres católicos". Se lembrarmos que nada trabalhou mais fortemente contra a imagem do clero católico nos últimos tempos do que a revelação dos casos de padres envolvidos em abusos sexuais, a atitude injustificavelmente corporativista de Bento XVI pode resultar em mais reações contrárias. Até porque o prelado alemão é implacável em outros aspectos, defendendo, por exemplo, a recusa da comunhão aos divorciados que voltarem a casar.

Seria injusto, porém, demonizar apressadamente Bento XVI. O novo papa, durante o longo pontificado de João Paulo II, assumiu publicamente diversas posições duras e impopulares, mas que apenas representavam o pensamento oficial da Igreja naquele momento. Por sua disposição para a polêmica, atraiu para si muito do ressentimento contra posições que, na verdade, também eram de João Paulo II e de toda a cúpula do Vaticano. Com certeza não faltam ao novo papa coragem e assertividade, nem os atributos de um teólogo preparado e administrador competente. Se a comunidade católica terá agora um papa mais seco e inflexível, é porque houve uma escolha coletiva. Se Ratzinger é ultraconservador, a responsabilidade pelos eventuais retrocessos que patrocinar cabe também a todos o colégio de cardeais. O que os mapas mostram não é o fruto da ação isolada de um único homem, mas sim a perfeita ressonância entre toda a cúpula católica e aqueles velhos mapas do século IV que viram surgir - mais do que uma religião - um vasto projeto de poder para o mundo ocidental.

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Atalhos de Constelar 82 - abril/2005

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