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DA BABILÔNIA À INTERNET

Uma breve História da Astrologia

Cristina Machado

 

O período mais recente da história da astrologia

Com a obra de William Lilly a Astrologia tem um de seus últimos grandes momentos antes de duzentos anos de declínio.

É importante citar dois astrólogos do século XVII, Morin de Villefranche (1583-1650), que publicou a obra Astrologia Gallica [36], e seu contemporâneo inglês, William Lilly (1602-1682), que publicou o livro Christian Astrology [37], ambos extremamente úteis aos astrólogos até os dias de hoje.

Pode-se dizer que a astrologia sobreviveu ao Renascimento mas, no início do período moderno, três fatos foram derradeiros:

1) a criação da Academia de Ciências por Colbert, em 1666, sem incluir a astrologia [38];
2) o decreto de Luís XIV, em 1682, condenando a difusão dos almanaques astrológicos;
3) a proibição, a partir de 1710, da impressão das Efemérides e das tábuas de casas.

Dessa maneira, a astrologia caiu no ostracismo e passou a ser vista com olhares desconfiados. Conforme Arkan Simaan, "foi o famoso 'caso dos venenos' que veio, entretanto, pôr fim à moda da astrologia na alta sociedade, por causa do horror que suscitou e, principalmente, porque incentivou Luís XIV e Colbert a proibirem tais atividades" [39]. O caso dos venenos envolvia alguns astrólogos na morte por envenenamento de crianças e cônjuges de seus clientes. Foucault, ao contrário, afirma que as práticas condenadas pelo decreto de 1682 não desapareceram, pois o rigor da lei foi diminuindo passo a passo. [40]

Como vimos, a astrologia tornou-se marginal, por isso, misturou-se com outros saberes, mascarou-se e fragmentou-se para poder sobreviver. As sociedades secretas conservaram a astrologia, considerando-a uma ciência fundada na natureza. Os almanaques rurais, que forneciam informações de plantio, colheita, calendário, etc., também sobreviveram.

Vale ressaltar que, na Inglaterra, a história é um pouco diferente, pois os ingleses continuaram praticando e publicando astrologia, principalmente depois do movimento teosófico (1875). Em Portugal, parece que não houve nenhum tipo de proibição, e os almanaques astrológicos continuaram sendo impressos, apesar da sua progressiva descaracterização [41].

Em 1930, circula o primeiro jornal com uma seção de astrologia, o Sunday Express e, em 1932, surgem os primeiros horóscopos na revista feminina, Journal de la Femme. Começa um novo boom da astrologia, ainda mais incentivado pelas facilidades informáticas da segunda metade do século XX. Pode-se dizer que, numa tentativa de se adequar a um certo modelo de cientificidade, a astrologia foi "psicologizada" e estudada por método estatístico, com os trabalhos de Paul Choisnard (1867-1930) e Michel Gauquelin (a partir de 1949). Atualmente, apesar do preconceito que ainda vigora, devido às modificações que sofreu ao longo do tempo para poder sobreviver, a astrologia vem sendo admitida vagarosamente no mundo acadêmico, constituindo um objeto de estudo de rico material histórico, filosófico, pedagógico, enfim, multidisciplinar.
Michel Gauquelin

[36] MORIN, J.B. Astrologia Gallica. Tradução de Richard S. Baldwin (do original em latim de 1661). Washington: AFA, 1974
[37] LILLY, W. Christian Astrology. Londres: Regulus Publishing Co, 1985 (fac-símile de 1647)
[38] Essa decisão política compõe o cenário de um "projeto" de modernidade, cujo ideal de reflexão autônoma do sujeito, é iniciado por Descartes. As formas de conhecimento baseadas na semelhança, como é o caso de, pelo menos, parte da astrologia, não faziam parte desse projeto. [cf. FOUCAULT, M. Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento. Tradução de Elisa Monteiro. RJ: Forense Universitária, 2000 - p. 10 (Coleção Ditos e Escritos II)
[39] SIMAAN, A. A imagem do mundo: dos babilônios a Newton. Tradução de Dorothée de Bruchard. SP: Companhia das Letras, 2003 - p. 264
[40] FOUCAULT, M. História da loucura na idade clássica. Tradução de José Teixeira Coelho Neto. SP: Editora Perspectiva, 2002 - p. 96
[41] cf. CAROLINO, L.M. A escrita celeste: almanaques astrológicos em Portugal nos séculos XVII e XVIII. RJ: Access, 2002 - p. 81

Saiba mais sobre Cristina Machado.

Este artigo constitui parte da monografia acadêmica Considerações acerca da cientificidade da astrologia à luz das idéias de Popper, Kuhn e Feyerabend , cujo texto integral pode ser obtido na seção Pesquisas Acadêmicas do site Astro-Síntese.

Atalhos de Constelar 76 - outubro/2004

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