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ASTROLOGIA, COMPORTAMENTO E CULTURA

Consciência inclusiva, amor e preconceito

Carlos Hollanda

 

Odiar, execrar e abominar

Entenda-se a semelhança entre "ódio", "nojo" e a capacidade de exclusão como mostra a etimologia das palavras. "Enojar" - do latim inodiare. "Odiar" - o mesmo que execrar, abominar, ter raiva. Notemos que o prefixo "ex" de "execrar" significa que algo está do lado de fora, isto é, não está incluído, não é sagrado. Quando dizemos "eu te odeio!", estamos dizendo "eu excluo você de mim!" ou "você não faz parte do que para mim é sagrado!".

É fácil fazer esta associação entre pessoas ou costumes segregados e o sentimento de nojo. Em vários estudos antropológicos, como os de Mircea Eliade e de José Carlos Rodrigues , os autores mostram como o que sai de nosso corpo é considerado impuro, profano, distante do que é sagrado. Isso quer dizer que se algo não faz parte de nós, o "sacrossanto templo onde habita a divindade celeste", esse algo precisa ser rejeitado e, se possível, eliminado. Visa-se a pureza e a proximidade com o aspecto luminoso em detrimento do "outro lado". Não se percebe que esse outro lado faz parte de nós, sai de nós e retorna a nós através do processo de reciclagem da natureza.
Todas as culturas tematizam de uma forma ou de outra a rejeição do asqueroso, do abominável, do nojento (foto: monstro de filme japonês).

A raiva e a insatisfação funcionam como um referencial para busca de melhorias de qualidade de vida. Para tal situação é preciso rejeitar primeiro para compreender que é possível existir uma outra realidade. Contudo, essa "energia-ódio", se permanece como tal, torna-se sem propósito e destrói a si mesma, pois não alcança sua finalidade superior, que é a total-inclusão na forma de Amor. É o que acontece em casos como o nazismo, os conflitos político-ideológico-religiosos do Oriente Médio, ou a segregação, vinda dos dois lados, entre favelados e os mais favorecidos, nas grandes cidades brasileiras .

O luminoso se disfarça de trevas, de rebelde, de transgressor ou de pária para romper com aquilo que mantém a escravidão à repetitividade imbecilizante.

Neste mundo onde tudo é invertido, aquele que liberta figura como agressor e precisa adotar, na maioria das vezes, posturas contrárias à manutenção da ordem social e de seu círculo vicioso.

É preciso arcar com isso, às vezes às custas da própria vida, o que seria um ato de amor altruísta e incondicional, possivelmente sendo entendido por uma cultura como um crime até que esta o absolva. Foi o caso de Galileu Galilei, só recentemente "redimido" pela Igreja. Até mesmo nós, astrólogos de hoje, empenhados numa renovação de contexto social, que somos considerados hereges e marginais perante a cultura atual, podemos um dia ser "redimidos" de nossos "crimes".

As consciências coletivas (um conceito durkheiniano) são exclusivistas e tendem à segregação de quaisquer elementos que aparentemente não contribuam para sua continuidade ou para o fortalecimento de sua legitimidade. Para que isso seja minimizado é preciso direcionar o sistema educacional e a mídia para a assimilação e entendimento de outros padrões culturais. Cada sociedade possui sua cultura e as culturas precisam ser respeitadas. Por exemplo: os ocidentais criticam o modo de vida dos países islâmicos, mas não percebem em si as próprias incoerências na morte pela fome de centenas de milhares de pessoas num país cheio de recursos naturais como o Brasil. Os Estados Unidos têm uma política intervencionista que prega a supremacia de seu sistema sobre as outras culturas, mas não resolve os conflitos raciais e ideológicos existentes em seu próprio território. Quem é mais e quem é menos criminoso? Como saber, se isso faz parte da cultura de cada povo? Em Antropologia Cultural percebemos tais paradoxos.

Há uma corrente de pensamento empresarial bastante recente que prega uma espécie de simbiose de culturas, coletando das mesmas aquilo de melhor em termos de bom senso. A idéia não é tão utópica assim, pois considera a necessidade de tempo e de inclusão de fatores educacionais. Preza também pela existência da diversidade para gerar criatividade e satisfação, através da administração de conflitos. Tudo isso gradativamente, evitando as formas impositivas de inserção de culturas diferentes. O importante é fazer com que haja um meio-termo entre as coisas que um povo respeita e cultua e aquilo que outro povo faz que possui harmonia com as necessidades culturais do primeiro.

A restrição e a seletividade acabam, portanto, sendo um ato de Amor, quando se tem bom senso. Ocorre que, em nossos tão humanos e imperfeitos exageros, restringimos ao ponto do preconceito e da destruição do que consideramos "nocivo" ou "indigno". Esquecemos de que nem sempre algo é de fato nocivo, senão num contexto cultural segregacionista.

Quando criticamos ao "outro", estamos tentando, mesmo sem saber, segregar um aspecto que nos pertence à categoria de inexistente a nós. Para nós, o criticado tem um mal ou ele é o mal. Para o criticado, é aquele que critica que representa o mal, o processo destrutivo que vai contra a estrutura sob a qual, ele, o criticado, vive e prefere viver.

O mapa astrológico, portanto, figura como um gráfico que mostra claramente, seja no mapa natal, seja nos trânsitos e progressões, os modelos de rejeição e de inclusão, além de perspectivas de conciliar as duas coisas. Como? Através do entendimento do conceito de complementaridade.

Inclusividade e seletividade

Poderíamos perguntar, com base no simbolismo astrológico, se viver em consciência todo-inclusiva não seria negar a estrutura essencial do signo de Virgem, o representante mais forte do conceito de seletividade. Isso não seria excluir uma parte do sistema de totalidade do zodíaco? Não. Convém lembrar que mesmo a total-seletividade está incluída na total-inclusão. Para que sejamos de fato todo-inclusivos é imprescindível que também sejamos, em algum grau, seletivos, senão não será inclusão e sim absorção indiscriminada. A integridade de sistemas num determinado período faz parte de um ciclo de experiências, e ciclos obedecem a um contexto. Cada ciclo de experiências vivenciado é um acréscimo no elemento todo-inclusivo de nossa existência. Até para sermos seletivos é preciso haver um mínimo de experiência com aquilo que desejamos excluir do sistema no qual estamos provisoriamente inseridos. Isso é um conjunto de três experiências:

· Referenciação;
· Distinção-Discernimento;
· Compensação.

Assim, é indispensável que exista a distinção para podermos conhecer o que desejamos incluir. Agora o paradoxo: isso não é excluir de fato. Estamos incluindo na categoria de referencial aquilo que distinguimos como diverso do nosso sistema. Em seguida, compensamos com uma atitude oposta, mas que se apóia justamente no elemento de referencial. Talvez o que cause mais sofrimento seja a falta de percepção de que aquele referencial nunca deixou de estar em nosso contexto de vida. Pensamos tê-lo feito deixar de existir, porém é exatamente o contrário. É ele quem forma a base para nosso bem-estar contextual. Ele está, mais do que nunca, presente.

A total-inclusão leva a prezar pelo desenvolvimento de atributos, e não à exclusão preconceituosa. A seletividade deve existir, do contrário não estaríamos falando de total-inclusão. Entretanto, ela deve ser contextual e relativa, dando chances para que haja desenvolvimento. Não deixamos de ser seletivos ao ser todo-inclusivos, mas contextualizamos e relativizamos em cada situação e necessidade. Mais do que isso, admite-se que seja possível a passagem de um estado de consciência ou de cultura a outro. Não há um esforço para impedir tal desenvolvimento em quem, em dado momento, não apresenta os requisitos necessário a uma inclusão social qualquer, seja ela a de uma empresa, função, sociedade ou grupo de elite.

É a diversidade que provoca conflito, mas é este conflito que gera uma adaptabilidade maior e uma humanidade melhor. A admissão da diversidade leva ao crescimento individual e, conseqüentemente, coletivo.

Exemplos de pensamento inclusivo em ação

 

Atalhos de Constelar 73 - julho/2004

Consciência inclusiva, amor e preconceito, de Carlos Hollanda
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