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ASTROLOGIA, COMPORTAMENTO E CULTURA

Consciência inclusiva, amor e preconceito

Carlos Hollanda

 

Restrição: um ato de amor

Imagino que se tivéssemos que perceber o amor totalmente inclusivo de uma só vez deixaríamos de existir como seres dissociados. Não haveria uma chance de darmos permanência à existência, porque tudo seria admitido. Se tudo fosse admitido e incluído sem gradação ou percepção de contrastes nem mesmo nosso organismo seria capaz de manter-se vivo. Assimilaríamos todas as substâncias, adequadas e inadequadas, não sentiríamos repulsa por algo que pode nos envenenar. Contudo, por incrível que pareça, até mesmo nisso a realidade parece ser todo-inclusiva. Como? Se observarmos a ação das vacinas e dos remédios fitoterápicos, por exemplo, veremos que aquela mesma substância pode ser curativa ou venenosa. O que faz a diferença entre a cura e a morte é a dosagem.

Mais uma vez: somos limitados, mas isso não nos impede de realizar o processo de inclusão. Nada mais plutoniano ou marcial que uma substância forte o suficiente para destruir o organismo, mas que, em dosagem adequada, expele o que o estava destruindo. Ora, Plutão, regente moderno de Escorpião, é considerado, desde sua descoberta, do mesmo modo que Marte, um planeta "maléfico". Mas se não fosse sua ação destruidora, como uma vacina poderia curar? É o Ato de Amor, implícito no ato de curar ou no ato de destruir o "pernicioso", de purificar, que está por trás do símbolo agressivo e violento de Marte e de Plutão.

A filosofia derivada de estudos cabalísticos revela uma cosmogonia onde um ser supremo, ao "criar", limitou-se. Foi-se limitando até o ponto de haver ao mesmo tempo dualidade e ritmos. Estes últimos nós astrólogos conhecemos como "quadruplicidades". Para que a existência fosse possível, mostra a Cabala, foi preciso um ato de amor infinito que nós humanos não poderíamos compreender sem uma idéia de total-inclusão. Este ato de Amor Infinito foi justamente a Restrição. O Infinito tornando-se existente no Finito. A seletividade, neste ato de Amor, visto sob o ângulo da Astrologia, equivale às ênfases de atributos que cada planeta e signo representam, mas que não passam de graus diferentes de uma mesma coisa.

Uma outra analogia, polêmica talvez, em vista da cegueira humana, para demonstrar a ação curativa de elementos destrutivos, seria a idéia de bem e de mal na visão cristã. Para quem vive hoje no mundo ocidental, cristão em sua maioria, o Cristo é uma representação do Bem. Todavia, para quem era senador romano ou membro do Sinédrio em 33 d.C. a figura de Jesus representava um mal. Era algo pernicioso para a rotina e para o andamento daquilo para que fora criada a estrutura do Império Romano e das crenças das autoridades locais. Ele era um elemento destrutivo com relação à ordem vigente. Como podemos ver, a questão de bem e de mal é bastante relativa à cultura e ao desenvolvimento da consciência individual.

Luz e Trevas - Amor e Ódio - Sagrado e Profano

O pensamento inclusivo também mostra claramente que o "sagrado" e o "profano" não estão separados; que o corpo e a energia espiritual que em teoria o forma são uma única substância. Disso decorre que os eventos mundanos e a vida cotidiana não só são um reflexo de questões espirituais como também fazem parte dela. Nada pode haver de mais sagrado do que a vida cotidiana. Se o cotidiano é levado com consciência de sua condição sagrada, mesmo as necessidades que nossa sociedade considera menos nobres serão processos espirituais e levarão à percepção do vínculo que uma coisa tem com a outra. O ato de lavar o chão, a postura dentro de um templo, as necessidades fisiológicas, a oração, a negociação comercial, o amor fraterno que faz doações de caridade e o amor expresso no ato sexual são todos expressões de uma mesma totalidade. Astrologicamente, portanto, no que está descrito nas linhas acima, incluem-se os signos de Gêmeos (comércio), Escorpião (excreção e sexo) e Virgem (atividades consideradas subalternas e menos nobres).
Os portadores de luz não são sempre dóceis. Jesus, retratado por El Greco como uma figura desmaterializada, tinha energia suficiente para expulsar os vendilhões do templo.

Paradoxalmente os "portadores de luz" não são sempre dóceis, bondosos, ingênuos e materialmente muito produtivos como o ideal da sociedade capitalista impõe. Eles trazem consigo boa dose de inquietação e de insatisfação com a realidade previamente existente e são os mais passíveis de sentirem raiva das condições limitadas em que a humanidade vive. Antes de expressarem seu amor aos semelhantes, detestam as instituições criadoras de antolhos. Apesar disso, intuem que não é um atentado ou a destruição da vida dos componentes das sociedades que trará um processo evolutivo. Pressente-se que a reinserção do elemento ódio no contexto cultural iria somente reforçar os problemas que se deseja reduzir. O contrário seria sectarismo e terrorismo.

Odiar, execrar e abominar

 

Atalhos de Constelar 73 - julho/2004

Consciência inclusiva, amor e preconceito, de Carlos Hollanda
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