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OS QUATRO ELEMENTOS VÃO À TERAPIA

A consulta da Terra

Angela Schnoor

 

Ela havia marcado sua hora com bastante antecedência. Seu nome era Terra, e tinha assuntos muito práticos para tratar com a terapeuta.

Quando olhei a agenda pela manhã, o nome Terra veio me lembrar nosso contato inicial.

Ela havia marcado sua hora com bastante antecedência. Saía muito tarde do trabalho e queria garantir o horário escolhido, e só se deu por satisfeita quando todos as questões tais como endereço, tempo e preço da consulta tinham sido, detalhadamente, respondidas e anotadas.

Chegou pontualmente na hora combinada e não pude deixar de sentir o perfume que, com discreta elegância, marcou, definitivamente, sua presença. Foi impossível deixar de notar o que vestia, pois a simplicidade, o corte impecável do sóbrio costume e os sapatos confortáveis, de primeira qualidade, denunciavam o bom gosto e a classe dos que dão valor à imagem.

Sentei-me, após oferecer um cabide para que pendurasse bolsa e casaco, e, como permanecesse de pé, indiquei a poltrona que poderia ocupar.

Seus movimentos eram lentos e harmoniosos e demorou algum tempo para falar, examinando atentamente o espaço à volta.

-Eu a procurei por indicação de um amigo, para tratar da terapia de minha irmã Água. Lembra-se? Suas referências são excelentes, porém o mais importante para mim foi a disposição que demonstrou indo vê-la em sua residência. Ela se sentiu tão à vontade neste contato que se animou a continuar as entrevistas. Sou responsável por minha irmã, desde a adolescência, quando perdemos nossa família. Mas, deixarei para ela as particularidades dos fatos. Desde então, fui nomeada sua tutora e zelo por sua saúde e bem estar.

Fiquei imaginando o que ela, ainda tão jovem, tinha feito de sua vida pessoal. Tentei, com cuidado, romper as defesas que evidentemente havia construído, projetando na irmã os cuidados que talvez desejasse para si mesma. Perguntei sobre seu trabalho. O que fazia?

-Dirijo os negócios deixados por meu pai. Ele administrava uma empresa de construção civil e, como filha mais velha, formei-me em engenharia para continuar, com segurança, o crescimento da firma. No momento faço MBA em administração.

Acho que usei a senha correta, pois ela pareceu ficar mais confortável e chegou a perguntar:

-Você teria um café? Tenho por hábito estar em casa a esta hora e jantar cedo. Desculpe, mas já sinto um pouco de fome.

Trouxe-lhe café e biscoitos e partilhei com ela o lanche para que ficasse mais à vontade. Foi muito agradável perceber a sensualidade em seus movimentos ao comer. O prazer com que mordia os biscoitos e sorvia o café eram visíveis.

Quando terminou insistiu para levar a bandeja até a copa para "não me dar trabalho extra".

Voltamos, então ao assunto da consulta.

Pude perceber uma pitada de controle e possessividade assim como o fato de que Água era uma excelente tela para suas projeções quando perguntei sua opinião sobre os amigos da irmã.

-Ah... Tenho muito receio em relação ao Fogo. Ele é leal, mas já a magoou muitas vezes, e tenho sempre que interferir para que não acabem me trazendo mais problemas do que já tenho. Mantive um relacionamento com ele no passado e foi muito passional para meu gosto. Hoje nos respeitamos mutuamente, mas com Água... Ela é tão frágil! Quanto ao Ar, penso que ele até lhe faz um certo bem. Ela se torna um pouco mais razoável. Ambos têm dificuldades com as coisas práticas e não gosto muito quando a encontro em casa dele... Ficam horas nas nuvens, sem comer. E a bagunça que deixam para eu limpar e arrumar? Você nem imagina... Sempre me dei bem com Água. Ela é um oásis em minha vida tão cheia de obrigações. Às vezes torna-se muito dependente de mim, mas em geral, me enche a vida de frescor e fantasia.

Enquanto falava, Terra olhava a todo o momento para seu belo relógio de pulso. Afinal disse.

-Preciso ir. Amanhã tenho coisas a resolver antes de chegar ao trabalho e gostaria de deixar todos os detalhes sobre as consultas de Água já acertados. Farei o pagamento...

Apanhou a bolsa no cabide, retirou uma bela agenda encadernada em couro e passou a anotar todas as minúcias necessárias para o perfeito andamento da terapia da irmã.

Antes de retirar-se usou o toalete, de onde saiu com os cabelos penteados e a maquiagem retocada.

Sem dúvida, pensei, Água devia sentir-se completamente apoiada. E Terra? Sabia que dificilmente a teria como cliente, mas talvez fosse beneficiada pelas conquistas de sua, nem assim tão frágil, irmã.

A mulher retratada na ilustração é a ambiciosa e prática Marquesa de Santos, a capricorniana amante de D. Pedro I.

Para Anna e Fábia, filhas muito queridas, lastro necessário em minha vida. Angela Schnoor.

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Atalhos de Constelar 72 - junho/2004

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