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OS QUATRO ELEMENTOS VÃO AO TERAPEUTA

Entrevista com o Fogo

Angela Schnoor

 

Rápido, esfuziante, cabelos desalinhados e vermelhos, ele é a mais pura expressão de energia. Mas o que o Fogo teria a dizer se aparecesse de repente no consultório para fazer terapia?

Havíamos marcado uma hora. Num arroubo ímpar, ele queria se compreender melhor e eu, ansiosa pela oportunidade de ver em pessoa aquele ser de luz, aceitei de pronto!

Adentrou meu consultório, precedido por uma onda de calor que aumentou, e muito, a temperatura ambiente. Rápido, esfuziante, cabelos desalinhados e vermelhos, era a mais pura expressão da energia. O corpo ágil e musculoso tinha a pele tostada e brilhante. E o olhar... Que olhar! Despejava faíscas onde pousava. Daí a irrequietude e inconstância, com que livrava os objetos de uma provável combustão.

Ao abrir a porta da sala, já me sentia contaminada por seu entusiasmo, mas um pouco apreensiva sobre qual lugar poderia oferecer para seu repouso, sem risco de incêndio.

Ele mesmo, cheio da mais pura iniciativa, ofereceu a solução.

-Prefiro conversar em pé. Assim, andando, minha natural impaciência vai se acalmando aos poucos.

E, sem precisar de estímulo, iniciou um longo discurso sobre si mesmo.

Timidamente, interrompi seu monólogo lembrando-o de que ali estava para conhecer melhor a si mesmo e que, portanto, eu iria tentar espelhá-lo.

-Sim, sei que sou meu centro especial de referência, mas não imagina como necessito de suas palavras para incentivar-me!

E assim ficamos grande parte do tempo. Um leve comentário meu pareceu impulsioná-lo a contar sua vida desde a existência do Sol, seu pai, passando pela forma que os homens lhe deram ao descobrir a fagulha e toda a história de seus feitos pelo mundo. Guerras, esportes, máquinas, utensílios, conquistas e afirmações me deixavam quase sem fôlego, imantada que estava com tamanha demonstração de autoconfiança!

Aos poucos, foi-se acalmando e sentou-se sobre o mármore da varanda.

Como não ocorrera até então, seu brilho pareceu concentrar-se e um halo de calor circulou por igual, em torno de seu corpo, agora mais tranqüilo.

Suas palavras pareciam fluir com tanta convicção que se tornava impossível não acatar o que dizia. Nesta altura chamei sua atenção para a força e para a autoridade que emanava na medida em que a impaciência o abandonava.

-É, dizem que nesses momentos me torno muito parecido com meu pai. Acrescentou com orgulho.

Pude sentir, então, seu maior magnetismo. Meus olhos não se cansavam de admirar a reverberação da Luz que imantava todas as coisas que existiam a partir de seu brilho.

Foi então que a tarde começou a cair e as sombras contrastavam através do reflexo daquele ser que se transmutava. O jovem rubro que ali chegara mergulhava em luz azul e esta se elevava. Seu calor era calmo e brando quando falou.

-Veja, estou tranqüilo agora. Já sei mais sobre mim e não temo o apagar da chama. Posso guardar a energia e passá-la a meus filhos, e já não preciso de tanto ar.

-Falemos baixo. Em breve precisarei partir em busca de novos espaços para repassar minhas experiências.

-Sinto-me pleno a partir de dentro mas ainda quero lhe falar sobre meus encontros.

Com vivo interesse, debrucei-me para ouvi-lo. Agora, ele se parecia com a chama de uma vela, e seu brilho trêmulo me enchia de respeito.

-Veja bem, disse. Ao longo de minhas experiências tenho encontrado alguns parceiros. Água me encanta e envaidece. Ela me reflete o brilho e me acalma, mas nos desgastamos se tivermos excessiva convivência. Ela é suave e percebo que se aquece tão rápido em nossos encontros que muitas vezes acabei sozinho, pois a fiz desaparecer com meus arroubos. Algumas outras, ela me anulou. Veio defendida e despejou-se sobre meu brilho, apagando-me a vida. Mas aprendemos muito com esta convivência. O respeito que desenvolvemos em trabalho conjunto vale, para os homens, as chuvas de verão.

-O Ar, você e eu acabamos de ver e sentir. Um pouco de cada um de nós em gradação constante é bom e belo, e o excesso de um pede a calma do outro, na medida exata da busca de equilíbrio. Aprendemos a ajustar-nos um ao outro.

-Terra, esta sim é desafio. Já me engoliu e me sufocou nas entranhas e demos ao Homem o espetáculo, nem só benfazejo, dos vulcões. E para não torná-la totalmente estéril tivemos que pedir auxílio aos outros. Quase nos destruímos. Entretanto, moldamos juntos peças de arte e utilitários! Que a história o diga.

Ele então se levantou. Prometeu que indicaria meus serviços a seus parceiros. Passou pela porta deixando um rastro cálido que aumentava em ardor enquanto se movia. Não partiu tão rápido como havia entrado, mas sem conter a curiosidade cheguei à janela e pude vê-lo novamente incandescente e rubro ao retomar a liberdade pelo espaço.

Ao meu irmão Gustavo, o belo e bom fogo criador que, por ter acendido tantas luzes, jamais se apagará. Angela Schnoor.

Atalhos de Constelar 72 - junho/2004

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