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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 92 :: Fevereiro/2006 :: -

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ASTROLOGIA E PERSONAGENS DE FICÇÃO

Plutão e o Conde de Monte Cristo

Vanessa Tuleski

O auge como o início da derrocada

Todos sabem da associação entre poder e complexidade. Não será diferente para Edmond: quando é agraciado com o posto de capitão, seus problemas começam. Seu jeito simplório era para uma vida igualmente simplória. Não para cargos de chefia e nem para se casar com mulheres bonitas demais. Para tudo isto, teria de haver mais ambição, e, com ela, a astúcia.

Ser capitão é algo muito importante na vida do jovem Edmond. Permitirá que ganhe melhor e finalmente possa pagar o dote de sua amada, podendo casar-se com ela. É esta feliz notícia que Edmond vai dar a Mercedes e ao amigo, que acaba de ser refutado pela moça. Aqui novamente entram em cena os elementos plutonianos. Como o jovem capitão desconhece por completo os sentimentos do amigo, conta-lhe abertamente a novidade, demonstra toda a sua felicidade, abraça Mercedes. Lembremos que Plutão não costuma ser aberto. É preciso estar na sombra para observar.

Em sua alegria, Edmond não vai a fundo no fato de que Mondego lhe é muito pouco receptivo. Edmond não está acostumado a ir a fundo. Cabe perguntar se Mondego não lhe mostrou muitas vezes qual era a sua natureza. Edmond registra algo estranho na reação do amigo, mas não tem subsídios e vivência para entender, pois nunca concebeu que Mondego, rico, nobre e privilegiado, pudesse ter qualquer sentimento negativo em relação a ele. Muito menos inveja. Nunca percebeu, também, que Mondego cobiçava Mercedes. É como se estivesse desligado de suas reações viscerais.

Mondego não é plutoniano somente na sua riqueza (regida por este planeta), mas também na habilidade com que esconde suas vulnerabilidades. Ninguém é tão hábil em parecer forte e invulnerável quanto os plutonianos. Transmitem a impressão de segurança e de estarem bem resolvidos. Curiosamente, no futuro, Dantès, já como o Conde de Monte Cristo, será capaz de fazer o mesmo que o amigo.

Mondego trama a derrocada de Edmond com Danglars. Ambos denunciam o novo capitão como inimigo da pátria, portador de uma carta de Napoleão. O atônito Dantès é levado para responder a interrogatório diante do promotor Villefort. Villefort é um 'Plutão ameno'. Não tem nenhum motivo especial para detestar Dantès, e percebe imediatamente a ingenuidade do rapaz. Está a ponto de liberá-lo, até que pergunta para quem era a carta. O nome citado é o do pai de Villefort. O ambicioso promotor pode pedir a Edmond Dantès que nunca mencione o nome, mas é característica de Plutão não confiar em ninguém. Não tem outra alternativa senão a de prender e exilar arbitrariamente o marinheiro. Faz isto sem nenhuma dor de consciência, pois para ele Dantès é como um pequeno animal que se pode escolher deixar viver se não incomodar, mas eliminar sem hesitação se for necessário.

O exílio

Monte Cristo na prisãoEdmond é exilado em uma ilha. Não tem direito a comunicação e julgamento, porque traiu a França. Plutão rege o inegociável. Começa o calvário plutoniano de Edmond Dantès, o qual independe de quem ele é, de ele estar certo ou errado. Isto é Plutão, porque este planeta não atua segundo a lógica que conhecemos. Ele tem outra: seu objetivo é transformar as pessoas. O que é sentido como perda a curto prazo dilui-se em um esquema de longo prazo no qual um planeta transpessoal trabalha.

De um só golpe e inesperadamente Edmond perde tudo: o posto recém-conquistado, a mulher amada, a amizade que imaginava ter e a perspectiva de um futuro. Também boa parte de sua juventude. Ele é isolado em uma ilha, onde será mantido preso por longos anos. Plutão rege os lugares inóspitos pelos quais todos nós alguma vez já passamos. É o inferno de cada um.

Edmond, que era correto e honesto, e sonhava com um futuro simples ao lado de sua amada, passa pela maior provação humana: o isolamento e o esquecimento. A escuridão de algo que não se sabe se irá acabar. É lançado ao calabouço da décima-segunda casa zodiacal, a das prisões e do exílio. Um limbo onde só se existe para si mesmo, muito solitário. Um lugar onde é muito fácil enlouquecer. Edmond sofre um pesado castigo para um rapaz jovem, vigoroso, que tinha o mar por horizonte. Está em um mundo sombrio e sem forma e inteiramente à mercê dos outros, para se alimentar e não ser torturado além do limite. Não há absolutamente nada para distrair ou fazer. Cada aniversário é comemorado pelo diretor da prisão, um outro espécime negativo de Plutão, com chibatadas.

No início, o temente Edmond agarra-se a sua fé. Está inscrito na parede da prisão que Deus fará justiça aos seus. Edmond acredita. Mas os anos desgastam suas convicções, a sua identidade e, finalmente, a ingenuidade responsável pelo que ele estava sofrendo, e que era seu traço mais encantador e marcante. O que irá sobrar de sua essência deste processo? O que restará de Edmond? Ele passa por um fantástico processo de transformação. Não pode alegrar-se por isto porque este processo lhe custa a quase totalidade de suas forças, crenças, sanidade e sentimentos. Alguém pode conceber castigo pior do que estar em uma prisão sem perspectiva alguma de futuro? Sem nenhuma possibilidade de intervenção do mundo externo? Anos e anos a fio?

Edmond passa 13 anos neste inferno, meio ciclo de Saturno. Perde os melhores anos de sua juventude. Entra em desconexão total com a vida que anteriormente conhecia. Aquilo, porém, que ele concebe que seja um inferno em parte contém uma benção. Para transformar, Plutão precisa matar o passado, e a morte deste passado será integral. Já dissemos no início do artigo que Edmond era bom por natureza, mas não por real entendimento. Faltava uma peça em seu psiquismo. Ele não faria mal a ninguém se continuasse como era, mas a transformação nos prepara para ser melhores do que somos, para fazermos mais do que faríamos, darmos mais do que originalmente daríamos. A todos aqueles que Plutão joga no exílio e no desterro premia com grandes doses de poder e sabedoria. Mas humanamente é muito difícil entender seus processos.

O encontro com o abade: o início da virada

O hemiciclo de Saturno, 14 anos, tempo aproximado do exílio de Edmond, remete profundamente à sétima casa, do encontro do outro, que está na metade da jornada. Isto revela que o outro é a grande temática da vida de Edmond: antes, durante e depois da prisão. É o outro quem lança Edmond ao isolamento, mas será também o outro quem irá tirá-lo de lá. Quando Edmond está quase perdendo o juízo e morrendo, eis que surge um padre em sua cela. O abade Faria passou anos cavando e cavou para o lugar 'errado'. Ao invés de se sentir deprimido, solicita a Edmond que o ajude. Em troca, ensinará tudo o que sabe: ciências, idiomas, habilidades.

Abade Faria, o socorro providencialO encontro com o abade (à direita), portanto, é um ponto-chave tanto quanto o momento do seu exílio. É o padre exilado quem dá a esperança de sair da terrível masmorra. Ocorre, também, uma fantástica transferência de conhecimento e experiência. Tradicionalmente, a oitava casa está ligada ao que se pode receber dos outros. Pessoas com planetas importantes ali atraem benefícios. Mas estes muitas vezes não são colhidos em meio a calmarias. A oitava casa não é uma casa de calmarias. Pessoas que passam por eventos traumáticos, ligados à oitava casa, têm grande chance de encontrar alguém que possa exercer um papel poderoso de catalisador de transformações. Alguém que lhes transfere sua sabedoria. A mão que tirará a pessoa do fosso em que se encontra. O abade é tão importante na vida de Edmond que, ainda por cima, lhe deixará um tesouro! Simbolismo mais forte do poder positivo Plutão não existe. O ingênuo Edmond de outrora jamais teria acesso ao tesouro se não tivesse passado pela prisão e conhecido o padre. Isto deixa lições profundas a respeito da importância dos momentos de crise, tão difíceis de serem enfrentados.

O processo de transformação de Edmond é, em parte, aquele que ocorre dentro dele mesmo, em que ele se despe completamente da pessoa que era. Plutão é esvaziamento. O que acontece a Edmond torna simplesmente impossível que ele continue a ser quem era. Porém, o esvaziamento também pode levar à amargura e autodestruição. É, portanto, o abade quem veste o ser humano nu e cru que surge do confronto com a dor e a desesperança. Tudo o que Edmond perdeu pelas mãos de outros recebe regiamente do abade, porém - ironia das ironias - não é capaz de enxergar isto. Plutão rege aquilo que se recompõe de diferentes formas. Temos imensa dificuldade em percebermos o que chega de bom depois de momentos ruins. E sempre vem algo. Às vezes, chegamos a desdenhar dos presentes porque pensamos não serem aquilo que queremos. Pode ser que só mais tarde sejam agradecidos.

A saída da prisão

Será, simbolicamente, com as vestimentas do abade que Edmond ingressará novamente no mundo. O 'novo Edmond' será uma fusão do que ele mesmo fez de si com tudo aquilo que herdou do abade Faria: conhecimento, refinamento, cultura e a própria riqueza. O padre implora a Edmond que use a riqueza para o bem, mas Edmond diz que só consegue ter motivação para viver e lutar a partir da vingança que planeja. Esta é a mudança mais dramática do herói, que passa da ingenuidade para aquele que trama. Substitui seu raciocínio simples por raciocínios elaborados e estratégicos. É como se, antes da prisão, exercesse o Marte de Áries, como força física, bravura e juventude. Depois, será o Marte de Escorpião, que é tão voltado para a ação quanto o Marte de Áries, mas que escolhe como e quando agir. O Edmond que foge da prisão é um híbrido entre o que ainda restou de sua boa natureza, do que o abade lhe legou e do que seus inimigos lhe fizeram.

A prisão, ligada à casa doze, não precisa ser somente inferno. Pode ser também a gestação - muitas vezes longa - de um renascimento, uma temática plutoniana por excelência. Eis uma das mais belas mensagens a refletir a natureza lapidadora e transformadora de Plutão: é preciso ter paciência (Touro, signo oposto a Escorpião, que é regido por Plutão) para se regenerar. A forma anterior (Touro) foi destruída (Escorpião), não poderá jamais ser recuperada, mas a essência forçará a passagem a fim de refazer caminhos. Ainda que a perda tenha sido profunda, a natureza está se organizando para restaurar o que foi perdido. Se isto não fosse verdade, Edmond não encontraria o abade. A inscrição na parede da prisão já dizia a Edmond a única coisa que ele precisava saber enquanto estivesse lá. Parece ter sido escrita para Edmond, mas, como nós, o herói nega as coincidências que lhe acontecem e as pistas que recebe.

Como a doze é uma casa de não ação, justamente o exílio, nela só é possível conviver consigo mesmo, e o ódio de Edmond cresce, mas também sua agilidade, conhecimento e astúcia. Edmond talvez nunca mais saia da prisão, mas se sair será outra pessoa. Restará somente o essencial da anterior. Ironicamente, força tão destrutiva como a vingança é capaz de lhe dar tenacidade semelhante à fé. O desejo de renascer embute tanto um amor à vida quanto um revide secreto ao que tentou destruir a pessoa ('você verá quem eu sou').

Com a morte do abade - Plutão rege a morte - Edmond aproveita a única ocasião que teria para fugir, ocupando o corpo do abade no saco que será lançado ao mar. Chama a atenção que não tenha mais nenhum medo, nem mesmo o de morrer.

Antes de cair, Edmond puxa para baixo o cruel chefe de prisão, aquele que o presenteava com chibatadas a cada aniversário. É curioso que consiga realizar a primeira vingança no instante exato em que tenha possibilidade disso. Em parte, é um sinal de fluxo de vida de Plutão, de que as coisas começaram a mudar. Porém, o simbolismo da queda no mar também mostra o quanto Edmond ainda terá de lutar para chegar à superfície.

A lenta readaptação ao mundo



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