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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 87 :: Setembro/2005 :: -

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Astrologia, mídia e relações de poder

Obviamente, há um sentido menos filosófico, sagitariano e viajante para o título "Astrologia, uma questão de imagem". Trata-se, simplesmente, de como a astrologia tem sido vista pelo público em geral, a astrologia conforme é transmitida pela mídia. Pois bem, ainda que nem todo mundo goste de lembrar disto, a astrologia por si só já nos apresenta a sua qualidade multânime. Pense na psicanálise. Pensou? Que nome lhe vem à mente? Obviamente Freud, o pai da psicanálise. Pense na Teosofia. Qual o nome que espontaneamente surge? Blavatsky, é claro, com aqueles olhos enormes. Fala-se em espiritismo, pensa-se em Kardec e suas mesas girantes. Versa-se sobre filosofia, pensa-se em Platão, Aristóteles, Sócrates... Todos os sistemas do pensamento pautam-se num autor, numa voz, numa origem definida. A astrologia, neste sentido, é uma grande órfã de pai e mãe. Ninguém pode se arvorar como "criador da astrologia" e, sendo assim, qualquer um pode assumi-la e falar verdades em seu nome. Acontece que o saber astrológico é tão vasto, tão plural no que tange a abordagens, que termina sendo protegido contra absolutismos uniformizadores.

À direita: Alexey no debate da Astrológica 2005, na Gaia.

De vez em quando sofremos, aqui no Brasil, a ameaça fantasmática dos arroubos de dominação de uma turma que carrega consigo a sanha, a tara, a mania de ditar ordens e determinações para a astrologia nacional. Argumentam que é preciso retirar as "bobagens" do verdadeiro saber astrológico. Muito bonitinho, este argumento. Só vale aqui lembrar que definir o que é "bobagem" é, por si só, mais trabalhoso do que definir o que não é. Lembrem-se que, para a massiva maioria dos saberes oficiais, a astrologia inteira é uma grande bobagem. Quem precisa de céticos para nos detonar? Já temos a nós mesmos para fazê-lo, acusando o trabalho alheio de ser "menos verdadeiramente astrológico" do que o nosso. A sanha controladora nos últimos anos aprendeu a conter-se, justamente por ter sofrido oposição ferrenha por parte de quem, como eu, tem uma faca no lugar da língua. Mesmo assim, a assombração persiste. Anotem o que estou dizendo: após uma fase de fôlego, voltaremos a ter notícias dos tarados por normatizações. Às vezes tenho a impressão de que tais seres são diretores de colégio suíço que bateram a cabeça na parede e resolveram virar astrólogos.

Em entrevista para o grupo Memória da Astrologia, a astróloga carioca Paula Salotti relatou sua dificuldade no passado em manter uma escola, por conta do fato de que os professores de astrologia se punham a dizer que o trabalho do outro era uma bobagem. Imaginem o terror: você sai da aula de astrologia kármica, e a professora da outra turma, cristã apostólica, informa que a astrologia kármica é uma bobagem. Então, logo após a aula de astrologia horária, você se encontra com o astropsicólogo que lhe diz que "astrologia não faz previsões". Aí vem o outro, e diz que a psicologia é a destruição da astrologia. Como será que um estudante se sente, diante de tanta falta de respeito com a abordagem do outro? Se fosse eu, gritaria palavrões impublicáveis nesta coluna. Como podemos querer que a sociedade nos respeite, enquanto nós mesmos não nos respeitamos como deveríamos? Que imagem podemos evocar, diante de tudo isso? Alguns dizem que o que falta à astrologia é uma uniformização. Discordo. A uniformização viria a partir de que olhar? É óbvio que existem elementos fundamentais que fazem parte do saber astrológico, e que ignorar estes elementos é distorcer a astrologia. Uma pessoa não pode se dizer astróloga se ignora esta estrutura fundamental do saber astrológico. O que me preocupa é outro ponto, que diz respeito a estilos e abordagens mas, mais do que isso, ao respeito que se deve ter pelo estilo e abordagem do colega.

Uma das partes mais fascinantes da mesa-redonda proposta pelo congresso Astrológica 2005 foi a fala do astrólogo Carlos Fini, também astrônomo, cuja abordagem é, digamos, menos "esotérica". Ele depôs que muitas pessoas costumam dizer que ele "se afastou de Deus" por usar uma linguagem menos mística em suas palestras e abordagens astrológicas. O curioso é que, para os reclamantes, o conhecimento astrológico tangencia uma informação que, de tão vaga, soa imbecil. A palavra mais abusada é "energia" - que, significando tudo, termina não significando nada! Fini testemunhou que o dito "meio científico acadêmico" não é assim tão fechado quanto se costuma propagar. Em sua experiência, quando se fala sobre astrologia para estas pessoas a partir de uma linguagem menos "mística", a receptividade é excelente. Pessoalmente, percebo a mesma coisa. Os céticos me incomodam menos do que os fanáticos por astrologia, que fazem afirmações perigosas e terminam "queimando o filme" do saber astrológico.

Seria a astrologia mais do que uma questão de imagem, no final das contas? Não seria a astrologia uma questão de linguagem?

Márcia Bernardo (foto), por sua vez, chamou a atenção para a importância do aprendizado da astrologia, mas do quanto as pessoas têm-se evadido do estudo da matéria. O fato é que a maioria das pessoas parece pensar que aprender astrologia é como fazer um cursinho de três meses de qualquer coisa. Só quando começam a estudar é que dimensionam o quão vasto é o assunto. De fato.

Mas a mais deliciosa fala veio de Maurício Bernis. Antes de falar sobre ela, é preciso um pequeno aparte. Se você, leitor, já participou de alguma mesa-redonda astrológica, vai entender muito bem o que estou dizendo. Em praticamente todas as mesas redondas astrológicas, sempre surge alguém no público perguntando por que não criamos um catálogo de quem é "realmente" astrólogo, uma espécie de "lista da AMIL", só que astrológica. Este tipo de questão, geralmente levantada com toda boa vontade do mundo, termina servindo de combustível para aqueles que não amam o saber, e sim o poder, e que se põem a procurar as desculpas perfeitas para fazer valer a sanha da normatização. Afinal, quem define quem presta ou não presta como astrólogo?

Bernis lembrou - e muito bem - que a maior parte dos problemas da astrologia brasileira derivou justamente de pessoas que, arvorando-se no papel de "representantes da astrologia", acharam por bem criar associações normatizadoras. O problema aqui, obviamente, não é a associação, ou o sindicato. Eu mesmo já participei da fundação de uma associação (a ASBAH). A questão é: o que move estes grupos? É o amor pelo saber, ou o amor pelo poder? Mais uma vez, reforço que o problema não é político, já que a palavra "política" se refere a uma pluralidade de éticas. Mas se toda aquela energia para atas, burocracia, regras, normatizações, fosse utilizada para a pesquisa astrológica, nossa imagem social seria ainda melhor. Faz muito bem o Carlos Fini (foto), que se dedica quase exclusivamente à pesquisa, e faz a parte dele. Ou mesmo o saudoso Adhemar Eugênio de Mello, que nunca se envolveu com estas sanhas politiqueiras, e vivia para a pesquisa e a divulgação do saber.

Por isso mesmo que o desejo de criar uma "lista de notórios" não faz sentido. Nem é preciso, no momento. O meio astrológico é ainda tão pequeno que as pessoas competentes terminam se fazendo conhecidas.

Nestas mesas redondas também sempre termina surgindo alguém que diz que a astrologia não tem "a devida penetração na mídia". Não sei em que universo estas pessoas vivem, mas deve ser num paralelo, porque é raro que se passe um mês sem que algo seja falado a respeito da astrologia, em algum jornal escrito ou falado. Bernis também lembrou que hoje em dia até os horóscopos de jornal são compostos, em sua maioria, por astrólogos competentes, como é o caso do horóscopo da astróloga Bárbara Abramo, num famoso jornal de São Paulo. Antigamente - e não muito antigamente, se até eu me lembro desta fase - o horóscopo era feito por jornalistas sem nenhum conhecimento de causa, que escreviam coisas horrorosas, do tipo "seu bichinho esta semana é o camelo, e seu número é o 23".

A imagem da astrologia melhorou? Sem dúvida. Só falta agora que aprendamos, de uma vez por todas, que a astrologia não precisa de uniformidade ou igualdade. Precisa, sim, de diferenças e do respeito por elas. Afinal de contas, o oposto da diferença não é a "igualdade". É a indiferença.

Post Scriptum - aproveito para fazer um encarecido apelo público. Se você, leitor, porventura um dia assistir a alguma mesa-redonda, seja caridoso e, ao fazer perguntas, seja conciso. A coisa mais horrorosa neste tipo de evento é a existência de gente sem desconfiômetro que ao invés de levantar uma questão faz um discurso de dez minutos, e no final das contas não pergunta nada. Burn in hell!

Fotos deste artigo por Orlando Flexa.

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