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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 85 :: Julho/2005 :: -

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Astrologia:
um olhar perspectivista

Repetindo a experiência no Brasil

Como considero que um mínimo de espírito cético é essencial para a pesquisa astrológica - caso contrário terminamos "puxando brasa para nossa própria sardinha", como diz o ditado popular -, resolvi repetir a experiência com a mesma amostragem quantitativa: dois mil mapas de homens homossexuais. Vale destacar que, nesta época, eu considerava interessante "provar" a astrologia dentro do molde das ditas "ciências exatas", pois achava que tal "encaixe" seria possível e válido para nós astrólogos.

Tendo repetido a experiência (com dois mil mapas selecionados ao acaso, mas sempre de homens ditos "homossexuais"), não fiquei muito surpreso ao não encontrar uma incidência anormal de aspectos Vênus-Urano. A taxa por mim encontrada se limitou a 25%, que pode ser classificada como "mero acaso". Todavia, deparei-me com um percentual notavelmente grande (iguais 75%) de aspectações angulares entre Vênus e Saturno da mesma ordem: quadraturas, oposições ou conjunções.

A primeira questão que vem à mente do leigo ou do cético é: quem está errado? Quem está certo? As respostas, penso eu, demandam um pouco mais de acuidade: primeiramente, reportemo-nos a Sigmund Freud, que em sua vasta obra deixa claro que falar em "a homossexualidade" é uma tolice, uma vez que dois sujeitos homossexuais são tão diferentes entre si quanto dois sujeitos de escolha heterossexual. A única coisa em comum entre dois homens homossexuais muitas vezes não passa do "objeto de prazer" (outro homem), e mesmo assim pode-se afirmar que eles não apreciarão o mesmo objeto pelos mesmos motivos, nem tampouco da mesma maneira. Freud demonstrou, em suas pesquisas, não haver um "traço de caráter" distintivo, nem nada que explique universalmente a homossexualidade masculina: há homossexuais com excelentes relações com seus pais, outros com relações ruins, há homossexuais com identidade de gênero feminina, outros com identidade de gênero masculina. Identificar um homem homossexual via astrologia demandaria o caminho oposto: identificar os heterossexuais. Pode-se falar, portanto, em homossexualidades, tanto quanto se pode falar em heterossexualidades.

Ainda que Freud não tenha estudado astrologia, como Jung o fez, a grande contribuição para o pensamento astrológico vem - não intencionalmente - do pai da psicanálise: cada sujeito é único, e cada caso demanda uma investigação à parte. Qualquer espécie de generalização, no tocante ao gênero humano, incorre em erro. E a astrologia se pauta em mapas astrológicos, e não em signos solares ou ascendentes apenas. Cada mapa astrológico é uma constelação única, e esta constelação é um conjunto de significantes que pode assumir significados os mais diversos. Os significados não vêm "prontos", "colados" ou "automáticos", mas são construídos pelo sujeito. E neste processo de construção de significados os resultados observáveis, comportamentais ou que se configuram na forma de "destino" são múltiplos e dependem de uma série de fatores: ambiente, educação, cultura.

Supor que a astrologia trate de nossas "predisposições naturais" constitui equívoco crasso. Nada no ser humano é natural, espontâneo. Somos criaturas de linguagem. Sem a linguagem a nos atravessar, nada somos. Um bebê humano a quem nada se ensine, não ficará de pé espontaneamente, nem se porá a falar. Deste modo, falar em "resultados exatos" não é algo que se possa esperar de uma prática que lida com sujeitos e suas variações culturais. Isto fica ainda mais bem demonstrado quando nos reportamos novamente à pesquisa envolvendo homossexuais.

Sob a bandeira com as cores do arco-íris, símbolo do movimento GLS, todos teriam uma quadratura Vênus-Urano?

Por mais que Karl Roberts tenha escolhido "ao acaso" seus dois mil homossexuais na pesquisa, estes homens vieram de um contexto cultural específico, de uma época específica, a saber: final do século XX na Califórnia. Ele obteve um "tipo" específico de homossexual, diferente do "tipo" que eu obtive explorando uma realidade brasileira. Quando nos reportamos ao saber astrológico, identificamos o sujeito Vênus-Urano como "apreciador de contestações, sentindo prazer ao chocar o meio circundante" (e tais qualidades obviamente não se limitam a um sujeito de escolha homossexual), enquanto o tipo brasileiro homossexual recorreu em Vênus-Saturno, que é descrito como "culposo pelo próprio prazer, afetivamente reprimido e dado a confundir amor com sofrimento" (e temos, obviamente, muitos heterossexuais com tais características). Como vemos, ambas as pesquisas revelaram uma realidade homossexual, mas não "a realidade completa", porque não cabe à astrologia estabelecer verdades únicas e exógenas ao sujeito.

A revisão epistemológica

Conforme nos cita A. C. Grayling, de Oxford (tradução do filósofo Paulo Ghiraldelli Gr.):

A epistemologia, também chamada teoria do conhecimento, é o ramo da filosofia interessado na investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento. Entre as questões principais que ela tenta responder estão as seguintes. O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos conseguir meios para defendê-lo contra o desafio cético? Essas questões são, implicitamente, tão velhas quanto a filosofia, embora seu primeiro tratamento explícito seja o encontrado em Platão (427-347 AC), em particular no Theaetetus. Mas primordialmente na era moderna, a partir do século XVII em diante - como resultado do trabalho de Descartes (1596-1650) e Locke (1632-1704) em associação com a emergência da ciência moderna - que a epistemologia tem ocupado um plano central na filosofia.

A definição-padrão dada ao termo "conhecimento" é a de que este é uma crença verdadeira justificada. À primeira vista tal definição se aplica ao conhecimento astrológico, que pode ser verificado na própria prática clínica. O que se infere do sujeito daquela determinada "constelação planetária" é verdadeiro ou se reconhece como sendo falso? Sendo determinado como verdadeiro pelo próprio sujeito, é sabido que as afirmações partem de uma justificação contida no tema astrológico. Não vêm "do nada".

A astrologia se depara, todavia, com a problemática das questões erradas - levantadas tanto por céticos quanto por astrólogos. Se considerarmos que as posições planetárias são significantes, e que tais significantes possuem uma "cadeia deslizante de significados", não se pode esperar, por conseguinte, que um mesmo significante tenha o mesmo significado para todos os seres. Mas, ainda que os significados sejam distintos, eles guardarão entre si um elo analógico - não são "a mesma coisa", mas guardam a mesma carga simbólica. Falar numa astrologia em que as posições planetárias conduzem a um e apenas um significado é o mesmo que criar uma "astrologia psicótica" - posto que na psicose não há interpretação, não há metáfora, e sim apenas literalidade.

A pergunta justa em astrologia, portanto, não deveria ser "o quê?" e sim "como?". Se eu pergunto "o que eu vou ser?", espera-se da astrologia uma resposta que nos retira totalmente da posição de sujeitos desejantes. Passamos a ser simplesmente "objetos do céu". A resposta esperada termina sendo: "você será médico", ou "você será homossexual", ou ainda "você será economista". Tais respostas, se avaliadas com honestidade intelectual pelos próprios astrólogos, incorrem em diversos erros, além de transformar a astrologia em tão simplesmente mais uma dentre tantas "tiranas da verdade" que assoberbam o mundo. Ditames externos da verdade, que nunca são a do sujeito. Este foi, conforme penso, o erro de Gauquelin: buscar "o quê", como se o homem fosse uma espécie de produto-em-série dos céus.

Quando eu considero o "como", me vejo devolvido ao papel de sujeito que faz escolhas. Eu decido ser médico, engenheiro, escritor, ou qualquer coisa que eu resolva ser, e pergunto à astrologia: como eu serei se for médico? Como eu serei se for engenheiro? A descoberta deste modus faz parte do escopo da linguagem astrológica.

Voltemos a Gauquelin e suas descobertas sobre o "efeito Marte" que, segundo ele, sugeriam "beligerância e pendor para as artes da guerra". Isso pode se traduzir, obviamente, num militar. Mas supor que só é possível esta tradução é uma psicose astrológica. Podemos encontrar, com o mesmo posicionamento, donas de casa extremamente determinadas, decididas, firmes, agressivas. Podemos encontrar filósofos contestadores, assertivos, guerreiros. Podemos encontrar líderes de gangues, ou qualquer outra atividade em que a qualidade guerreira marciana seja aplicável.

Nem todo jardineiro de cemitério tem um aspecto Vênus-Saturno



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