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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 77 :: Novembro/2004 :: -

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Em breve: uma nova versão de Mapas do Brasil.

JÚPITER-NETUNO E PLUTÃO-SATURNO

 

Dois Perdidos numa Noite Suja

A peça de Plínio Marcos, um clássico dos anos 60, virou filme pela segunda vez. A primeira versão, de 1971, foi bem mais fiel ao texto original. Na segunda, de 2003, a ação se passa nos Estados Unidos, onde Paco e Tonho são imigrantes brasileiros ilegais. Carlos Hollanda viu o filme e analisa o simbolismo astrológico dessa história sobre desejo, compaixão,
remorso e culpa.

Do diretor José Joffily, com Débora Falabella e Roberto Bomtempo nos papéis principais, "Dois Perdidos Numa Noite Suja" narra a história de dois brasileiros que como tantos, trocaram a falta de perspectiva do país pela ilusão do sonho americano. O encontro dos dois se dá de forma sui generis: Tonho, personagem de Bomtempo que trabalha como faxineiro, ajuda Paco, personagem de Falabella, após esta ter feito um "servicinho" para um cliente no banheiro de um bar num bairro periférico de Nova Iorque. Paco, ou Rita, seu verdadeiro nome, traveste-se de menino para obter dinheiro de homossexuais pedófilos em troca de sexo oral. O "cliente" percebe que trata-se de uma mulher, não de um menino e resolve estruprá-la, como vingança por ter sido enganado. Tonho dá uma vassourada na cabeça do homem, que desmaia. Os dois fogem e vão para o galpão (ou seria melhor dizer "pulgueiro"?) onde vive Tonho.

Tonho é tímido, humilde, sincero. Paco é misteriosa, arrojada, agressiva. Ele, cansado de 5 anos de subempregos sem o retorno esperado, quer voltar para o Brasil. Ela quer virar uma pop-star cantando Rap e não pensa em retornar a seu país. A convivência de ambos, forçada pelas circunstâncias, revela a falência da esperança do que eles acreditavam ser uma vida mais digna. O desespero leva os personagens a aplicarem golpes, sendo que Tonho, um tanto sem malícia, acaba preso durante cinco meses, período no qual é estuprado. A diferença de temperamentos e objetivos provoca diversos conflitos entre os dois, com grande dose de agressividade por parte de Paco, que reage às dificuldades que enfrentou no mundo enxergando-o como algo a ser vencido, controlado e subjugado, tal como o mundo fizera com ela. Sua desesperança com relação ao ser humano e à vida cotidiana é contrastante com o modo como Tonho enfrenta sua dor e desespero por estar longe de casa. Ele ainda luta para não se corromper ante o sistema desumano em que vive. Apesar do estupro sofrido na prisão, não encara o mundo como uma ameaça, como o faz Paco.

Paco - ou Rita - e Tonho exprimem algumas facetas de uma relação entre fatores dissonantes numa sinastria. Paco/Rita expressa uma possível combinação Áries-Peixes-Capricórnio ou algo como Marte-Júpiter-Saturno em aspectação tensa ou em conjunção em seu mapa. Entre suas configurações, Plutão ou Escorpião podem estar em posição evidente no mapa, como no Meio do Céu ou até na casa 4, a casa dos genitores. A casa 4, se pensarmos na relação patriarcal da sociedade que deu origem à nossa, seria a casa referente ao pai, ao invés da casa 10. Antigamente a mulher, ao casar, assumia o nome do marido. Os filhos recebiam o sobrenome do pai e era o pai quem devia reconhecer a filiação. Assim, a ancestralidade era definida pela figura paterna. Disso decorre a possível associação feita aqui entre Plutão e a casa 4 e a problemática envolvendo o pai. De qualquer forma, o eixo 4-10 das casas astrológicas refere-se ao eixo parental, pai ou mãe, e posicionado numa ou noutra casa, em aspectação com Saturno, o processo seria um tanto semelhante.

Facetas individuais

Dois Perdidos numa Noite Suja em dois tempos: o filme de 2003 (acima) e a montagem do Teatro Nacional de Comédia, em 1966.

O Júpiter de Paco-Rita também pode estar em posição evidente, haja vista sua necessidade de expansão e sua sensação de superioridade intelectual sobre Tonho, coisa que ela faz questão de deixar clara.

Tonho expressa algo como Câncer-Sagitário-Peixes ou o que poderia ser uma combinação Lua-Júpiter-casa 12 (ou uma espécie de fator Lua-Júpiter-Júpiter). Piedoso, maternal, romântico, Tonho mantém em seu "esconderijo" diversas fotos do Brasil, de sua casa, seu cão, sua mãe, seus amigos. Vive relembrando os bons tempos passados e, já que depois de 5 anos se aventurando num local desconhecido e, de certa maneira hostil, vive sonhando em retornar e ser acalentado pelos seus. A capacidade de Tonho relevar as grosserias, as artimanhas e a falta de respeito de Paco por qualquer ser humano, em especial ele, retrata o papel tipicamente pisciano da vítima, onde, de algum modo, o tipo Peixes aos poucos constrói seu algoz. Para que haja uma vítima é preciso haver um vilão. E tanto Paco quanto Tonho têm fortes características piscianas atuando em níveis e expressões diferentes: ambos são vitimados pela sociedade e por seus próprios sonhos. Ambos vivem numa espécie de reclusão e numa situação de marginalidade. Entretanto, Rita se entrega às drogas para anestesiar sua percepção rude, construída ao longo das diversas frustrações às expectativas. Para ela os fins justificam os meios: ela quer ser uma pop-star (um sonhar alto, jupiteriano, solar e pisciano) cantando Rap. Não é dotada de uma voz privilegiada, coisa que poderia denotar um caráter taurino ou venusiano em evidência. No entanto, seu mundo é também um mundo musical, bastante netuniano.

O lado pisciano ou de casa 12 muito enfática de Tonho se manifesta também através de um engano ridículo que o leva à cadeia como se fosse um aproveitador de menores e ainda por cima tendo que aturar o policial que o prende dizendo que "no México as coisas podem ser daquele jeito, mas ele estava na América". A combinação Câncer-Peixes é muito capaz de englobar, de acolher. A acolhida que Tonho dá a Paco e o fato de ele agüentar sua total falta de respeito e gratidão é marca da capacidade de renúncia a si próprio característica dessa combinação de fatores. Há que se considerar também o nascimento de uma paixão mesclada com a dependência, que por sua vez é causada pela solidão. Tonho sente grande carinho por Rita, carinho este mesclado com pena, compaixão por saber que, embora a mulher resista em admitir, a vida que ela leva é por demais sofrida e triste, sem rumo e sem significado. Rita debocha do fato de Tonho demonstrar emoções explicitamente, chorando muito quando percebe que pode ser deportado ou quando vê que não tem mais esperanças de arrumar emprego. Também é sádica o suficiente para conseguir, com sexo oral, dinheiro para pagar a passagem de Tonho de volta para o Brasil, o que evitaria a humilhação da deportação, e compra um par de botas de $ 500,00.

Rita, apresenta uma sensibilidade exacerbada característica de combinações entre as nuances de Áries e Peixes, Marte e Peixes, Marte e Netuno ou Netuno e Áries, quando esses fatores estão em evidência num mapa astrológico individual. O excesso de sensibilidade pisciano quando associado ao mapa de alguém com Sol, Lua, Ascendente, enfim, com alguma ênfase em Áries ou com Marte angular no mapa, produz reações extremadas de autodefesa àquilo que faz o sujeito sentir-se agredido ou vitimado. O problema é que com tal sensibilidade, coisas bem pequenas podem soar como enormes agressões e a reação é ariana ou marcial em suas piores expressões: violência gratuita, ações excessivamente individualistas e o atropelo aos sentimentos e necessidades alheias. Muitos podem pensar que uma combinação Marte-Peixes resultaria em alguém sem energia para enfrentar a vida. Mas embora tenhamos também, em vários momentos, essa manifestação, é bastante comum que o fato de estes indivíduos não suportarem sofrimentos com facilidade leve a uma afirmação exagerada de sua dor e de um desejo de perpetrá-la a outrem. Tal combinação acaba tendo uma certa semelhança com o lado menos agradável do Escorpião, que é um signo marcial, quando os escorpianos não se tornam cientes de que podem estar enganados quanto às verdadeiras intenções de terceiros e jogam todo um conteúdo emocional muito intenso numa tentativa de resolução abrupta de um problema. Acontece que uma catarse pode ser ótima para alívio da pressão interna, mas pode destruir completamente uma relação onde o "agressor" na verdade não agrediu, apenas o "agredido" sentiu-se como tal por algum motivo.

Rita, em seu componente Saturno-Capricórnio, reprime suas emoções e tende aconsiderá-las ridículas, pois elas soam como algo que poderia vir a enfraquecê-la perante o mundo, este mundo, do qual ela tanto tenta escapar ao mesmo tempo em que tenta controlar para não ser controlada. Entretanto, seu lado Áries-Peixes, profundamente romântico e abafado pela dor e pela auto-repressão, deseja ardentemente alguém em quem confiar, alguém com quem possa ter um caso de amor e alguém sobre cujo ombro possa chorar de vez em quando. Todo esse aspecto reprimido vem à tona quando Tonho revela seu amor por ela, mas já era tarde demais.

Desejo, compaixão, remorso, culpa e revelações

Tonho, por fim, acaba, com uma arma na mão, exigindo de Paco-Rita o produto de um assalto que fizeram e do qual Rita resolvera que Tonho não deveria ter mais que 20% devido à sua incapacidade para pressionar, ferindo cruelmente, a vítima do roubo, forçando-a a revelar onde estava o dinheiro. Com dor no coração, Tonho deixa Paco sozinha no galpão, sem dinheiro e sem as botas tão usadas para humilhá-lo. O filme não mostra o que Tonho fará com as botas, mas a impressão que se tem, pelo modo como ele as carrega em sua fuga, é a de que ele as guardará com carinho, como uma lembrança querida e ao mesmo tempo amarga de alguém que ele amou e que não o entendera. Paco, agora convencida pela arma de Tonho, de que é Rita, finalmente percebe que o único ser humano em que ela podia confiar não era um sonho: estava diante dela todo o tempo e ela, em sua descrença de qualquer capacidade de nobreza humana, não vira.

Curiosamente o filme foi lançado numa época (2002) em que ocorrem dois aspectos astrológicos completamente análogos aos ambientes retratados no filme, às ilusões dos dois personagens e aos conflitos e explosões emocionais decorrentes: Júpiter em oposição a Netuno e Saturno em oposição a Plutão. A ilusão de um local idílico (Netuno) e de uma vida mais abastada num país distante (Júpiter) e cheio de promessas, confrontando-se com preconceitos, taras, complexos psicológicos, violência (Plutão-Saturno), numa realidade muito diferente do mundo cor-de-rosa que tantas pessoas pensam existir fora do Brasil. Outra analogia a Saturno-Plutão sob aspecto tenso são as reações de Rita quando se pergunta sobre seu relacionamento com o pai (Saturno). Ela não diz, prefere ocultar (Plutão), mas imediatamente revela um trauma talvez decorrente de abuso sexual (Plutão) realizado pelo próprio pai (Saturno).

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