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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 131 :: Maio/2009 :: -

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ASTROLOGIA: TEMPO TANTO QUANTO ESPAÇO

O que os corpos celestes têm a ver comigo

Gregório Queiroz

Por que a posição espacial dos corpos celestes tem algo a ver comigo? Como pode algo que está lá longe, tão distante de mim, influenciar minha vida? A Astrologia e a carta astrológica, seu principal instrumento de trabalho, mostram que a força dinâmica do tempo é o que está presente a mover cada forma. A carta astrológica nos apresenta como o tempo atua sobre nossas vidas interior e exterior, sobre nossa psique e sobre os eventos ao nosso redor.

“Onde a mão do homem jamais pôs os pés.”

Céu estreladoO sol se põe e as primeiras estrelas e planetas tornam-se visíveis no céu, iniciando condição inexistente durante o dia. De dia, o céu é uma simples vastidão total e azul, sem partes nem subdivisões. O Sol é o único ponto de referência no espaço azul sobre nossas cabeças. Por vezes, nuvens recobrem partes do céu; mas nuvens fazem parte do “nosso mundo”, da superfície terrestre e não propriamente da vastidão celeste.

De noite, o céu se abre. Sobre o fundo negro há incontáveis pequeninos pontos luminosos que não mais pertencem ao “nosso mundo”, parecem fazer parte de “outro mundo”. Um observador desatento não deixaria de perceber que estes pontos estão a se mover lentamente.

A noite retira a coberta da vastidão azul indiferenciada. Muitas luzes se tornam visíveis no céu, e com elas reconhecemos subdivisões no espaço celeste: a localização de pontos em diferentes lugares. O céu é pontuado por infinitos sinais luminosos. Alguns desses infinitos sinais luminosos são as referências celestes usadas pela Astrologia – juntamente com o Sol diurno.

A posição espacial dessas referências parece ser o fator crucial para seus significados. Contudo, para a Astrologia o tempo é mais crucial do que o espaço. A Astrologia e a carta astrológica, seu principal instrumento de trabalho, mostram que o tempo é um substrato atuante e que a força dinâmica do tempo é o que está presente no cerne movente da vida, a mover cada forma. O tempo é, mais do que o espaço, o conteúdo atuante daquilo que descrevemos como cerne movente. A carta astrológica e a estrutura da Astrologia nos apresentam como o tempo atua sobre nossas vidas interior e exterior, sobre nossa psique e sobre os eventos ao nosso redor.

(Não nos referimos aqui à atuação da passagem do tempo, como o passar de minutos, horas, dias ou anos afeta as situações. Pois que, na verdade, quando assim pensamos, pensamos não no tempo, mas em fatores que transcorrem no tempo. Quando falamos de “efeitos do tempo”, os vestígios do tempo que vemos em uma obra de arte, uma formação geológica, um rosto, queremos dizer não dos feitos do tempo em si, mas das experiências e processos que se dão no curso do tempo: processos químicos, geológicos e biológicos, respectivamente.)
Astrologia é uma questão de “quando” mais propriamente do que de “onde”. Vamos ver como isto se coaduna com os conceitos mais comuns encontrados na Astrologia, se esta colocação inicial é corroborada, e como ela auxilia no entendimento de seus padrões fundamentais e sua técnica interpretativa.

As principais referências celestes para a Astrologia são os signos astrológicos e os planetas. Os signos resultam da divisão em doze partes da translação da Terra em torno do Sol. Os planetas são os corpos celestes principais do sistema solar a orbitar em torno do Sol. Também o próprio Sol e a Lua, embora astronomicamente falando não sejam planetas, no uso astrológico cumprem papel semelhante ao dos planetas, enquanto referência celeste.

Não obstante definida a Astrologia, no começo do capítulo, como a representação simbólica da atuação do tempo sobre nossas vidas, estes símbolos, da maneira como são comumente considerados, se definem, à primeira vista, a partir de referências espaciais: um significado astrológico é atribuído à localização que o planeta ou signo ocupa no céu.

Um astrólogo fala de “Vênus em Aquário”, de “Marte no Ascendente”, de “Sol na Casa X”, de “Júpiter em ângulo de 90º com Saturno”; fala de corpos ocupando lugares no espaço, espaço dividido em lugares justapostos, corpos se relacionando angularmente entre si. Estas são as informações que um astrólogo utiliza para delas extrair uma interpretação, localizando suas referências em certas coordenadas espaciais e, aparentemente, obtendo da localização espacial seus significados. Estas são as palavras que encontramos nos livros e na fala dos astrólogos, dando a impressão de que certas localizações espaciais e dos corpos celestes fornecem o sistema de referências utilizado pelo astrólogo.

Como as posições espaciais parecem indicar não apenas onde estão e atuam tais símbolos, mas também e principalmente a natureza do símbolo, aquilo que eles simbolizam, os símbolos que compõem a carta astrológica parecem ter sua natureza, e não apenas seu situamento, definidos espacialmente, isto é, definidos a partir do lugar que ocupam no espaço. Desse modo, os símbolos astrológicos remeteriam a uma relação do homem com o espaço circundante, em particular com o sistema solar, a partir da superfície terrestre.

O lugar no espaço parece dar significado aos símbolos astrológicos. Quem vier a ter contato com a Astrologia absorverá esta visão, subjacente ao aprendizado dos símbolos e do modo de interpretá-los. Ela permeia o conhecimento astrológico sem necessariamente ter sido validada como causa efetiva de seus significados, incorporando-se inadvertidamente as consequências de se assumir tal partido na interpretação da carta astrológica.

Tomado por esta perspectiva, o sistema astrológico parece estar primordialmente referido ao espaço. O tempo ocuparia um lugar secundário, embora necessário, como em outros conhecimentos humanos, tais como a física e a química, nas quais os processos ocorrem no tempo mas não são afetados pelo tempo: embora, “é claro, ocorram no tempo, o tempo como tal não lhes acrescenta nada, serve apenas como uma zona condutora” [1]. O tempo, na Astrologia, pareceria assim ser “mera formalidade” [2], como é nos assuntos das ciências naturais.

RelógioExcluir o tempo em prol do espaço, ou tomar um pelo outro, ou, mais crucial, deslocar de um para outro a possível causa das “influências” astrológicas é equívoco a ser desfeito, se queremos compreender a estrutura da Astrologia, as causas que tornam esta estrutura atuante e as conseqüências dessa atuação: apesar das referências aparentemente espaciais no estabelecimento de seus símbolos, a Astrologia tem por base referências temporais. A Astrologia trata da questão “tempo”. A Astrologia é o guia principal, para a cultura de muitas civilizações, para a compreensão desta dimensão que nos transpassa tão total e profundamente, embora pouco perceptível aos olhos e ao tato.

Algumas especulações históricas a respeito de como o conhecimento astrológico veio ter à mente humana reforçam a noção de corpos ocupando lugares no espaço celeste como sendo a referência fundamental. Tais especulações dizem que o ser humano compreendeu os ciclos cósmicos observando a posição no espaço dos planetas, do Sol e da Lua; aprendeu paulatinamente que a posição de Vênus em tal ou qual lugar no céu era indicativa disto ou daquilo; apreendeu a relação entre diferentes situações de vida e certas constelações a ocupar esta ou aquela posição no horizonte ou no zênite, e assim por diante. A observação visual da posição de corpos no espaço teria dado nascimento à Astrologia, segundo tais especulações históricas. A Astrologia seria fruto de uma avaliação visual de corpos no espaço associada aos acontecimentos na superfície terrestre.

O olho é o órgão por excelência com o qual o homem estabelece relação com o espaço. Os antigos astrólogos terem estabelecido o significado dos símbolos celestes a partir de uma relação visual com eles, parece depoimento consistente sobre a importância do espaço na caracterização desses símbolos e sobre a relação espacial como a causa dos astros influírem sobre eventos e condições humanas.

As ciências naturais também foram moldadas sobretudo a partir dos elementos fornecidos pela visão e pelo tato a respeito do mundo exterior. Assim, nada mais natural do que a Astrologia, mesmo permanecendo fora do campo destas ciências, fosse permeada por conceitos espaciais, desde um período já suficientemente longínquo para não ser discernível quando se começou a achar, por meio de dedução incorreta, que tais conceitos estariam na raiz da Astrologia. O que poderia ser um fator menor, tomou-se como causa, como razão última para definir seus símbolos. A ponto da referência físico-espacial – por exemplo, estabelecer visualmente o lugar de um planeta no céu – confundir-se com a razão pela qual o planeta sustenta relação com a vida humana.

Devido a essa visão ser encampada sem questionamento pela maioria dos astrólogos, decorrem perguntas equivocadas sobre a relação entre planeta astrológico e ser humano: como pode algo que está lá longe, lá tão “em cima”, tão distante de mim, influenciar minha vida? Como aquilo que dos astros me toca percorre tamanhas distâncias espaciais, ainda mais quando não há indicações físicas de algo atuante que, vindo dos astros, possa mover a mim e à minha existência? Em suma, por que a posição espacial de um determinado corpo celeste tem algo a ver comigo?

Tanto as questões assim formuladas quanto as tentativas de respostas dadas costumeiramente depõem contra o sentido da Astrologia e impedem a correta compreensão do que ela é. A Astrologia se torna sem sentido, um conhecimento que tenta se afirmar sobre bases inconsistentes. A resposta mais razoável para tais questões é: não, essa influência não pode existir, é total falta de conhecimento das leis básicas da física e dos corpos no espaço, e a Astrologia só pode mesmo ser despachada para a zona sombria das superstições.

Mesmo que um dia se encontrem partículas sub-isto ou sub-aquilo que demonstrem ser possível uma atuação a longuíssimas distâncias, ainda assim, tomando um exemplo ao acaso, a enorme distância de Plutão e seu diminuto tamanho em relação a, por exemplo, a distância e o tamanho de Júpiter ou da Lua, e a maior influência que o primeiro pode exercer numa dada carta astrológica, muito acima e além dos outros dois astros, continuaria depondo contra qualquer argumento com base no espaço para a validação da Astrologia.

MaréHá, naturalmente, efeitos físicos de alguns astros sobre os acontecimentos terrestres, como a ação da força gravitacional da Lua sobre os oceanos, ou a ação dos campos gravitacional e magnético do Sol sobre a vida terrestre e tudo o que se passa neste planeta. A ação física do Sol e da Lua sobre os ciclos terrestres é bastante conhecida, a começar das estações do ano, estendendo-se para o ciclo dia-e-noite; a relação física dos ciclos do reino vegetal com a posição do Sol e as fases da Lua é bastante conhecida desde o início da agricultura; a ação física destes astros é sentida também no comportamento dos animais e do homem, e se estende para efeitos físicos profundos sobre o funcionamento hormonal e cerebral do ser humano. Contudo, não é disto que trata a Astrologia. O que a Astrologia estuda não é uma extensão mais sutil desses efeitos físicos, e sim uma outra classe de relação entre astro e acontecimento terrestre, na qual não há relação física, não há efeito físico. A relação é de outra espécie.

Contudo, há outra tentativa de resposta à questão “por que a posição espacial de um determinado corpo celeste tem a ver comigo”, a qual percorre outro caminho. Diz não haver influência ou relação físico-espacial, mas sim uma relação simbólica entre planeta (ou signo) e ser humano, relação que se estabelece a partir de significados da subjetividade humana correlacionados com a posição dos astros.

Esta “relação simbólica” embute um problema: como é criada a rede de referências da minha vida com um símbolo localizado em um dado lugar do céu? Se a correlação tem por base fatores subjetivos, será variável de pessoa a pessoa, o que não se coaduna com o que a Astrologia descortina.

Há aqui uma lacuna fundamental não preenchida quanto à definição dos símbolos astrológicos: como o significado de um determinado símbolo astrológico pode ser o mesmo para todas as pessoas? Esta linha de pensamento depõe contra si mesma: se a relação com o símbolo se estabelece subjetivamente, o que equivale a dizer, se estabelece por pura convenção particular da psique de cada um, ela irá diferir para diferentes pessoas e ainda mais para diferentes pessoas em diferentes culturas.

Não é isso o que um astrólogo observa e constata em sua prática: se olharmos a carta astrológica de um chinês ou de um árabe, mesmo que estes não tenham ouvido sequer falar da Astrologia ocidental, sua carta será tão representativa do que ocorre em suas vidas quanto a de um ocidental acostumado à nossa Astrologia. Alguém que não tenha tido contato algum com a Astrologia tem sua vida pautada por sua carta astrológica, tanto quanto a vida de alguém que estuda e conhece Astrologia. A subjetividade da pessoa interpretada, e mesmo sua relação com a Astrologia, em nada interferem naquilo que o símbolo tem a dizer. A relação entre astro e ser humano não se estabelece a partir de injunções nascidas na subjetividade humana.

Mesmo se considerarmos que a subjetividade humana contém certos padrões, e que estes estão presentes por igual em todos os humanos, mas estimulados a se mover em uma conformação particular para cada pessoa, e que o sistema astrológico foi concebido a partir da projeção desses padrões sobre uma tabula rasa feita de astros e planetas, sincronizando a posição dos astros com estes padrões, ainda assim não isto é o que a Astrologia propõe. Esta “sincronização artificial”, por assim dizer, – sincronia de uma necessidade interior humana projetada sobre um painel de fundo neutro feito de movimentos celestes, como se a mente humana houvesse “construído” uma relação entre demanda humana e movimento do astro – é uma idéia recente introduzida no corpo da Astrologia. Nunca antes do século XX as coisas foram colocadas desse modo. A Astrologia não propõe que os astros são “coloridos” em seu movimento por uma demanda humana.

Curvatura do tempo e do espaçoAlém do que, sempre existirá um testemunho expressivo de que a Astrologia não é uma projeção da psique humana sobre o sistema solar: a Astrologia Meteorológica, a parte da Astrologia que prevê condições climáticas para um certo período em um certo lugar, a partir de cartas levantadas para inflexões significativas dos ciclos astrológicos. Não há nenhuma psique em jogo, aqui; e mesmo assim há íntima correlação entre evento e carta astrológica. Não há subjetividade humana a interferir no processo, há apenas a correlação entre posição celeste dos astros e condição meteorológica local – e mesmo assim persiste a sincronia entre evento e carta (a subjetividade humana entra quando nós humanos constatamos que essa correlação existe; alargar os poderes da subjetividade humana e dizer que é esta que cria a correlação entre céu e terra, que sem a participação do humano a observar os fatos não haveria correlação alguma, é colocar a percepção humana como causa para todos os fenômenos naturais).

Afora esse depoimento veemente da Astrologia Meteorológica, há inúmeros exemplos e situações na Astrologia referida aos humanos e os eventos associados aos seus comportamentos, que também depõem a favor da independência com relação à intermediação da subjetividade humana; esta entra como consequência, e não como causa do fenômeno registrado pela Astrologia. O que a Astrologia demonstra, por meio de seu sistema e seus métodos de interpretação do céu, é que essa sincronia não se estabelece a partir da subjetividade humana; ao contrário, é a subjetividade humana que se estabelece a partir de seu nascimento sincronizado com os astros.

Em suma, não são fatores subjetivos que realizam a relação entre a pessoa e o símbolo astrológico. O fator objetivo da posição espacial também não é apto a tornar um planeta ou um signo atuante em nossas vidas. Como poderá se estabelecer esta relação? Quais fatores poderiam estabelecer uma união ou correlação entre os pontos luminosos do céu e os acontecimentos terrestres e humanos?

NOTAS

[1] Zuckerkandl, Man the Musician, pág 224.
[2] Eddington apud  Bergson, Durée et simultanéite.

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