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 Edição 104 :: Fevereiro/2007 :: -

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Em breve: uma nova versão de Mapas do Brasil.

A POSSE DO PRESIDENTE E DOS GOVERNADORES

Lula, o refém de Algol

Fernando Fernandes

No mapa das posses de 1º de janeiro de 2007 estão presentes os riscos da violência e do desgaste da autoridade. Mas há também elementos criativos, mostrando que o país tem saída. Um dos mapas mais difíceis é exatamente o da posse de Lula, que terá de promover reformas em assuntos da casa 8 para chegar ao fim do mandato.

O que há de comum

Todos os mapas de posse de 1º de janeiro de 2007, seja do presidente da República seja dos governadores, apresentam alguns aspectos comuns que dão a tônica geral da administração pública brasileira nos próximos quatro anos. A única mudança significativa ocorre com a Lua, que, ao avançar pouco mais de dez graus entre a primeira e a última posse de governador, consegue tomar parte em duas configurações planetárias totalmente distintas. Vejamos o sentido geral dos principais aspectos:

Saturno oposto a Netuno - Este aspecto de longa duração (permanecerá no céu praticamente todo o primeiro semestre) define alguns dos elementos que constituirão o pano de fundo das novas administrações: o desgaste da autoridade (Saturno) decorrente da corrupção e da eclosão de escândalos (Netuno), a descrença do eleitorado cercando a figura dos governantes e a dificuldade de definir claramente um rumo para a Administração Pública.

Posses 2007: veja os mapas

Presidência da República | Amapá |
Acre | Bahia | Ceará | Distrito Federal | Goiás | Minas Gerais | Paraná | Pernambuco | Rio de Janeiro | Rio Grande do Sul | Santa Catarina | São Paulo |

Este aspecto encontra-se especialmente enfatizado por sua condição angular em quatro mapas: o da posse de Lula na presidência e dos governadores Roberto Requião (Paraná), Yeda Crusius (Rio Grande do Sul) e José Serra (São Paulo).

Júpiter em quadratura com Urano - É um aspecto dinâmico que, se por um lado traz turbulência e sacudidelas, por outro abre oportunidades inesperadas e pode significar períodos de expansão desordenada, sem planejamento - o que não é necessariamente negativo, mas sempre acarreta um certo grau de "desarrumação". O sentido exato da quadratura dependerá das casas regidas e ocupadas. Júpiter é um planeta especialmente forte em todas as posses de 1º de janeiro, seja por estar em seu signo de domicílio - Sagitário - seja por dispor de Marte e Plutão em Sagitário e de Urano em Peixes. Há que observar com mais atenção os mapas das posses onde um desses planetas (ou ambos) ocupa posição angular: Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco.

Marte em quadratura com os nodos - Trata-se de um aspecto carregado de adrenalina (e de pólvora), indicando que a função marciana encontra-se desconectada ou mal integrada. Efetivamente, se lembrarmos que Marte é significador de violência, de armamentos e de forças armadas, as implicações são claras: os novos governos assumem num momento de escalada da violência (já apresentando quadros típicos de terrorismo urbano em estados como Rio, São Paulo e Espírito Santo) e algumas questões envolvendo o papel das forças armadas - inclusive as polícias militares - emergem como pendentes de solução. Todos os novos governadores e, em especial, o presidente da República terão de dedicar atenção especial ao tema, sob pena de uma "colombianização" do país.

Sol em Capricórnio e Saturno em Leão - Saturno em Leão está em exílio, podendo indicar, conforme o caso, vazio de poder, governantes fracos, subversão do princípio da autoridade ou, ao contrário, uma certa disposição imperial, dada o viés autoritário tanto de Leão quanto de Capricórnio, um dos domicílios de Saturno. Contudo, a presença do Sol em Capricórnio cria o que se costuma chamar de recepção mútua, ou seja, a troca de domicílio entre dois planetas. Tal condição fortalece os planetas envolvidos, pois funciona como um intercâmbio de poderes, dando a cada um recursos adicionais, ou saídas alternativas para as dificuldades. Esta não é exatamente a melhor recepção mútua que poderíamos desejar, já que um dos planetas está em exílio, mas tem a virtude de atenuar a fragilidade do posicionamento de Saturno em Leão.

É interessante observar que apenas uma das posses consideradas apresenta um mapa com Sol angular. Trata-se da posse de Walder Góes, governador do Amapá, que assumiu com o Sol no Fundo do Céu.

Lua em Gêmeos - Em mapas mundanos, a Lua é tradicionalmente considerada um significador do povo comum, das flutuações da opinião pública, dos vínculos emocionais, das mulheres, do abastecimento de gêneros de primeira necessidade (especialmente alimentos), das águas e, por vezes, dos aposentados. No dia 1º de janeiro de 2007 a Lua esteve em Gêmeos, o que já nos permite extrair algumas observações gerais:

Sendo Gêmeos um signo mutável, ávido por novidades e pouco fiel em suas preferências, a receptividade popular com respeito aos governantes recém-empossados poderá apresentar fortes variações ao longo dos próximos quatro anos. Como Gêmeos tende a rejeitar os vínculos emocionais muito fortes, nenhum político será preservado simplesmente pelo que já fez em outras épocas - e isso vale mesmo para o presidente Lula. Conceitos e reputações oscilarão muito ao sabor do momento, o que significa dizer: em função dos resultados que os novos governos apresentarem e do que deles disser a imprensa (uma instituição geminiana).

Por falar em resultados: Mercúrio, o dispositor dessa Lua, encontra-se em Capricórnio, signo frio e pragmático por definição. Neste sentido, políticos que tendem a confiar muito no apelo emocional da tradição e de um longo relacionamento com os eleitores podem ter sérias decepções. Por outro lado, estarão em alta (ao menos enquanto forem convincentes) os políticos bem articulados, de palavra fácil e capazes de apresentar resultados de curto prazo. Em outras palavras: os bons comunicadores e os tocadores de obras já saem com alguma vantagem.

Nos vários mapas de 1º de janeiro, a Lua funciona como um focalizador: em algumas posses esta Lua fecha uma quadratura T com Júpiter e Urano, enfatizando ainda mais tal configuração e dando-lhe uma tonalidade mais dramática e exagerada. É o caso da Bahia, onde o mapa de posse apresenta a Lua em posição angular. Já em outros mapas a Lua fecha uma oposição com Marte, o que enfatiza a questão da violência, com todas as suas variantes. Naturalmente a tendência se exacerba onde a Lua é angular, caso do Distrito Federal e de Pernambuco. O Rio de Janeiro entra numa categoria especial, pois a posse de Sérgio Cabral apresenta a Lua angular em aspectos tensos simultaneamente com Urano e Marte.

A posse do Presidente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu o seguinte cerimonial no início de seu segundo mandato, segundo horários coletados pelo astrólogo Antonio Carlos Harres:

  • 16h18 - Jurou a Constituição.
  • 16h20 - Foi declarado empossado.
  • 16h24 - Ouviu a leitura do Termo de Posse.
  • 16h27 - Assinou o Termo de Posse.
  • 17h18 - Encerrou sua participação na cerimônia de posse no Congresso.
  • 18h10 - Sobiu a rampa do Palácio do Planalto já com a faixa presidencial.
  • 18h20 - Iniciou discurso no parlatório do Palácio.

Mais precisamente, a declaração de posse ocorreu às 16h20min35s, horário para o qual foi calculado o mapa abaixo.

Posse de Lula como presidente da República - segundo mandato
01.01.2007, 16h20min35s HV (-02:00)
Brasília, DF - 047w55, 15s47. Fonte: transmissão da TV.

Saturno, regente tradicional de Aquário no Meio do Céu (o governante), encontra-se exilado por signo e por casa e retrógrado no Fundo do Céu, sem contar que recebe uma oposição de Netuno, co-regente da casa 11 (o Congresso Nacional). Na pior das hipóteses, eis aí o retrato de um líder destronado. Na melhor, alguém que governa enfrentando sérias limitações, numa situação de fraqueza e com sua autoridade sempre minada pela oposição do Congresso Nacional (Netuno, co-regente da 11, atua negativamente pelo desgaste, pela corrosão das bases, tal como no ditado: "água mole em pedra dura tanto bate até que fura"). Como Netuno está no final da casa 9, significadora de comunicação de longa distância e de leis, a oposição pode vir também através da imprensa e do envolvimento de amigos (casa 11) em inquéritos e processos judiciais (casa 9). Mais confusão com os "aloprados"?

Definitivamente, não é uma grande carta. Mas há algumas atenuantes, pois nem Saturno é o único regente do Meio do Céu nem está tão desamparado assim. Aquário tem também Urano como regente moderno, e Urano está na própria casa 10, em Peixes, em sextil com o Sol na 8 que, por sua vez, encontra-se em recepção mútua com Saturno. O que significa? Que Lula terá a chance de contornar o quadro de desgaste e perda de poder indicado por Saturno caso tenha disposição para promover um conjunto de reformas estruturais (Capricórnio na casa 8) que lhe dê condições de governabilidade. Isso significaria mexer com diversos assuntos de casa 8, entre os quais se destacam a previdência social, o orçamento público, a taxa de juros e a margem de lucros de bancos e instituições financeiras. E teria de fazê-lo muito rápido, de maneira fulminante (Urano), caso queira ter alguma chance de sucesso.

Outra possibilidade indicada por Saturno é a ocorrência de problemas relacionados a investimentos no exterior, segurança nas fronteiras ou tentativa de interferência estrangeira nos assuntos internos do país. Isto porque Saturno é o regente da casa 9 e encontra-se em oposição ao Meio do Céu - que coincide, aliás, com o Ascendente do mapa da Independência. A tradução é: fatores restritivos que chegam do exterior e se "instalam" no próprio país. As possibilidades são muitas, e o vilão da ocasião pode ser qualquer país vizinho ou qualquer potência com poder de pressão em organismos internacionais. Contudo, a chance maior fica com os países leoninos (Sol ou Ascendente em Leão), o que coloca sob suspeita, de imediato, a Colômbia (uso do Brasil como rota de passagem do tráfico), o Peru e a Bolívia do indefectível Evo Morales.

Isoladamente, o aspecto mais impressionante do mapa de posse do presidente - e que não se repete no mapa de nenhuma das posses estaduais estudadas - é a conjunção do Ascendente com a estrela fixa Algol, da constelação do Perseu, exatamente a que carrega a pior fama de toda a abóbada celeste.

O nome Algol vem do árabe "al Ghul", que significa "o Demônio". Na constelação do Perseu, Algol representa o olho esquerdo da Górgona Medusa, cuja cabeça foi usada por Perseu para transformar Cetus em pedra e salvar Andrômeda; a estrela foi considerada de "má sorte" por séculos. (fonte: Wikipedia. Ilustração: Perseu com a cabeça da Medusa, na visão de Benvenuto Cellini)

Segundo Vivian Robson, autor da mais conhecida compilação de significados tradicionais de estrelas fixas, Algol está relacionado ao seguinte:

De natureza Júpiter-Saturno (...) causa infortúnio, violência, decapitação ou enforcamento, eletrocução, violência popular, natureza violenta que causa a própria morte ou a de outros.

O significado parece claro. Lula estará lidando nos próximos quatro anos com a força do crime organizado que já ensaia tomar conta do Rio de Janeiro e de São Paulo. Antes de pensar que o presidente possa "perder a cabeça", cabe pensar que seu desafio é conter a crescente maré de violência, o que significa, simbolicamente, "decapitar" as lideranças ligadas ao narcotráfico e ao comércio ilegal de armas. Se não o conseguir, ou se não assumir uma postura claramente combativa, corre o risco de lidar com os significados mais difíceis de Algol. Tudo isso é reforçado, aliás, pela oposição Lua-Marte em quadratura com os nodos, mostrando a necessidade de lidar com um inimigo que sai das sombras e se torna evidente (Marte rege a clandestina casa 12 e está presente na 7, dos inimigos abertos).

Como temos o momento exato da posse, vale também lembrar o significado do grau simbólico correspondente ao Ascendente:

Volosfera - Touro 26. Uma mulher loira, trazendo uma criança pela mão, colhe flores no campo, ao longo de um caminho no fim do qual um homem bondoso lhes estende a mão, para as ajudar a transpor um vau.

Calendário Tebaico - Um homem em pé, a mão estendida.

A mulher loira parece simbolizar o próprio governo, que precisa conduzir o povo (a criança) para uma situação melhor e mais segura. Colher flores no campo pode representar o desenvolvimento das atividades econômicas, em geral, das quais o país depende. Contudo, mais adiante há um obstáculo - um curso d'água - para cuja travessia a mulher necessitará de alguma forma de ajuda. Neste momento estará disponível um "homem bondoso" - que pode aqui tanto indicar uma pessoa quanto uma instituição (um novo partido político de sustentação ao governo?). De qualquer forma é curioso pensar que o mesmo grau temido pela presença da estrela fixa Algol abriga também uma das imagens mais bucólicas da Volosfera, onde costumam abundar, diga-se de passagem, as imagens de facas, punhais, espadas e cenas de perseguição.

Seja como for, a técnica dos graus simbólicos surge como um contraponto para as outras que aqui utilizamos, já que sugere que o Brasil se sairá bem dos desafios do próximo mandato.

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