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CONHECIMENTO DA ASTROLOGIA

Restaurando a essência
de alguns conceitos astrológicos

Angela Schnoor

 

Visões parciais de Áries e do Caranguejo

Outro conceito chavão é que o signo de Áries traz consigo, obrigatoriamente, as qualidades de impetuosidade e agressividade. Este é um padrão que acompanha sim, em tese, os arianos dos primeiros dias da primavera. Ora, após o degelo, os restos do ciclo anterior tinham de ser arrancados para que as sementes pudessem ter campo para brotar. Como este era um trabalho que exigia força bruta, muita energia e ímpeto, os primeiros dias do signo do Carneiro têm seus graus imbuídos destas qualidades. O resto do tempo é de brotação do ciclo novo, não necessariamente com brutalidade, mas com impulso de vida. Criatividade, energia e facilidade para conceitos e idéias novas preenchem o meio do ciclo ariano que se encerra com menos impulso e aceleração mais reduzida, à medida que a intenção taurina de enraizamento se inicia. Penso que os antigos conceitos dos decanatos se aplicam bem a estas fases distintas de todas as qualidades do ciclo vital a que chamamos zodíaco.

O terceiro conceito que quero discutir é o do signo do Caranguejo. A memória do início dos verões chuvosos, plenos de insetos em busca do aumento da luz, pode nos clarear bastante seu conceito intrínseco. [O primeiro astrólogo que ouvi colocar, em público, esta questão do signo de Câncer foi Graça Medeiros, no E...vento ocorrido na Gávea, Rio de Janeiro, e produzido por Antônio Carlos Harres, o Bola, no ano 2000.]

A relação quase imediata que se faz deste signo com casa e família retrata um conceito social restrito demais para uma qualidade universal, que não só está afeta a este signo, mas é própria de toda a astrologia.

Ora, o que se encontra por trás, e mais internamente, dentro destes conceitos batidos e redutivos é: desejo ou necessidade de proteção e envolvimento. Muitas vezes, esta proteção é encontrada em estranhos, nas estradas e em várias outras circunstâncias fora da família, longe da "mãe" tradicional. A natureza envolve seus frutos, o homem cria invólucros protetores para que o seu trabalho não sofra ataques predatórios de insetos, de outros homens etc. O apego gerado pelo envolvimento é típico da troca protetora do Câncer. Aonde se encontre o encapsular-se, aí teremos esta qualidade presente, muitas vezes na autoproteção pessoal quando este signo está no Ascendente.

O que ocorreu, no meu entender, é que a instituição da família e sua posterior romantização e idealização trocou a busca natural de interiorização e abrigo por condições encontradas fora dos indivíduos, mais freqüentemente nos agrupamentos familiares. As "mães" ou suas substitutas passaram a ter que, obrigatoriamente, exercer este papel dentro de um esquema familiar instituído e socialmente aceito.

Quantas frustrações e quantas prisões este conceito reduzido causou? Que diríamos da natureza que procria e cuida, sem posses ou prisões a esquemas pré-determinados, guiada apenas pelos mandatos da necessidade de sobrevivência própria de cada espécie?

Sol sobre uma estrutura sólida e gelada (como Capricórnio na 12) e...
... nascendo do infinito das águas, como em Peixes na 12.

Libra, casamentos e continuidade das espécies

Outra questão, juntamente com a canceriana e que se faz urgente rever nos dias atuais é o conceito libriano de casamento e de amor.

O casamento é apenas um contrato de interesses. Sua origem data das primeiras associações feitas com a finalidade de preservar a sociedade, aumentar seu contingente e, com isso, mais tarde, a mão-de-obra para o trabalho e a defesa das cidadelas, além de vincular e acumular bens. Mais tarde vieram os dotes, que reforçam a negociação presente nos casamentos. Os noivos, numa sociedade com predomínio da força masculina, não conheciam sequer seus parceiros.

O interesse na continuidade das espécies, razão básica de toda a vida, fica mais claro ainda em culturas onde a natureza é inclemente e as ameaças à sobrevivência são maiores. É o caso dos povos do deserto, por exemplo, onde o sistema dos haréns não encontra nenhuma resistência, muito pelo contrário. Em se tratando, em primeiro lugar, da procriação para defesa e povoamento dos clãs, há que haver a poligamia, pois cada mulher demora um período longo para gerar filhos, enquanto o homem produz muitos espermatozóides e pode fecundar várias mulheres ao mesmo tempo. Desta feita, a comunidade fica povoada em menor tempo. Nos trópicos esta necessidade torna-se menor, as condições de fertilidade e de sobrevivência são maiores graças ao clima, entre outras.

Nos casamentos de hoje estas bases tornam-se muito claras, quando as uniões acabam. Então, os parceiros mostram seus verdadeiros motivos: as discussões nem sempre pacíficas sobre os interesses e as posses.

Nas cidades grandes de nosso século, encontramos cada vez menos espaço e condições materiais de sobrevivência. O homem se afasta cada vez mais de suas condições naturais de vida e a resultante é que procriação e casamento tornam-se desnecessários, a competição cresce e até as parcerias e a sexualidade mudam seus objetivos

A Virgem e a Libra, antigamente, eram vistas como uma mesma constelação até que o Homem inventou a balança e as representações da Virgem e da Libra foram vistas em separado. À época, os casamentos tinham um interesse social e hoje ainda o conservam, embora mascarado. O que contaminou a pureza do conceito de parceria e associação foi o romantismo, a Igreja e o Estado que, por questões de controle, intentou transformá-lo em amor e romance.

Ora, o amor que se espera de um casamento é algo bem diverso. Deseja-se a paixão que termina ou diminui com a fecundação e os compromissos. Não é impossível haver amor numa associação de casamento, mas este amor da Libra e da sétima casa, segundo a leitura da astrologia, é o companheirismo construído aos poucos. O elemento Ar, presente nas associações, tem a qualidade fria da razão.

A paixão, o prazer e a sexualidade dos amantes está melhor enunciada na casa cinco e no Leão. Estas experiências de vida tem suas raízes na auto-estima, em tudo que desperta o sentido de prazer, e na vontade de viver de que está prenhe este signo, que tem no verão e em seus frutos sua expressão mais marcante. O verão exacerba a libido da natureza e a sensualidade exibida gera a atração para o acasalamento. O fruto precisa ser despido de sua proteção (o invólucro canceriano) e precisa ser comido para liberar a semente que contém.

Acho que o fato de relacionarem-se filhos à casa cinco se deve, principalmente, ao fato de que o primeiro filho, quase sempre, é fruto ainda da paixão. Os filhos, como continuação da espécie, da vida e da natureza estão, em meu ponto de vista, nas experiências da casa oito e do Escorpião!

A sexualidade do Escorpião


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