O que fazer com o material
O formato e as dimensões do vidro delimitam
um espaço que se torna o continente para as expressões
do inconsciente, oferecendo ao mesmo tempo liberdade e limites.
As dimensões são estabelecidas pelas medidas do retângulo
3x4 ou do Retângulo Áureo - 1 x 1,618 - que representa
a relação perfeita entre o Céu (3=Espírito)
e a Terra (4 = Matéria).
As cores são, simbolicamente, a expressão
dos sentimentos e afetos, assim como a água, que também
se relaciona com a fusão e a fluidez. Deste modo, a pessoa
ensaia neste exercício o "seu lidar" com os sentimentos
e emoções, aprendendo a fluir dentro de um continente
de segurança.
Após ouvir o que a pessoa traz para a sessão,
coloque-a numa condição de relaxamento e, se for do
seu agrado, faça tocar música neutra e calma.
Faça com que se sente em frente ao material
disposto sobre uma mesa (exceto o varal e grampos). Diga-lhe para
escolher as cores que deseja combinar e com as quais sente maior
afinidade no momento.
Uma vez escolhidas, um pouco de cada cor deverá
ser colocado sobre o vidro, nos lugares do mesmo em que a pessoa
desejar.
Oriente-a para que use um conta-gotas ou os pincéis
para levar água aos bocados de tinta até diluí-los,
a fim de que as cores se misturem e se interpenetrem. Quanto mais
água, mais claras e diluídas se tornam as manchas
coloridas. Não deve restar sobre o vidro nenhuma tinta densa.
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Peça para que o cliente não pense
muito, procurando fazer seus borrões mantendo a tinta
molhada sobre o vidro. Diga para que ele procure estar consciente
dos sentimentos mais pregnantes que surgem enquanto espalha
as cores sobre o vidro.
Uma vez concluídas as manchas, instruir
para que pegue uma folha de papel e coloque-a por cima do
vidro, prensando delicadamente o papel para que absorva as
cores, imprimindo o desenho.
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Retire o papel em seguida para que a tinta não
venha a secar, evitando que o papel fique colado ao vidro e pendure
no varal ou coloque num lugar próprio para secar.
Caso ainda haja tinta no vidro e a pessoa queira continuar, poderá
colocar mais água para aproveitar novas imagens da mesma
mancha, assim como colocar também mais tinta e fazer nova
impressão.
Terminada esta fase do trabalho é importante
que o material seja lavado e limpo com água e papel. Esta
parte do ritual (virginiana) torna-se muito importante nestes casos
e antecede o processo de análise que se segue.
Enquanto a pessoa executa seu trabalho, o terapeuta
senta silenciosamente a um canto e só responde caso seja
solicitado, procurando não interferir nas dúvidas
ou dificuldades assim como no resultado, apenas observando as reações
e o comportamento geral do cliente.
Uma vez secas, as monotipias são numeradas
e datadas e voltam para a mesa de trabalho, onde, com a caneta preta,
o cliente vai procurar todas as imagens que identificar nas manchas
feitas. Girando o desenho em todas as direções, cada
vez que encontrar uma imagem (que pode ser parcial, total, micro
ou macro) deverá contorná-la nitidamente com a caneta
e nomeá-la, escrevendo ao lado dela aquilo que representa.
É interessante que as verbalizações
e os sentimentos experimentados durante o processo sejam anotadas
pelo terapeuta.
Esta atividade dá forma à energia difusa
que assombrava a pessoa no limiar dos contornos do Ego. E em seu
conjunto esclarece os conteúdos presentes no inconsciente.
Considero-a como um instrumento da Imaginação Ativa
criada por Jung.
Ao acompanhar os trabalhos do cliente juntamente
com os trânsitos e progressões, aprendemos muito. Para
o cliente, na maioria das vezes, o próprio desenrolar do
processo é terapêutico, catártico muitas vezes,
e se houver interpretação ela deverá ser feita
no final de um conjunto de trabalhos, quando o processo de transformação
(e os aspectos astrológicos) tiver sido concluído,
com exceção para aqueles momentos mágicos quando
o insight do cliente traz o numinoso para o set terapêutico.
Observação: devido ao objetivo terapêutico
presente neste exercício, seria aconselhável a sua
utilização por astrólogos/psicoterapeutas ou
arteterapeutas. Aos terapeutas, recomendaria a assessoria de um
astrólogo, assim como recomendaria o acompanhamento de um
psicólogo aos que se dedicam somente à astrologia
e que desejam experimentar este recurso. Esta sugestão surge
apenas de um maior cuidado com o melhor aproveitamento dos dois
enfoques, visto que, segundo o pensamento de Jung, a psique é
constituída da interação entre consciente e
inconsciente e é um sistema auto-regulado. O impulso em direção
à realização e à totalidade (Self) sugere
que, assim como o corpo, a psique tem, sob circunstâncias
adequadas, a tendência de curar a si própria.
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de Pádua M. Schnoor.
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