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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 90 :: Dezembro/2005 :: -

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A ASTROLOGIA E OS NOMES

O batismo cristão dos deuses pagãos

Constantino K. Riemma

Um exercício de aproximação

Ainda que persistam as ressalvas, nada impede que nos exercitemos na direção proposta pelo Anônimo autor.

A divinização da Virgem Maria é um evento tardio na tradição cristã, surgido a partir do segundo milenário, mas que se encontra a tal ponto sedimentada entre os cristãos católicos, que sua inclusão nos parâmetros astrológicos não seria de todo inconcebível. No entanto, também aqui uma interrogação desponta inevitável: ela não caberia melhor como representação da Lua, princípio materno, matricial, mais que de Saturno, como está proposto pelo Anônimo citado? Por outro lado, tal como o Arcanjo Miguel fala do eixo Áries-Libra, nesta aproximação simbólica a Virgem fala claramente do eixo Câncer-Capricórnio.

Duas faces de Maria. A primeira, como mãe, aleitando o menino Jesus, preenche o sentido de Lua-Câncer. Já como Virgem, intocada e que submete a Lua - parece permitido falar assim, visto que a figura da direita tem o luminar a seus pés - coloca seu significado simbólico em ressonância ao rigor de Saturno.

Não parece, portanto, inteiramente gratuita a correlação entre a Virgem Maria e Saturno. Ambos simbolizam a função mediadora para as forças invisíveis se manifestarem nos limites de nossa percepção terrestre. Saturno é o agente que dá forma, estrutura e limite aos corpos manifestados no âmbito do sistema solar; a Virgem Maria, de modo similar, é a entidade que dá corpo terrestre a um dos princípios constitutivos da Trindade. Além disso, na prática astrológica, existem aqueles que atribuem uma conotação materna a Capricórnio-Saturno-Casa 10, especialmente quando destacam o papel formador e cristalizador da mãe que, no espaço doméstico, tende a ser mais presente e determinante do que a figura do pai. De fato, é relativamente freqüente constatarmos, nos temas natais, que a influência da mãe está melhor retratada na Casa 10 (comumente relacionada ao status social, pai) do que na Casa 4 (lar, mãe).

Quanto a Mercúrio e Júpiter, regentes do eixo Gêmeos-Sagitário, torna-se instigante a transposição, respectivamente, para os "Pastores humanos" e o Espírito Santo. Se tal transposição, de uma parte, levanta objeções quanto à disparidade hierárquica de níveis das entidades colocadas frente a frente, de outra parte dá um novo colorido à comunicação e à transmissão do conhecimento, com realce para a inspiração celeste - o Espírito Santo - na revelação do conhecimento superior, representado em nossa astrologia usual por Júpiter-Sagitário (filosofia, conhecimento superior). A Mercúrio-Gêmeos estaria incumbida a tarefa da tradução e difusão do conhecimento revelado.

Será que, como astrólogos, admitiríamos sem maiores discussões uma tal diferença de nível de qualitativo entre os "Pastores humanos", como regentes de Gêmeos (Casa 3), e o Espírito Santo, como senhor de Sagitário (Casa 9)?

Por outro lado, os dons do Espírito Santo também ajudariam a traduzir com novas ressonâncias as experiências místicas relacionadas ao signo de Peixes que, do ponto de vista da simbologia astrológica que utilizamos usualmente, compartilha o mesmo regente (Júpiter) com Sagitário.

 

O Espírito Santo se manifesta no círculo esotérico (Júpiter-Sagitário, acima) e o Pastor humano, na praça (Mercúrio-Gêmeos, ao lado), transmite a mensagem revelada.

Vênus, por sua vez, ao ser substituída pela imagem do Calvário, do Cristo crucificado, estabelece um chocante confronto de oitavas: a Vênus-Afrodite - senhora do amor sensual, dos desejos de pele (Touro), polarizada pelos intensos e poderosos impulsos carnais (Marte-Escorpião) - é transmutada no amor universal e transubstancial do Salvador. De novo, estamos frente ao convite de ultrapassar o nível psíquico e vislumbrar o mundo espiritual, transcendente. Somos convidados a ampliar nossas interrogações para além do âmbito mitológico.

À esquerda: o Filho de Deus se dá ao sacrifício e à morte (Marte-Escorpião), por amor aos homens (Vênus-Touro)

[Entre parênteses: devo confessar que, só depois de ter buscado ilustrações, intencionalmente as mais antigas possíveis, para agregar a esse texto, é que me dei conta do quanto elas estimularam a percepção da unidade subjacente aos pares de opostos zodiacais. Quero deixar registrado meu testemunho ao desconcertante conhecimento e poder dos "Imagiers du Moyen Age", das escolas que sabiam transmitir o conhecimento por meio de imagens.]

E o Sol?

Usualmente, na análise astrológica, dá-se um peso maior aos luminares e ao Ascendente, mas não se atribui entre eles uma hierarquia de significados. Na tradição cristã, no entanto, o dia do Sol, domingo, é Dies Dominicus, ou seja, o Dia de Deus. É o dia do repouso, da quietude, da contemplação da obra realizada. Corresponde ao nível de consciência que ilumina, mas não interfere; indica o eixo imóvel em torno do qual tudo gira e se manifesta. Nesse sentido, para estabelecer uma referência cristã, o Sol poderia ser figuração do Pai, a primeira pessoa da Trindade, ou da própria Trindade.

Na sugestão do autor Anônimo de Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô, o princípio solar é representado pela figura do Ressurrecto, que podemos entender como a prometida e gloriosa individuação do homem que cumpriu sua trajetória evolutiva, ao enfrentar todas as provas e provações colocadas pela lei de Deus e pelas improvisações do diabo...

O Ressurrecto é representado, na iconografia cristã, em dois momentos. Um, à esquerda, na redenção do mortos, na paternal providência de libertação (Saturno-Aquário) de seus filhos. Outro, abaixo, na retomada de seu espaço próprio de glória, transubstancial (Sol-Leão). A auréola no formato de amêndoa (mandorla), muito difundida na Idade Média, e que se encontra inscrita, com Cristo ao centro, em todas as catedrais góticas, tem clara evocação vaginal. Pareceria uma forma mais compatível com Lua-Vênus, mas que pode também falar do caráter andrógino (Aquário) do ser realizado, reunificado (Leão).

Embora não seja assim que os astrólogos, em geral, entendam o Sol no estudo do tema natal, somos instados a transpor uma lacuna de conhecimento para começarmos a traduzir o "Astro Rei" como atributo essencial do Espírito, como o princípio de vida que antecede as manifestações formais dos planetas e da Lua, bem como de suas traduções concretas representadas pelas Casas. Uma compreensão ampliada do Sol exigiria que nos aproximássemos de potencialidades transcendentes e sutis para as quais nos faltam, no mais das vezes, não só as palavras mas, principalmente, entendimento. É por essa exata razão que os mestres de todos os tempos recorrem a mitos e parábolas, para nos apontar uma direção... E com essa afirmação retornamos, numa elipse, ao nosso ponto de partida. É o momento de terminar.

Para concluir

Ao tratar da questão dos nomes para os astros, nós nos deparamos inevitavelmente com questões mais centrais, essenciais, relacionadas às qualidades do Cosmo, suas leis e suas gradações. Somos levados a reconhecer que o tema da nomenclatura tem implicações muito maiores do que suspeitamos de início: estamos frente ao enigma dos níveis de consciência e dos caminhos da possível evolução do homem, assuntos que transcendem o nosso conhecimento astrológico. Se aceitarmos a evidência de que esse mistério nos ultrapassa, estaremos diante da constatação dos limites de nosso conhecimento. Torna-se, portanto, compreensível toda dificuldade que encontramos, nos momentos de verdade, para estabelecer uma ponte viva entre o conhecimento técnico da astrologia e o Espírito.

No entanto, essa confrontação não é sem esperanças. Nas instâncias em que a Astrologia faz fronteira com o Transcendente, somos convidados, de um lado, a nos reconciliar com nossa limitação, pequenez, o que representa um gesto nem sempre muito fácil, mas, de outro lado, isso nos realimenta o desejo de conhecer e o fascínio pelo Mistério.

Saiba mais sobre Constantino K. Riemma.



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