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PREVISÕES

O ingresso solar de 2014 e
o Grande Quadrado de abril

Fernando Fernandes

Poucas vezes nos últimos anos tivemos uma configuração tão tensa quanto o Grande Quadrado da segunda quinzena de abril de 2014. Hora de manter a serenidade e preparar tempos melhores.

O mapa do Ingresso Solar em Áries, quando o Sol cruza o equador celeste e distribui sua luz de maneira uniforme pelos dois hemisférios, sempre foi uma das mais importantes ferramentas de previsão em Astrologia Mundial. Através deste mapa é possível sentir a atmosfera geral do ano astrológico. Ao recalculá-lo para cada capital nacional, é possível tirar conclusões mais específicas, válidas apenas para aquele país.

A grande marca do Ingresso Solar 2014, ocorrido em 20 de março, é a Quadratura T formada por Urano, Plutão e Júpiter. Não bastasse a turbulência já associada a esta configuração, Marte fecha com os três planetas um Grande Quadrado na segunda quinzena de abril, definindo o momento mais tenso de todo o ano.

Ingresso Solar 2014

Ingresso Solar 2014 - 20.3.2014, 16h57 UT - Mapa genérico, sem divisão de casas.

A dinâmica da Quadratura T e a roupa nova do rei

A quadratura entre Urano e Plutão continua a ser o grande motor do ano, tal como nos anos anteriores. Trata-se de uma configuração de longa duração, que ainda estará ativa no Ingresso Solar de 2015. Neste ano, porém, Urano em Áries e Plutão em Capricórnio contam com um coadjuvante de peso, que é Júpiter em Câncer. O desenho formado pelos três planetas é a conhecida Quadratura T, quando dois planetas encontram-se em oposição entre si e fechando quadraturas a um terceiro. Na interpretação da Quadratura T é importante considerar dois fatores:

a) que planeta recebe a quadratura dos outros dois, pois ali tende a ser o principal vetor de energia, o foco onde mais claramente se manifestam os significados dos planetas envolvidos. No caso presente, Urano em Áries ocupa este papel.

b) que quadruplicidade - cardinal, fixa ou mutável - abriga a quadratura. Como a configuração de 2014 envolve planetas em signos cardinais, podemos esperar ação, decisões rápidas, iniciativas e avanços - para o bem ou para o mal.

 

Quadratura T

Quadratura T do Ingresso Solar 2014.

A dinâmica básica da Quadratura T de 2014 pode ser exemplificada no conto A Roupa Nova do Rei, publicado por Hans Christian Andersen, em 1837: um espertalhão faz-se passar por um famoso alfaiate estrangeiro e engana o rei, afirmando-se capaz de tecer um traje magnífico, que apenas as pessoas mais inteligentes e refinadas seriam capazes de admirar. O rei, muito vaidoso, logo cai na armação e fornece ao alfaiate todos os materiais caros que este solicita. O alfaiate passa meses vivendo às custas do governante, enquanto finge que tece fios invisíveis. Os cortesãos, para não passarem atestado de ignorância, também fingem que são capazes de enxergar o "tecido", e emitem elogios exagerados. Depois de algum tempo o rei aparece para experimentar o traje maravilhoso. Não consegue ver roupa alguma, mas, como todos os cortesãos emitem exclamações de admiração diante da suposta túnica invisível, o monarca também engrossa o coro dos admiradores, e permite-se "vestir" a túnica e desfilar com ela em praça pública.

Rei nuO Rei nu, ilustração de um site espanhol de sátira política.

Evidentemente, ninguém tem coragem de admitir que não está enxergando nada além das banhas do rei. Apenas um menininho não se contém e, apontando o dedo, grita para a mãe: "Olha lá, o rei está nu!" É o suficiente para que todos caiam na gargalhada, obrigando o monarca, envergonhado, a deixar a praça enrolado em alguma toalha.

Capricórnio é um signo ligado ao exercício do poder, à política e às ambições de ascensão social. Plutão, por sua vez, é um significador de processos de expurgo, nos quais, como numa erupção vulcânica, conteúdos jogados para "debaixo do pano" vêm à luz de maneira súbita, chocante e irreversível. Plutão em Capricórnio manifesta-se, portanto, nos escândalos envolvendo políticos e magnatas, que vêm pipocando com grande intensidade nos últimos anos, mundo afora.

Plutão em Capricórnio, um símbolo perfeito para os podres poderes, pode ser associado ao rei vaidoso e incapaz de tomar decisões inteligentes, assim como aos cortesãos bajuladores do conto de Andersen.

Já Urano em Áries pode ser corporificado no menininho que tem a audácia de gritar que o rei está nu. Em analogia com o comportamento infantil, Urano em Áries reage de forma direta, instantânea, sem premeditações e sem subterfúgios. Não é difícil associar este trânsito com as multidões em protesto pelo mundo, formadas na maioria por jovens.

Júpiter em Câncer, ao invés de suavizar, magnifica e dá uma dimensão ainda mais dramática ao conflito entre o poder arbitrário e as multidões em revolta. Câncer é o signo das raízes familiares, dos laços de sangue, dos vínculos determinados pelo passado comum. Mais amplamente, é o signo do clã, da tribo, do pertencimento a uma minoria étnica, linguística e religiosa. Com Júpiter, um planeta social, neste signo tão intensamente ligado ao conceito de família, não é de estranhar que as rivalidades locais e os conflitos étnicos de toda ordem estejam em alta. Como Júpiter em Câncer participa da configuração com Urano e Plutão, o que temos é uma mescla de questões sociais, políticas e étnicas, num caldeirão altamente explosivo. Um bom exemplo dos excessos que podem ser despertados pela Quadratura T é o conflito na Ucrânia, onde pequenas diferenças étnicas entre o leste, mais vinculado à cultura russa, e o oeste, mais ocidentalizado, vêm servindo de pretexto para uma exacerbação de sentimentos que pode levar o país à guerra civil.

As aflições de Marte e Vênus

Marte é importante em qualquer ingresso solar em Áries, dada sua condição de dispositor do Sol. Por isso, chama a atenção de imediato o fato de Marte estar em exílio (Libra) e retrógrado, duas condições que tendem a trabalhar contra a fluência natural da energia deste planeta.

Se Marte é um símbolo de ação direta e energia assertiva, na retrogradação tende a atuar por vias oblíquas, não tão evidentes, mas não menos violentas.

A prova de que Marte retrógrado em Libra não é "bonzinho" pode ser extraída da análise das únicas quatro ocasiões, ao longo dos últimos 110 anos, em que apresentou-se assim no Ingresso Solar em Áries. Vejamos o que aconteceu:

Batalha de Mukden1903 - Invasão britânica ao Tibete e, já no início de 1904, mas no mesmo Ingresso Solar, início da guerra russo-japonesa com a ocupação japonesa de Porto Artur.

Direita: Batalha de Mukden, mais violento conflito da guerra russo-japonesa.

1935 - Invasão e ocupação da Etiópia pelas tropas fascistas do ditador italiano Mussolini; na Alemanha, Hitler cassa a cidadania das comunidades judaicas, dando a base legal para a perseguição que só terminaria com o extermínio de 6 milhões de judeus nas câmaras de gás.

Invasão da Etiópia

A invasão da Etiópia por Mussolini, em 1935, opôs uma máquina de guerra europeia a um exército quase medieval. Em poucos dias o imperador Hailé Selassié estava deposto. Décadas mais tarde seria mitificado como uma figura semidivina no culto rastafari da Jamaica.

1950 - Início da Guerra da Coreia, com a ocupação de parte do território do país por uma coalizão de forças russas, chinesas e milícias comunistas coreanas.

1982 - Invasão por tropas israelenses dos campos de refugiados de Sabra e Shatila, no sul do Líbano, com extermínio de centenas de pessoas desarmadas; invasão argentina às Ilhas Malvinas, então pertencentes à Inglaterra, do que resultou uma guerra com centenas de mortos.

Marte em Libra: a fábula do lobo e do cordeiro

Todos os eventos relacionados a Marte retrógrado em Libra guardam analogia com a velha fábula do lobo e do cordeiro: há sempre uma enorme desproporção de forças, e a parte atacante sempre utiliza o fator surpresa para iniciar uma guerra-relâmpago e ocupar territórios da parte atacada. Todas as agressões foram cuidadosamente premeditadas. Nenhum desses conflitos teve outra motivação senão a ambição territorialista da potência que tentou aproveitou uma superioridade circunstancial; e nenhuma dessas ocupações durou mais do que alguns poucos anos.

Lobo e Cordeiro

Marte retrógrado em Libra parece ter consciência de que não é a força bruta que vence as guerras, mas sim o planejamento racional de ações fulminantes. Os atacantes agem com cinismo enquanto o mundo ao redor se cala. Foi assim com o Tibete de 1903 (quem recriminaria os ingleses?) e com a Etiópia de 1935 (quem desafiaria Hitler?). Também está sendo assim com a Ucrânia de 2014. E eventos da mesma natureza podem ocorrer em outras regiões do mundo onde houver uma potência ávida de poder ao lado de um vizinho circunstancialmente desprotegido.

Aflicões de Vênus e Marte

Aflições de Vênus e Marte no Ingresso Solar 2014.

Outro ponto a acrescentar é que Vênus, planeta regente de Libra e dispositor de Marte no Ingresso Solar de 2014, encontra-se tensionado em Aquário, formando quadratura com a Lua em Escorpião. Vênus, planeta da paz e da diplomacia, não costuma conduzir a bons resultados quando envolvido em tais aflições. Muita gente se perguntará, em 2014-15, para que servem a ONU e os demais organismos internacionais de mediação de conflitos.

Abril, o mês mais perigoso

O período potencialmente mais explosivo de 2014 é a quarta semana de abril, especialmente entre os dias 20 e 23, quando Marte retrograda até os graus da Quadratura T, transformando-a num Grande Quadrado em signos cardinais. Dois eclipses agregam ainda mais adrenalina a este mês conturbado: o primeiro em 15 de abril (lunar total) e o segundo em 29 de abril (eclipse anular do Sol).

Sendo Marte mais rápido que os demais planetas envolvidos, cabe a ele o papel de gatilho de possíveis crises, impasses e conflitos desencadeados no período. O espectro de possibilidades é amplo, envolvendo desde convulsões sociais e conflagrações militares (apostas óbvias, dada a natureza do aspecto), até grandes desastres naturais ou resultantes de falhas tecnológicas. Com Urano e Plutão na linha de tiro, sempre é possível pensar em acomodações de placas tectônicas ou erupções vulcânicas, mas também está presente o risco de acidentes nucleares, ameaças terroristas ou perdas financeiras inesperadas.

A propósito desta configuração, a astróloga Celisa Beranger, normalmente comedida e avessa a sensacionalismos, declarou o seguinte durante o seminário Presságios 2014:

Notícias surpreendentes abalam. Atos de violência individual atingindo inocentes. Comportamentos extremos. Decisões repentinas por saturação e indignação. Vivemos um tempo em que não há garantias. É preciso estar preparado para ser surpreendido, atuar quando possível ou adaptar-se quando necessário.

É possível que nada aconteça ao longo de abril? É evidente que sim. Com frequência, configurações tensas parecem passar em branco, e só algum tempo mais tarde percebemos os efeitos dos processos disparados durante a sua vigência. É bom, portanto, ficar de olho naquilo que estiver nascendo ao longo da segunda quinzena de abril, tais como:

  • lançamento de candidaturas a cargos eletivos (presidente, governadores etc.);
  • empreendimentos industriais ou imobiliários;
  • fusões ou aquisições de grandes empresas;
  • mudanças súbitas da política econômica;
  • aprovação de leis polêmicas;
  • primeira notícia sobre novos escândalos, epidemias etc.

A ideia é sempre a mesma: o que estiver nascendo na segunda quinzena de abril carregará em seu "DNA" a energia tensa da Grande Quadratura cardinal e dos dois eclipses que marcam o período. Mais cedo ou mais tarde, os desdobramentos surgirão.

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