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COMPORTAMENTO

A mulher brasileira diante do aborto

Fernando Fernandes

 

Garotas burras e otárias com bebês no colo

Quanto mais a sociedade se torna urbana, quanto mais a mulher ganha espaço através da educação e da atividade profissional, mais este padrão Gêmeos-Leão se afirma. Para a típica mulher brasileira das grandes cidades, os piores adjetivos que lhe poderiam ser atribuídos seriam burra e otária. Ocorre que é exatamente isso o que se pensa da mulher que engravida e é deixada pelo companheiro entregue à sua própria sorte. Neste sentido, e considerando as características astrológicas da Lua em Gêmeos e de Vênus em Leão, a grande punição que a sociedade projeta sobre a mãe solteira não é a de descriminá-la como desonrada ou leviana, mas sim como incompetente por deixar-se cair numa roubada, para utilizar a expressão popular.

O mapa da Independência do Brasil traz a chave para a compreensão de como o país lida com o feminino: Vênus em Leão na casa 6 e a Lua em Gêmeos na 4, em conjunção com Júpiter.

Ser mãe solteira significa que se confiou num homem precipitadamente, que se cometeu um erro de avaliação. Para não passar o atestado de incompetência, restam à nossa atirada brasileirinha Gêmeos-Leão dois caminhos possíveis: assumir a gravidez como se fosse desejada e intencional ("Eu não preciso de homem", "Eu me viro sozinha", "Eu sou perfeitamente capaz de cuidar do meu filho") ou rejeitá-la, através do caminho do aborto.

Mais uma vez: falamos de um padrão astrológico abstrato e extremamente genérico. Não descreve a complexidade de cada caso particular, mas fornece uma chave para compreender alguns valores culturalmente operantes.

Um terceiro fator astrológico a considerar é a conjunção de Júpiter à Lua em Gêmeos na carta da Independência. Júpiter tem seu domicílio em Sagitário, signo a que estão associadas a moral, a ética, as leis e a religião organizada. Em Gêmeos, signo oposto, Júpiter encontra-se em exílio, expressando um abrandamento ou uma distorção de todos esses conteúdos. O Brasil é um país bastante permissivo em questões éticas e onde as leis tendem a ser de pouca eficácia. Do ponto de vista religioso, não verificamos aqui uma separação rigorosa de fronteiras de credo. A dupla personalidade religiosa (sendo a duplicidade um traço geminiano) tende a manifestar-se, por exemplo, na freqüência dos mesmos fiéis a cultos católicos e afro-brasileiros, ou na rapidez com que o brasileiro se permite experimentar um credo novo e transitar sem culpa entre templos das mais variadas seitas.

A conjunção deste Júpiter exilado com a Lua afeta, naturalmente, a forma como é percebida no Brasil a mulher em sua condição de mãe. Em primeiro lugar, Júpiter amplia, magnifica e fertiliza, o que está em concordância com os altos índices de natalidade que caracterizaram o país até poucos anos atrás. Em segundo lugar, Júpiter no signo oposto ao de seu domicílio é um indicador da tolerância que se verifica em relação aos abusos contra a mulher. A sociedade (ainda) faz vista grossa para o homem que engravida a namorada – ou a parceira ocasional – e não assume qualquer responsabilidade frente à ocorrência indesejada, cujo ônus é transferido para a própria mulher ("Ela é que tinha a obrigação de se cuidar!"). O quadro vem mudando aos poucos, mas ainda com fortes resistências culturais.

A mulher que engravida sem que seu parceiro assuma o filho é considerada "otária", algo insuportável para Gêmeos e Leão.

Símbolos astrológicos são vivenciados de forma diversa em cada época e de acordo com o nível de desenvolvimento tecnológico e sociocultural de cada comunidade. A sociedade brasileira não está condenada a ser eternamente omissa em relação ao problema do aborto. O que hoje se verifica ainda é fruto de uma vivência parcial do rico simbolismo da conjunção Lua-Júpiter em Gêmeos e do posicionamento de Vênus em Leão. No que têm de melhor, tais configurações carregam um potencial de valorização da maternidade em novas bases, a da mãe amiga, jovial, companheira dos filhos e adepta de recursos pedagógicos originais. Gêmeos e Leão têm em comum um vínculo com a educação infantil, com o desenvolvimento intelectual e da criatividade do ser em formação. A mulher brasileira tem tudo para ser a mãe estimulante, capaz de desenvolver no filho um sentimento de autoconfiança e respeito pela vida. Este padrão está presente no imaginário nacional em estado latente, e pouco a pouco encontra os espaços para manifestar-se.

Na medida em que a mulher brasileira for mais valorizada, que a mãe involuntária não receber a pecha de otária e incompetente, que a pressão da sociedade não a obrigar a buscar as clínicas clandestinas de aborto, teremos um país melhor e mais pleno da vivacidade generosa de Lua-Júpiter em Gêmeos e da exuberância de Vênus em Leão.

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