Maria Helena Lyra

Quer saber os trânsitos de 2004 para alguém nascido em 1970? Levante um mapa para 1936. Parece loucura, mas são os trânsitos conversos, uma técnica pouco usual que brinca com a lógica do tempo.

Desde meu primeiro contato com progressões [1] convivi com a idéia de que havia progressões diretas... e conversas. Que a idade de x anos depois do nascimento estava espelhada no x-ésimo dia depois do nascimento OU no x-ésimo dia antes do nascimento, indiferentemente. Frases bíblicas eram citadas para validar o fenômeno - ou para provar que os antiqüíssimos já o conheciam, não sei: depende da tendência decodificadora do leitor dessas frases.

[1] HASTINGS, Nancy Anne. Progressões secundárias: técnica de prognóstico em astrologia. Trad. Carmen Youssef. Pensamento, São Paulo, s.d.

Daí, já ouvi e li uma série de conclusões quanto à diferente interpretação de umas e de outras: que as progressões diretas operavam mais no plano objetivo e as conversas mais no subjetivo; que as coisas pesadas mesmo quem trazia eram as conversas (não vou negar, embora as diretas também não sejam sempre essas santinhas); até - talvez dentro desta última linha - que o carma de outras vidas era expresso mais pelas conversas. O fato é que gosto sempre de usar as duas. Nunca vi uma negar a outra. Verifico que elas sempre se completam, uma fala do que a outra talvez tenha se esquecido de dizer. Ou então acrescenta: "sim, e tudo isto com uma pitadinha de Lua", por exemplo. E assim fui levando minha prática astrológica, aplicando sempre as várias formas de progressões, e tanto diretas quanto conversas.

Mas sou curiosa por natureza - não é à toa que trabalho com investigação da hora de nascimento. Reparei que nos programas astrológicos para computador havia, para outras técnicas além das progressões, a opção "direto/converso". Comecei - por que não? - a testar as Revoluções Solares conversas.

Para meu governo, gosto de classificar, dentro das técnicas que chamo de diacrônicas (também chamadas "de previsão"), as Revoluções Solares como pertencentes ao grupo das técnicas de trânsito (considero os outros dois grupos como sendo o das progressões e o dos evolutivos). São, aliás, sua matriz, tendo como "filhos" o mapa demissolar, o quartissolar, as enéadas, os decílios, os mapas diários, etc. Mas curiosidade é assim mesmo, e fui experimentando. Fiquei muito espantada com o altíssimo nível de correlação que encontrava. Fui estudando, estudando (encontrei referência aos trânsitos conversos em DUMÓN, Eloy R., Astrologia Predictiva, Sirio, Buenos Aires, 1989:54.), fui investigando, investigando - e cá estou, convencida da utilidade dos trânsitos conversos e de todo o respectivo grupo de técnicas diacrônicas conversas.

O que são

Tomemos uma pessoa nascida em agosto de 1993. Queremos saber os seus trânsitos para a idade de dez anos. Podemos ir às Efemérides na página de agosto de 2003 e, verificando as posições dos planetas, saberemos que Netuno estará transitando em oposição a seu Sol natal, por exemplo. Muitas vezes, porém, os fatos que ocorrem não encontram explicação suficientemente forte nas técnicas usuais.

Que tal consultar as efemérides para o mesmo tempo decorrido a partir do nascimento, só que em direção inversa, isto é, antes do nascimento? No nosso exemplo, abriríamos as Efemérides na página de agosto de 1983, isto é, correspondendo a um tempo simetricamente idêntico à idade pesquisada. Em vez de 10 anos depois do nascimento (1993 + 10 = 2003), seriam 10 anos antes (1993 - 10 = 1983).

Um exemplo real com que lidei foi de uma criança com o Fundo-do-Céu (IC) a 13º38 de Sagitário e Urano na 4, já em Capricórnio. Uma das leituras possíveis deste mapa natal seria a ocorrência de mudanças súbitas em sua estrutura familiar. Isto se deu, e de maneira intensa, sem a participação de qualquer tipo de trânsito... direto. Fosse sobre os ângulos ou sobre qualquer outro planeta. Também não era progressão do Fundo-do-Céu tocando em Urano, nem, conversamente, Urano progredido por arco solar (converso) tocando o Fundo-do-Céu: isto só se daria muitos anos depois. Já o trânsito converso... Saturno (11º09' de Escorpião) acabara de passar sobre Plutão (12º25' de Escorpião), e então quadrava o Sol (12º02' de Leão), ou seja, trazia para a materialização esta quadratura natal.

Revolução Solar conversa

Continuei a estudar o tema. A revolução solar para o ano de vida dentro do qual se deu o evento era tímida, pálida - quase nada. O mesmo não se podia dizer para aquela correspondente ao mesmo número de anos contados a partir do nascimento, só que... para trás! Lua angular: todos sabemos, e bem o enfatiza Eshelman [2], que um planeta angular na Revolução Solar "dá o tom" daquele ano. E Urano a 14º6 de Sagitário, isto é, em conjunção exata com o IC natal e quadratura à Lua do nascimento...
Este é apenas um exemplo.

[2] ESHELMAN, James A., Interpreting Solar Returns, ACS Publications, San Diego, 1987

Podemos usar "conversamente", ou "para trás", toda a família das técnicas de trânsito que mais acima nomeei, sem esquecer as revoluções lunares. Assim pensando, apliquei, para a data do evento em estudo, a técnica do "semidecílio". Saturno conjunto ao Descendente, sobre o Plutão natal, como já dissemos, e o IC (Fundo-do-Céu) sobre o Sol natal, tornando absolutamente angular o aspecto acima descrito.

NOTA - O semidecílio é uma extrapolação, por minha própria conta - e por que não? -, da técnica do "decílio" descrita em Eshelman, p. 142. É uma forma de Revolução Solar parcial que costumo aplicar em estudos pontuais. São os mapas levantados para cada 5o que o Sol percorre após o nascimento, válidos, portanto, por cinco dias.

1001 utilidades

Podemos lembrar que Plutão passa, em cada signo, um espaço de tempo irregular. Foram 32 anos em Gêmeos, 26 anos em Câncer, 19 anos em Leão, 16 em Virgem, 13 em Libra, etc. As pessoas cuja idade "conversa" já atinge as épocas de Plutão lento (por exemplo: as da década de 1950, que devem estar com os trânsitos conversos na década de 1890, com Plutão em Gêmeos) podem passar muitos anos com este planeta "dançando" sobre um ponto de seu mapa, a marcar um período mais longo de mudanças, além das que se justificariam com o Plutão atual em Sagitário... Assim a gente não precisa dizer que o planeta em trânsito "atua" cinco anos antes de passar por um ponto: é só conferir se não está havendo algum trânsito converso de natureza semelhante, o que justifica plenamente a "maré" que a pessoa vem experimentando.

É bom, também, observar os trânsitos conversos sobre os ângulos do mapa natal ou progredido (também converso, neste caso). Podem ser muito elucidativos. Por exemplo: está ocorrendo uma onda de favores e benefícios quando não há nada maior a indicá-la? Não fique só bem quietinho, para não assustar a sorte: veja se não é Júpiter converso passando por um ângulo de seu mapa. Assim, além de feliz, você ampliará também seus conhecimentos.

Mas isso não faz sentido