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SIMPÓSIO NACIONAL DE ASTROLOGIA DO SINARJ

Urano em Peixes?
Comece a remar,pescador!

Valeria Bustamante

 

"Ê denadô! Tequié? Xenamm". Não se espante, esse foi o modo mais exoticamente pisciano que pude encontrar para resumir a impressão deixada pelo 5º Simpósio Nacional do SINARJ. É o início de uma música indígena que não sei de que tribo é, nem em que língua está, mas "por milagre" sei o que significa: "Ei, pescador! Quer peixe? Comece a remar". Pois foi esse o espírito transmitido aos presentes pelos mais diferentes palestrantes do Simpósio, sob os mais diversos enfoques. Foram convites para que colocássemos mãos à obra, com a Astrologia e pela Astrologia, em nós e no mundo.

· Edil Carvalho (Em nome de uma teoria Simbólica) contrapôs o conhecimento refletido ao conhecimento revelado. Lembrou que a intuição não "se pergunta", ela "se dá" para o indivíduo, enquanto o conhecimento racional pode se tornar compartilhável e modificável coletivamente. Conclamou então os astrólogos a usarem os métodos da razão para trazer de volta para a astrologia saberes que tradicionalmente seriam seu objeto de estudo mas só estão sendo explorados por outras ciências. Segundo ele, a linguagem metafórica, privilegiada pelos astrólogos, dificulta o contato com o saber acadêmico existente e cabe ao astrólogo refazer esse laço.

· Carlos Fini (foto), privado da parceria com Ronaldo Rogério Mourão por um impedimento deste, tirou da manga um "Plano B" muito legal: um simulador do sistema solar onde pudemos observar - do ponto de vista dos deuses e contando com um guia inspirado - fatos como os movimentos retrógrados, as declinações, a razão da diferença entre as constelações e o zodíaco etc.

· Carlos Hollanda (Da Utopia ao Super-Homem: Do Super-Homem à Utopia) começou sua palestra analisando manifestações socioculturais presentes em trânsitos anteriores de Urano em Peixes e Netuno em Aquário, destacando o nascimento do Humanismo e a influência de homens como Copérnico, Thomas Morus e Erasmo de Roterdam, que trouxeram para o mundo uma inversão de valores e da ordem estabelecida. Essa inversão se faz presente nos trânsitos posteriores. Buscando esse espírito, Hollanda apontou o caminho do crescimento interior como a verdadeira possibilidade de o homem moderno aproveitar a "impregnação" de Urano em Peixes e Netuno em Aquário para "colocar-se em estado de bem-aventurança" e, em contato consigo mesmo, poder realizar à sua volta um mínimo do "ideal aquariano de igualdade".

· Eduardo Maia (foto), com Navegar é Preciso, Viver não é Preciso, lembrou que Urano, estando em Peixes, recebe as características desse signo e passa a falar sua lingua: a lingua da "irretocabilidade da vida" e do laço de amor que liga a unidade à adversidade. Netuno também não "acalmaria" Aquário, mas receberia sua linguagem tecnica para "afinar seu discurso fantasioso". Eduardo arrancou risos platéia com sua inesperada distinção entre o peixe "certinho" e o peixe "troncho" unidos pelo laço do amor universal. O momento ressalta "o que eu acredito" e "o que eu posso criar", e a Astrologia é o meio. Deixou no ar a questão: "você está enlaçado a quê?"

· Substituindo o Prof. Assuramaya, infelizmente adoentado, Eduardo Maia nos falou também da Cosmogênese. Partindo do Kaos: o centro, a origem; ao Kosmos: a dualidade, origem dos deuses. Definiu a Astrologia, que une dados astronômicos à mitologia, como uma "forma de notação do silêncio", ferramenta capaz de nos trazer domínio sobre a dualidade (Kosmos, representado graficamente por um círculo) para chegarmos ao nosso centro (Kaos, representado graficamente por um ponto).

· Lydia Vainer homenageou a música popular brasileira analisando vários mapas de compositores contemporâneos que, para a nossa sorte, são particularmente inspirados por Netuno.

· Clóvis Peres (foto), em A Latitude Eclíptica de Netuno, nos mostra que, quando não consideramos as declinações, deixamos de perceber as diferentes intensidades nos trânsitos planetários. Netuno acaba de transpor a eclíptica (em 11/08/2003) no sentido Norte-Sul, ficando com sua potência maximizada.

Essas passagens têm ocorrido, com mútua recepção de Urano e Netuno, desde 1674. Clóvis considera que, se Saturno nos impinge "uma realidade que vem de cima", Urano, Netuno e Plutão nos oferecem um "mundo a ser inventado", sendo que Urano nos propõe uma lógica progressista, mas Netuno quer que as coisas aconteçam agora e dissolve regras e limites, construindo uma utopia ou um pesadelo. Fica a questão: "Que sonhos nos norteiam agora?"

· Seguindo a trilha das revoluções solares, Paula Salotti amorosamente presenteou o público com um fio de Ariadne disfarçado em tabela. Extremamente útil na prática profissional do astrólogo, o "fio" nos permite também remontar nossa história e vislumbrar a totalidade que há em nós, dificilmente percebida nos labirintos do dia-a-dia.

· Em "O Tempo das Águas" Aline Alvarenga, num contraponto aos últimos tempos de ênfase na energia masculina (Urano em Aquário, Plutão em Sagitário e Júpiter em Leão) nos falou da necessidade de vivermos da melhor maneira o encontro com o feminino que Urano em Peixes, Saturno em Câncer e Júpiter em Virgem nos oferecem agora. Usando o que ela chamou de técnica espiritual desses três signos, nós podemos permitir que a qualidade pisciana da inclusividade se manifeste em nós. A tecnologia espiritual de Câncer seria a capacidade de conhecer seu lugar no mundo e estar bem nele; a tecnologia espiritual do signo de Virgem seria agir com simplicidade "num eterno hoje"; e a tecnologia espiritual do signo de Peixes seria a capacidade de aceitar receber a graça.

· Fernando Fernandes (Indiana Jones pra Lá de Bagdá) analisou o ciclo de Netuno e Plutão sobre o mapa dos Estados Unidos e seus efeitos a cada signo. Ressaltou que a posição de Netuno no Meio do Céu dos Estados Unidos funciona como emissor e receptor do imaginário coletivo, sempre a serviço do Estado (casa X). Associou personagens-ícone a cada signo por onde Netuno passou desde 1899 e a função social desse personagem na política interna e externa daquele país.

· O título da palestra se deve ao estranho fato de que o trajeto do herói do filme Indiana Jones, do início da década de 80, coincidiu com o trajeto do eclipse de 1999, que por sua vez coincidiu com pontos de tensão no Oriente Médio e no subcontinente indiano.

· Martha Pires analisou o mapa natal de Paul Cezanne, nascido com Urano em Peixes e Netuno em Aquário, e a influência que exerceu nas artes por um longo período. Por romper com a estética da época, foi considerado mau desenhista e sua primeira exposição foi um fracasso. Quis pintar a vida e a morte, a natureza morta, o erotismo. Embora tenha influenciado grandes nomes e movimentos, o sucesso só lhe chegou no fim da vida. No fim da palestra, Martha, em velocidade aquariana, ofereceu à platéia algumas maçãs, modelos favoritos de Cézanne.

· Luiz Cláudio Moniz (foto), com (Trânsitos de Netuno sobre Mercúrio Natal, uma Autêntica Odisséia, nos trouxe as aventuras de Ulysses, bisneto de Mercúrio que, por falar o que não deveria, sofre a vingança de Netuno, perde-se no mar e transforma a volta à sua terra de origem numa jornada longa e atribulada. O expositor comparou essas atribulações com trânsitos de Netuno sobre o Mercúrio natal, ocasiões em que nossas palavras, nossa curiosidade, nossos contratos e assinaturas podem se voltar contra nós.

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