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ASTROLÓGICA 2003

Uma tremenda fria que acabou em pizza
(e todo mundo gostou)

Fernando Fernandes

 

Na platéia, astrólogos que vieram de longe

É possível viver de Astrologia numa cidade com menos de 20 mil habitantes? Júnia Caetano, que viajou quatro horas para participar da Astrológica 2003, afirma que sim e prova com seu próprio exemplo: morando atualmente em Visconde de Mauá, uma pequena e fria cidade turística encravada na região do Itatiaia, Júnia tem sua clientela entre os turistas que procuram a região, além de atender semanalmente na vizinha cidade de Resende, hoje um pólo industrial de grande importância no Vale do Paraíba. Resende também é a cidade do jornal independente Madhava, do qual essa astróloga é uma colaboradora constante. Contudo, a parcela mais significativa da clientela de Júnia mora longe dali e é atendida à distância, mediante fitas gravadas e remetidas por Sedex.

Platéia da Astrológica 2003. Em primeiro plano, Héctor Othon. Mais ao fundo, à esquerda, o prof. Waldyr Fücher, presidente da ABA. Ao lado, mas na fila da frente, Júnia Caetano (de óculos e cabelos cacheados).

A geminiana Júnia já trabalhou com vendas e pesquisa de mercado, além de ter coordenado pesquisas com comunidades indígenas em Bertioga, litoral de São Paulo. Segundo ela, há espaço para astrólogos em pequenas cidades, desde que estejam dispostos a investir esforço na divulgação do próprio trabalho. O caminho, diz Júnia, é abrir espaços na imprensa local e explorar as oportunidades dadas pela própria vida comunitária. O jornal Madhava, por exemplo, sustenta-se hoje apenas com anunciantes locais da região de Resende e, mesmo falando exclusivamente de temas ditos holísticos ou alternativos, vem-se firmando como um veículo durável.

Betty Lopez, astróloga argentina que menos de um mês antes participara como palestrante do Encuentro Gente de Astrologia, em Buenos Aires, estava na platéia do Astrológica 2003 acompanhando o trabalho dos astrólogos brasileiros, que ela declara admirar:

-Na Argentina há profissionais de grande preparo técnico. Contudo, a cisão entre as correntes psicológica, hoje em voga, e clássica, ainda muito forte, é quase completa. Os dois grupos são endogâmicos, fechados, não se abrem um para o outro e também não encontram espaço na grande imprensa. O CABA (Centro Astrológico de Buenos Aires) continua sendo uma referência importante, mas dentro da linha clássica. A Astrologia brasileira - afirma Betty - é muito mais uraniana, mais ampla e abrangente que a argentina. A troca é maior, num clima de mais igualdade e liberdade de expressão entre os astrólogos.

Uma presença de última hora: a astróloga lusitana Cristina Candeias fez uma palestra e autografou seu livro, que é sucesso em Portugal.

Segundo Betty, a Astrologia na Argentina vem sofrendo com os efeitos de duas crises: a mais aguda é de ordem econômica, o que levou muitos espaços culturais, escolas, editoras e livrarias ao fechamento ou a sérias crises de sobrevivência. A Editora Kier, muito conhecida dos astrólogos brasileiros nos anos 80, continua forte, mas sem correr riscos. Publica apenas livros com procura garantida, o que significa dizer que investe muito mais na tradução e (re)edição de conhecidos autores americanos que na produção local. "O último autor argentino a lançar um livro de Astrologia com algum sucesso foi Humberto Sabatini", diz Betty, "e já faz algum tempo". Mas há também uma crise crônica relacionada ao fato de que a Argentina não tem uma cosmogonia própria. Com o Sol na casa 9 de sua carta de independência, a tendência do país é supervalorizar "a luz que vem de fora", ou seja, as influências culturais estrangeiras, mais européias, no passado, e hoje mais americanas. Para Betty, a Argentina precisaria voltar a suas raízes, a suas fontes, num movimento semelhante ao que se percebe hoje no Brasil.

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