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CANTIGAS DE RODA

De Maria, à Margarida, até a Ave Maria

Angela Schnoor

 

As cantigas de roda, primeiras melodias que a criança aprende a cantar, não são simples brincadeiras: pertencem ao domínio coletivo e traduzem importantes processos arquetípicos. A Margarida é um bom exemplo.

No cirandar dos signos,
de um bailado circular,
Vamos todos encontrar
nosso Mapa, na Mandala,
descobrindo o caminhar.


"Ciranda, Cirandinha,
Vamos todos cirandar..."

(Snaide Lacerda)

 

ONDE ESTÁ A MARGARIDA?
(canção de roda - folclore)

 

Onde está a Margarida?
Olê, Olê, Olá
Onde está a Margarida?
Olê, Seu Cavaleiro

 

Ela está em seu castelo
Olê, Olê, Olá
Ela está em seu castelo
Olê, Seu Cavaleiro

Eu queria vê-la (bis)
Olê, Olê, Olá
Eu queria vê-la
Olê, Seu Cavaleiro

As canções de ninar, assim como as cantigas de roda, estão entre as músicas que não são mais minhas, nem tuas, nem nossas, mas do coletivo em amplitude maior. Sendo assim, falam de realidades presentes em todos e em cada um de nós, pois já se tornaram expressões dos padrões arcaicos dos quais somos depositários e continuadores.

Entre tantas escolhi a Margarida, uma brincadeira de roda, pela semelhança com o ciclo de fortalecimento do Ego-Sol.

Segundo a menina que ilustrou este artigo, à esquerda vemos meninas dançando; abaixo: porquinhos cantando.

(desenhos de Victoria Fernandes, 3 anos)

Mas o muro é muito alto
Olê, Olê, Olá
Mas o muro é muito alto
Olê, Seu Cavaleiro

Retirando uma pedra
Olê, Olê, Olá
Retirando uma pedra
Olê, Seu Cavaleiro

Uma pedra não faz falta
Olê, Olê, Olá
Uma pedra não faz falta
Olê, Seu Cavaleiro

Retirando duas pedras
Olê, Olê, Olá
Duas pedras só não chegam
Olê, Seu Cavaleiro

Retirando três pedras
Olê, Olê, Olá...

Retirando quatro pedras
Olê, Olê, Olá... (e assim por diante, até todas saírem).

Apareceu a Margarida
Olê, Olê, Olá

Esta roda é construída como uma Mandala com um centro. As crianças, de mãos dadas, são as pedras do castelo. No meio, encolhida, escondendo-se, uma criança que representa a Margarida, protegida em seu castelo (Centro-Lua-Sol). Uma outra criança circula por fora, fazendo o papel de Cavaleiro. É ela quem faz as perguntas e retira as pedras (defesas - Saturno) que protegem a Margarida dentro do castelo (defesas - Lua).

A retirada paulatina das defesas, pela consciência dos condicionamentos Familiares e Sociais (Lua/Saturno), leva à descoberta da Margarida, como a consciência Sol/lunar, que surge e gira no centro da roda aberta, enlaçada (Vênus) pelo Cavaleiro (Mercúrio/Júpiter) que, trazendo o brilho Solar, forma a base da auto-estima individual (Sol, Mercúrio, Vênus).

Tanto do ponto de vista da Psicologia quanto da Astrologia, a busca e encontro da consciência de si mesmo, do foco solar, centro regulador da psique a que chamamos ego, é uma necessidade imperiosa.

A ampliação da consciência - que costuma ocorrer, simbolicamente, através dos trânsitos dos planetas trans-saturninos - precisa de segurança para que aconteça sem que haja cisão na estrutura central e a pessoa não se depare com sérios desequilíbrios comportamentais e rupturas perigosas em sua psique.

É importante, pois, que este centro seja forte e íntegro de acordo com suas qualidades individuais.

Maria, antes de chamar-se "margarida", está no útero da mãe, onde todas as marias se confundem.

Ainda não sabe que é margarida, ou é apenas um nome pelo qual a chamam e ao qual responde até que se transforme em EU, Margarida, em sua plenitude potencial e, sabendo-se como tal. Mas Margarida gira com seu Cavaleiro e permite a abertura deste centro através da relação com a ampliação da consciência através dos ritos protetores (Mercúrio/Júpiter).

Viemos todos, de uma fusão urobórica com a mãe ("Maria") e, a partir da separação, temos um trabalho de encontro com a individualidade presente em cada um que pode ser identificada, claramente, através do mapa do céu de nascimento.

A partir deste Centro é que podemos dar nossa contribuição pessoal ao grande Todo, tanto social quanto transpessoal, e voltarmos, então, ao grande Nada onde se pode Ser Um com o Todo.

Este ciclo de cinco anos que denominei de: "à procura da Margarida de cada um" e que ocorre entre os retornos da Lua progredida e de Saturno em trânsito, culminando com o Retorno Solar dos trinta e três anos, parece ser "ensaiado" como um ritual, com as características repetitivas e monótonas próprias, neste brincar de Roda, desde a infância.

A partir do encontro desta identidade, de braços com Júpiter, cada roda individual pode girar ao som da melodia mais universal que conheço, a Ave Maria.

Esta música, independentemente de credo ou idioma em que for escrita, representa a consciência de que cada ser-margarida é uma estrela na constelação universal dos homens. Um mergulho saudável nos braços da Grande Mãe, onde a entrega às mortes necessárias à renovação se faz sem medo ou desequilíbrio.

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