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EM MEMÓRIA DE SÉRGIO MORTARI

A partida do médico-astrólogo

Depoimentos

 

Sérgio Mortari, médico homeopata e acupunturista, foi um dos pioneiros no país no casamento entre a prática de consultório e a utilização da Astrologia como recurso de diagnóstico. Ativo professor e conferencista, tornou-se conhecido pelos workshops que deu em diversas capitais.

Sua última aparição pública foi no IV Simpósio Nacional de Astrologia do SINARJ, no Rio de Janeiro, onde deu uma palestra no sábado, 17 de agosto. No mesmo dia retornou a São Paulo. Quatro dias depois falecia por volta das 6h da manhã, em casa, de parada cardíaca.

Reunimos nesta matéria quatro depoimentos sobre Sérgio Mortari: os de Valdenir Benedetti, Waldemar Falcão, Celisa Beranger e Ana Teresa Ocampo.

Nascido em 2 de março de 1936, o Dr. Sérgio Mortari tinha o Sol em conjunção com Saturno, em Peixes, ambos formando oposição a Netuno em Virgem. Júpiter em Sagitário, uma quadratura Marte-Lua (ambos os planetas em domicílio) e uma conjunção Mercúrio-Vênus no curioso e cerebral signo de Aquário completam o rápido perfil de um profissional disciplinado mas sensível, rigoroso em suas pesquisas e ávido por conhecimento ao ponto da impaciência.

 

A última conversa:
um presente de despedida
Waldemar Falcão

Convidado para participar da mesa sobre Ética e Astrologia no Simpósio do Sinarj, cheguei ao local do evento por volta das 13 hs, quando todos saíam para o almoço. Encontrei vários amigos e amigas a caminho da refeição, e pensei que iria ficar falando sozinho no centro de convenções até que chegasse a hora da mesa redonda.

Para minha surpresa, ao entrar na sala onde se daria o debate, encontro meu querido amigo Sérgio Mortari sozinho, sentado nas cadeiras que ficavam no fundo da sala. Depois de um longo e caloroso abraço, começamos a atualizar nossos assuntos, trocando idéias sobre diversos temas que nos são comuns.

Como não poderia deixar de ser, o tema principal de nossa conversa rapidamente passou a ser a espiritualidade e a mediunidade, assuntos sobre os quais sempre conversávamos quando o tempo nos permitia. Comentei com Sérgio sobre o recente passamento do médium Chico Xavier e do trabalho com Célia do Carmo, sensitiva com a qual trabalho há exatos vinte anos. Comentamos sobre os pontos comuns entre ambos, e Sérgio, que não conhecia Célia pessoalmente, mas apenas através dos meus relatos, ouviu atentamente as histórias mais recentes que eu tinha para contar.

Em seguida, passou a me relatar o trabalho que teve para desmascarar uma falsa sensitiva de São Paulo, explicando todos os processos fraudulentos que a mesma utilizava para enganar as pessoas que freqüentavam suas sessões. Detalhou os procedimentos descobertos por ele, nos quais a "sensitiva" espalhava perfume sobre o ambiente onde se realizavam os trabalhos, querendo fazer crer que o aroma provinha da espiritualidade, quando na verdade se tratava de um simples borrifador que ela trazia escondido nas roupas. Também a "levitação" de alguns objetos que as entidades supostamente materializariam se revelou fraudulenta aos olhos do dr. Sérgio, que logo percebeu que a "médium" ocultava estes objetos numa cinta que vestia por baixo das roupas previamente analisadas pelos presentes.

Sérgio me explicou que acabou tendo que levar estas informações ao próprio Chico Xavier, que conhecia a falsa médium, e que, na sua habitual compaixão e simplicidade, acabou por fazer um comentário suave a respeito daqueles que se dispersam dos caminhos do procedimento ético para obter benefícios próprios.

Passei a relatar a ele minhas experiências pessoais com um outro sensitivo já falecido e bastante conhecido do público: Lourival de Freitas, também conhecido como "Nero". Lourival tinha um tipo de mediunidade semelhante à de Zé Arigó, na qual fazia cirurgias utilizando objetos comuns como tesouras, lâminas e facas domésticas, e utilizava freqüências musicais como anestesia para seus pacientes. Sérgio ficou particularmente interessado nesta questão da anestesia, e me fez várias perguntas a respeito, já que conhecera Lourival de nome pelos jornais da época em que atuava no Brasil e no exterior. Contei-lhe minha experiência como "anestesista" numa cirurgia em que atuei tocando flauta, na companhia de Miúcha Buarque cantando e Nando Carneiro tocando violão. A paciente foi operada de um pequeno tumor maligno próximo à coluna vertebral, ficou acordada e consciente durante todo o procedimento, e levantou-se e saiu andando assim que tudo terminou.

Com a humildade dos que sabem muito e sempre querem aprender mais, dr. Sérgio me crivou de perguntas sobre a experiência, procurando por detalhes do procedimento do médium e especulando a respeito da possibilidade de manipulação das freqüências sonoras para uso terapêutico. Continuamos ali sentados e conversando sobre o assunto, até que as pessoas começaram a voltar do horário de almoço e interrompiam nossa conversa para cumprimentar um e outro.

Concluímos que a partir daquele momento seria impossível seguirmos conversando, porque as interrupções seriam cada vez mais freqüentes, e cada um de nós tinha que se preparar para sua palestra. Lamentavelmente, a palestra do dr. Sérgio seria no mesmo horário em que eu estaria participando da mesa sobre Ética. Lamentei o fato de que não poderia assisti-lo, e ele fez o mesmo. Informou-me que voltaria para São Paulo naquele mesmo dia, e que portanto não estaria no Simpósio no domingo. Trocamos um longo e afetuoso abraço, e me comprometi a avisá-lo da próxima vez que fosse a São Paulo para continuarmos nossa eterna conversa sobre espiritualidade e mediunidade.

Na segunda-feira ainda pela manhã, recebi um e-mail informando de seu desencarne. Depois de lamentar a falta que ele irá fazer para os colegas do meio astrológico, me lembrei do papel de "Saturno" que ele exerceu simpaticamente num simpósio organizado por Milton Maciel na década de oitenta, onde tocava um sininho pra avisar ao palestrante que restavam cinco minutos para terminar sua palestra. Cada vez que dr. Sérgio aparecia na porta da sala, já provocava risos ("olha o Saturno chegando!"), com os quais ele mesmo se divertia, incorporando um Saturno risonho e zombeteiro.

Por mais que eu estude astrologia e perceba alguns pontos interessantes na nossa sinastria, que explicam a afinidade complementar que pode existir entre um pisciano e um virginiano, deixo por conta da Consciência Cósmica as razões pelas quais me privilegiou com este presente de despedida que foi a nossa conversa final neste plano de existência. Meu adeus para ele não é um "até breve" ou "até qualquer dia", mas sim um "até sempre, Sérgio".

Mais depoimentos:

Hoje fui me despedir de meu amigo, por Valdenir Benedetti
O médico, o astrólogo e o professor, por Celisa Beranger e Ana Ocampo


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