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ASTROLOGIA
Secundária

João Acuio


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o pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau e pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique

Essa é a melhor definição do poeta, pelo próprio bandido.

Paulo Leminski é um cachorro louco que latia latim. Fazia poesia como se não fizesse. E tinha o hábito de prosear em chinês com os chineses das pastelarias daqui de Curitiba.

Leminski como um bom cachorro, doido por barulho, fez a cidade de Curitiba acordar durante suas frias madrugadas. E esta foi a sua maior rebeldia.

Leminski era um ser em trânsito. E onipresente. Esteve em todos os lugares. Poesia. Conto. Prosa. Biografia. Tradução. Ensaio. Carta. Resenha. Video-texto. Música popular. E o escambau. Este polaco mulato, como ele gostava de se chamar, acrescentou o seu ponto onde não era chamado. Como todo bom filho de Saci.

Paulo Leminski nasceu em Curitiba, Paraná, às 19h10, no dia 24 de agosto de 1944. Quando se vê o mapa de nascimento do Paulo, leva-se um susto. Sol, Júpiter, Marte, Vênus e Mercúrio no analítico signo de Virgem. No total, são dez planetas no mapa, cada um representando uma faceta da vida, e Leminski tinha simplesmente a metade deles no signo da destreza, do pensamento crítico (porém sempre solitário) e da comunicação. Afinal de contas, Virgem é regido por Mercúrio. Ou Hermes, para os gregos. Para os íntimos, Exu, Capeta, Saci. Aquele que troca um sentido pelo que ainda não foi dito. O que estou querendo dizer, é que Leminski, assinalado pelo céu astrológico, era a personificação deste mensageiro dos deuses, que chamamos de Mercúrio na astrologia.

Paulo Leminski - 24.8.1944, 19h10 - Curitiba, PR - 25s25, 49w16.

Hermes-Mercúrio-Saci é um deus muito sacana. Filho da Noite com a Grande Luz, tinha a função de levar recados a todos os cantos. Às vezes, a fúria de Zeus, a ordem irrevogável de Hades, a paixão de Vênus. Tinha o espírito traquinas da risada do Saci depois de uma boa travessura. Como também assoprava palavras, mensagens que, para bom entendedor, eram uma dádiva. Mercúrio tem a alma amoral. Como poder andar, transitar onde for, levar recados destinados, se não tiver um espírito também maleável, com asas nos pés? Por isso era possível encontrar o Paulo ali na esquina do Erudito com a Boca do Povo.

Famoso, respeitado, dono de um enorme prestígio, Paulo Leminski realmente ampliou-se ao limite máximo e partiu em direção ao "sonho de outras esferas". Viveu com a intensidade de um samurai zen budista e construiu uma obra seguramente inscrita definitivamente na pele da prosa e da poesia brasileira. Poeta inovador, polemista irreverente, agitador imantado e - fatalidade inquestionável - humano, atingiu uma luminosidade extrema, como ele mesmo escreveu no poema "Sintonia para pressa e presságio": "Eis a voz, eis o deus, eis a fala,/ eis que a luz se acendeu na casa/ e não cabe mais na sala".

(Ademir Assunção, em artigo para o caderno Artes e Espetáculos do Jornal da Tarde. São Paulo, 29/3/1991.)

Leminski era cinco vezes a personificação do Saci. Por isso, e também por seu Sol-Júpiter, que o fazia exagerado, carismático, super-hiper-autoconfiante, ele tenha tido a audácia de lançar, como seu primeiro livro, o Catatau. Neste, o Kamiquase colocou Descartes com sua lógica de régua e compasso fumando maconha tupiniquim. Descartes perdeu a lógica e o texto, que partia de citações da boca do povo, transmutando-se sobre si mesmo como quando se pensa muito sobre uma coisa. Veja você: Saturno, o pai dos burros, fura bolos com o mindinho de Mercúrio e mata piolhos a unha. Ou: Vá em frente, eis o abismo. Coisas de Saci que luta judô.

Virgem tem esse humor. Humor negro e sacana. Chega a ser marcial. É sua salvação. Até por se levar muito a sério é preciso rir. E Leminski ria alto. Mas não à toa!

Um saci virginiano

PAULO LEMINSKIO Saci das Araucárias

Nascido em 1944 e morto aos 45 anos, em 1989, Paulo Leminski foi o grande nome da poesia paranaense e um dos mais instigantes poetas brasileiros da segunda metade do século XX. Entre uma e outra citação, João Acuio traça o perfil astrológico do mais mercuriano dos escritores de Pindorama.


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