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Heróis nos contos,
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Astrologia e Estruturas Narrativas
A Jornada do Herói

Eduardo Loureiro Jr.
Início | Parte 3

O chamado à aventura

É no meio dessa tranqüilidade que o herói recebe o chamado à aventura. Pode ser um momento único, ou vários momentos: é quando Chapeuzinho, que tem vontade de ir pelo caminho da floresta, recebe de sua mãe o conselho de se precaver contra o lobo, ou quando o Lobo disfarçado a convida para trilhar o caminho da floresta; é quando o professor John Keating de Sociedade dos Poetas Mortos leva os jovens até a galeria de antigos alunos e os convoca a aproveitar a vida (carpe diem). Por ser nitidamente uma experiência de anúncio, convite ou convocação, está associada à 3a casa, referente às comunicações em geral.

A primeira reação do herói é recusar o chamado por medo ou ignorância: Chapeuzinho recusa o convite do Lobo disfarçado lembrando o conselho de sua mãe; os alunos discutem entre si a validade ou não da experiência com o professor Keating. Para fugir dessa indecisão, normalmente o herói recorre à opinião de alguém com mais experiência, ou encontra-se com um mestre: o Lobo disfarçado serve também de mestre para Chapeuzinho, convencendo-a a seguir pela floresta; o professor Keating explica por que seus alunos devem rasgar o velho livro de literatura.

Esse apego à situação presente é típico da 4a casa, que representa os subterrâneos da identidade, a programação e os condicionamentos do indivíduo. Mas é também o lugar onde se pode encontrar a sabedoria de algum familiar mais velho ou então de sua voz interior, de sua memória.

Animado então por essa força extra, o herói atravessa o primeiro limiar: Chapeuzinho satisfaz seu desejo de andar pela floresta; os alunos rasgam seus livros numa sonora catarse. Esse momento corresponde à primeira quadratura da jornada astrológica do herói, é quando ele é catapultado para um mundo novo. Corresponde, na nossa análise, à 5a casa, onde impera o prazer de expressar a própria singular e particular natureza.

Mas o mundo novo não é feito só de flores, o herói irá descobrir imediatamente que terá de passar por testes e provas para conseguir sobreviver: a floresta tanto encanta quanto assombra chapeuzinho; em Sociedade dos Poetas Mortos, os alunos terão que conciliar as novas atividades culturais com a rígida disciplina da escola. É hora de passar pelas experiências da 6a casa: consciência do corpo e das necessidades cotidianas, mundanas. É tempo de crises, de trabalho, de se sentir no ventre da baleia, num ambiente cujos códigos não se dominam ainda e que se tem que aprender.

Neste mundo especial, o herói vai ter encontros com amantes, amigos e inimigos: Chapeuzinho se reencontra com sua avó, que não é sua avó, e sim o Lobo; os alunos encontrarão, além do professor Keating (que a partir de então será chamado pelos mais ousados de Captain, my Captain), a oposição do coordenador da escola; será o momento também de os alunos se apaixonarem e terem momentos românticos. É uma situação típica da 7a casa, onde há projeções e expectativas que vemos serem cumpridas através do "outro".

Definidos aliados e inimigos, chegou a hora da provação suprema para o herói: o Lobo se revela e parte para cima de Chapeuzinho; os alunos estão no meio de suas crises românticas ou vocacionais. Trata-se da segunda quadratura, ou oposição. Tudo está de cabeça para baixo. O que no começo era o mundo comum com toda a sua segurança, agora é uma zona de areia movediça pronta a sugar o herói. A 8a casa se apresenta, com todos os assuntos que nos negamos a ver, com as coisas que a maioria de nós evita confrontar.

O herói precisa se concentrar novamente, encontrar-se novamente com um mestre, só que agora num nível mais elevado, uma espécie de eu superior que lhe indicará o que fazer e que lhe trará a recompensa da vitória ou da satisfação pessoal: Chapeuzinho chega sã e salva à casa de sua avó; um dos alunos de Keating decide fazer teatro, outro joga o velho estojo de escritório dos pais no mato e improvisa um belo poema, outro declara sua paixão. Estamos na 9a casa, em contato com o Divino que existe dentro de cada um de nós.

A turma inteira sobe na mesa para homenagear o professor Keating em Sociedade dos Poetas Mortos. A cena tem um sentido de recomeço e de conquista da liberdade, guardando relação com a casa 1.

O herói está no ponto de se sentir realmente um herói, de se considerar o rei do mundo e tem a sua apoteose: Chapeuzinho cumpriu sua missão e está entregando a cesta de alimentos para a avó; o mais ousado dos alunos de Sociedade dos Poetas Mortos faz sua estréia como ator e é aplaudido de pé. A 10a casa, a meta de vida pessoal, o alto da montanha é atingido.

Mas as sombras que cercaram o herói durante toda a jornada não desistem, elas perseguirão o herói em seu caminho de volta: Chapeuzinho descobre que o Lobo está se fingindo de vovozinha, depois de tê-la comido; o pai do aluno-ator o proíbe de continuar atuando. Como Prometeu, mito associado a Aquário, signo referente à 11a casa, nosso herói ousou roubar o fogo sagrado dos deuses e terá que se haver com eles. A terceira quadratura se apresenta. Seus ideais e perspectivas de futuro passarão por mais uma prova.

A morte e a ressurreição do herói


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