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DISCUTINDO O PAPEL DA ASTROLOGIA
Astrologia & Psicologia
Marcus Vannuzini

A Astrologia é um espécie de Psicologia ou um processo oracular? É possível uma Astrologia totalmente pura? E qual a fronteira entre Astrologia e Psicologia?

Sou meio reticente em designar, numa simplificação, a Astrologia como linguagem. Por quê? Porque uma linguagem, entendida como um mero sistema de sinais articuláveis para comunicar alguma coisa, é um conceito vago quando se pensa a Astrologia. Acho que a Astrologia é, também, uma linguagem com sua gramática própria, mas é mais que isso. Penso que uma "visão do homem" está implícita na idéia de Astrologia, que estuda as relações do micro e do macrocosmo.

Idealmente, nós precisamos de um Norte - uma proposta filosófica de trabalho (valor...) e um método através do qual seja possível remover do caminho os preconceitos e juízos, as réguas, "as balanças de pesar almas".

Parece estranho pensar a Astrologia só como uma técnica fria, do tipo: "Vênus está em Sagitário na Casa XI em trígono com Saturno e por isso bla, bla, bla..." Seria puramente mecanicista; se não estamos conscientes de que o homem reflete o macrocosmo, que existe essa relação com algo maior que nós mesmos, eu nem saberia como definir a Astrologia.

Então não pode ser só linguagem, por natureza. É um sistema maior, subjacente à linguagem - que lhe dá alma. Se for pensada pela ótica de Espinosa, uma visão teológica, por assim dizer, "todas as coisas (inclusive os homens) são modos da substância única que é Deus." [ver ilustração abaixo]

Aí pode-se pensar neste sistema que a Astrologia é como a "álgebra divina", uma manifestação/revelação da divindade, um meio de compreendê-la e a todo o universo.

Não sei até que ponto as convicções de quem usa a Astrologia podem "adaptá-la" aos seus proprios padrões... A Astrologia é! "É" no sentido mesmo de ser o que é, independentemente do que eu ou você possamos pensar que ela possa ser (como Deus, talvez?...).

Considero a Astrologia uma realidade por si só; consiste do estudo das relações que podemos observar entre os fenômenos celestes e os fenômenos terrestres - e que são constatáveis. A Astrologia revela a correspondência entre dois planos, o macro e o microcosmo, o ser humano integrado ao cosmo e aos ciclos em constante mutação. Não dá, para moldá-la, para transformá-la em outra coisa que ela não é. Ao homem cabe estudar essas relações e compreendê-las - até onde possível. É claro que é mais fácil observar e constatar que existem essas correspondências (em outras palavras, que a Astrologia funciona) do que saber como funciona.

Espinosa (Benedict Spinoza), filósofo nascido em Amsterdã (1632-1677), filho de judeus portugueses. Filósofo de orientação racionalista, como Pascal, Descartes e Leibniz. Sua obra mais conhecida é a Ética.

Este ponto é importantíssimo e extremamente delicado. Pois, a princípio, e para qualquer prática, existe a subjetividade. Afinal, você é, ao praticar algo, o sujeito que atua e observa e conclui segundo seus conteúdos internos (subjetivos). Porém, além do observador há também o objeto de sua observação e todo o conhecimento ao alcance desse observador (adquirido por ele mesmo, anteriormente, e por outros estudiosos).

Assim, deve haver parâmetros comuns aos praticantes de Astrologia. Aliás - eis aí uma coisa que dificulta a estruturação da Astrologia, pois muitos entendem diferentemente os fatores astrológicos.

Por exemplo: o simbolismo do signo X, do planeta Y e da Casa Z deve ser aquele que corresponde, na essência, ao que todos os praticantes constatam na prática astrológica. Aí não pode haver subjetividade. O simbolismo de Júpiter não pode ser o de Saturno, nem o de Marte igual ao de Urano. Isso é técnica astrológica, é raciocínio lógico.

Já, na interpretação sintética de todos os fatores que constituem o todo de um determinado mapa, a subjetividade tem uma certa "licença poética", pois transcende a técnica.

Então, o astrólogo, baseado em sua ideal proposta de trabalho, filosoficamente orientada, buscando isentar-se de preconceitos, julgamentos do tipo certo-errado e de outros tipos também: "esse mapa é ruim", "essa cliente é lésbica", "esse cara é ladrão", "essa mulher me irrita, parece minha sogra", e assim por diante, tenta portanto compreender o indivíduo que o mapa representa, e tudo o que o cliente percebe daquilo tudo, para, somente então, numa linguagem que ambos compreendam, poder lidar com as eventuais dificuldades, conflitos, dilemas, potenciais e tudo mais que o mapa seja capaz de revelar (e que o astrólogo seja capaz de ler).

A delicada fronteira do astrológico e do psicológico


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