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ASTROLOGIA, COMPORTAMENTO E CULTURA

Consciência inclusiva, amor e preconceito

Carlos Hollanda

 
Este artigo foi escrito em agosto de 2001. Era a base de uma palestra a ser dada no congresso Possibilidades Amorosas da Astrologia, que Valdenir Benedetti planejava realizar em São Paulo. Por motivos de força maior Valdenir teve de adiar o projeto. Logo depois, vieram os atentados terroristas ao World Trade Center e as conseqüentes represálias americanas. Mais do que nunca, as questões levantadas neste artigo tornaram-se pertinentes, pois, para evitar um retorno à selvageria, precisamos desenvolver uma consciência como a proposta no texto a seguir.

Estas linhas não são um tratado formal de Astrologia, nem tampouco uma tentativa de comprovar uma hipótese. São apenas reflexões filosóficas sobre até que ponto a Astrologia possibilita o surgimento de uma consciência amorosa. Por "amorosa" entenda-se não uma série de atitudes melosas ou românticas como nos filmes de Hollywood, mas uma percepção de totalidade. Neste sentido, classificar o Amor como "isso" ou "aquilo" seria limitá-lo a uma visão ou muito particular ou aprisionada por valores culturais. A mesma percepção que trouxe a idéia de Amor-totalidade veio acompanhada da já tão conhecida e tão aguda percepção de que nós, humanos, somos profundamente limitados. Por ser limitado, entendo que posso ter certezas, mas não certezas absolutas. Ao que parece sempre será preciso deixar uma pequena brecha para a entrada de um novo elemento. Sempre haverá necessidade de incluir o que aparentemente nos é diverso. Aparentemente sim, porque em se tratando de consciência - veremos ao longo do texto a seguir - o que nos é diverso só o é porque somos socialmente educados para excluir e diferenciar. Acreditamos que isso seja uma postura mais segura para construir nossa realidade. Entretanto, o esforço de exclusão, diferenciação e definição de limites muito bem demarcados entre seres humanos acaba por criar os preconceitos e gera discrepâncias sociais muito graves.

Como ser humano que usa a Astrologia para se guiar nos meandros de sua existência, meu referencial filosófico naturalmente será baseado nas inter-relações entre os símbolos que compõem um mapa astrológico. Como toda reflexão, parte de dentro, não posso dispor uma bibliografia ou referências técnicas aos leitores. O máximo que posso fazer é citar outros seres humanos com sede suficiente de conhecimento que de uma forma ou de outra me guiaram até as percepções que ora apresento.

Como identificar o amor no mapa astrológico?

Temos uma visão bastante parcial do Amor e, por ser parcial, talvez esteja equivocada. Grande parte dos astrólogos ocidentais costuma, em função de nossa cultura, identificar o Amor com os signos de Libra, e de Peixes, respectivamente, uma das regências e a exaltação de Vênus, a deusa greco-romana do amor. Peixes, inclusive, guarda analogia com o Amor incondicional, o amor crístico, indiferenciado. Também é possível enxergar, com muita propriedade, Aquário como símbolo do amor impessoal à humanidade. Os mais observadores perceberão que Leão é o signo do amor pessoal e do desejo de ser amado, de exprimir-se em busca de uma unidade ao ver-se refletido no mundo ao redor. Leão e o Sol, seu regente, estão intimamente associados ao chacra cardíaco, centro espiritual de doação de amor, segundo as doutrinas budistas e hinduístas. O tão propalado "amor materno", para pessoas versadas na Astrologia, logicamente deve ser atribuído ao signo de Câncer.

E quanto aos outros signos? Com nossa consciência segregadora e exclusivista é muito fácil identificar tudo o que é contrário aos signos supracitados como o inverso do Amor. No entanto, se dermos um mínimo de atenção ao potencial de inclusividade que o próprio mapa astrológico exprime, perceberemos que o zodíaco é um círculo e um círculo não tem começo nem fim. Isso quer dizer que todos aqueles processos aparentemente dissociados fazem parte de um único processo todo-inclusivo.

Preconceitos

Não seriam os outros signos expressões diferenciadas do amor? Negar estas expressões não seria excluí-los e segregá-los? Não estaríamos sendo preconceituosos, hipócritas e tacanhos em nossa mentalidade ? Será que apenas a delicadeza é o reflexo do amor ou ela é a manifestação que aprendemos a identificar assim por causa dos elementos coercitivos de nossa cultura?

A aplicação e conhecimento da Astrologia pode servir de ferramenta para mostrar, por meio de seu próprio diagrama, o quanto somos hipócritas ao tentarmos nos diferenciar dos outros julgando-nos melhores. Esquecemos que em algum momento agiremos sob o mesmo elemento motivador das pessoas que criticamos e segregamos. Isso é claramente provado nas técnicas de progressões, trânsitos e revoluções solares. Elas mostram que, de certa forma, vivenciamos todos aqueles símbolos. Apesar disso não percebemos de todo o quanto estamos condenando a nós mesmos quando apontamos o dedo e pensamos: "Você é assim, mas eu não".

Em seus primórdios, a Antropologia Física usou características fenotípicas de cada tipo humano para justificar preconceitos e a subjugação do homem pelo homem. Nós, hipócritas de hoje, usamos a Astrologia como instrumento para justificar nossos preconceitos, legitimar nossa atitude segregacionista e nosso sentimento ilusório de superioridade. Se não tomarmos consciência de que tal propensão existe, tornaremos a prática da Astrologia inviável para a construção de uma qualidade de vida maior para todos.

Os outros signos fazem parte da circunferência zodiacal, não há como negar. Se observarmos sob a ótica do Amor, todos eles refletem os propósitos desta força coesiva, cada um a seu modo particular. Com toda certeza, em meio a astrólogos bem treinados, tal afirmação parece controversa, até porque temos os planetas Mercúrio, Marte, Plutão e Saturno, além dos signos por eles regidos (Áries, Gêmeos, Virgem, Escorpião, Capricórnio). Tais símbolos representam, para a visão dualista, justamente o oposto do que pode ser visto como a venusiana expressão amorosa ou o altruísmo de Aquário e Peixes. Mas isso porque nos é mais confortável não retirarmos os antolhos que impedem uma visão unificadora. Raciocinemos com base no famoso Oráculo de Delfos: nenhum extremo significa a verdade absoluta e nenhum extremo leva à totalidade. Se é assim, então os signos venusianos e altruístas não são a última palavra e nem a expressão perfeita do Amor, pois representam extremos de manifestação. O símbolo de Vênus, como parcela que é, pode, sim, ser definido.

Vênus, a força agregadora

Atalhos de Constelar 73 - julho/2004

Consciência inclusiva, amor e preconceito, de Carlos Hollanda
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