Fernando Fernandes

Plutão em Escorpião não preencheu as melhores expectativas do início dos anos 80. E Plutão em Sagitário, a partir de 1995, trouxe novas questões críticas, como a clonagem, o extremismo religioso, a corrupção em escala multinacional e os distúrbios climáticos.

Se Plutão em Escorpião viu o alastramento da Aids, em Sagitário trouxe de volta a discussão do comportamento sexual dos sacerdotes.

Revendo o papel de Plutão em Escorpião vinte anos depois

Quando Tereza Kawall escreveu o artigo sobre Plutão nos signos, do qual este texto é um apêndice, o pequeno planeta trans-saturnino acabara de entrar em seu próprio domicílio em Escorpião. Assim, todo que foi dito em 1984 sobre Plutão em Escorpião estava ainda no terreno do raciocínio prospectivo e das previsões.

Passados vinte anos, é com certo desencanto que verificamos que as melhores expectativas da autora (e da maioria dos astrólogos dos anos 80, por extensão) não se concretizaram. Plutão em Escorpião não trouxe os esperados avanços na consciência espiritual, nem a utilização mais criteriosa dos recursos não-renováveis. Os avanços da medicina foram enormes, mas continuam, em grande parte, inacessíveis aos que não dispõem de recursos, além do que, para os países africanos, o flagelo da Aids reduziu a zero todos os benefícios obtidos com o controle de outras doenças endêmicas. Enfim: o mundo não parece ter chegado ao limiar de um novo tempo.

Contudo, conforme Tereza Kawall tão bem antecipa, o impacto de Plutão em Escorpião fez-se sentir em outros domínios, mais mundanos e objetivos. Vejamos:

"A humanidade está sendo avisada de que é tempo de aprender a partilhar os recursos do planeta de forma mais construtiva."

Efetivamente, a consciência ecológica disseminou-se com muita rapidez durante os anos 80 e 90. A opinião pública mundial já sabe que os riscos são iminentes e que não há muito tempo a perder. O auge do despertamento coletivo foi a divulgação mundial dada às discussões e conclusões da Conferência Eco 92, ocorrida no Rio de Janeiro (cidade que tem Plutão no Meio-Céu, diga-se de passagem). Entretanto, a conscientização não se transformou em ação global. Tratados internacionais sobre clima e manejo de recursos naturais foram - e continuam sendo - sabotados pelas grandes potências, especialmente os Estados Unidos.

"(...) urgente necessidade de reorganização no sistema político-financeiro mundial, e de reavaliação da atuação das grandes potências, que não mais poderão exercer o seu poder de forma tão indiscriminada para com os países em desenvolvimento."

A reorganização ocorreu, e de forma bem mais rápida e surpreendente que se poderia imaginar. Todo o bloco soviético desmoronou por si só, encerrando a era da guerra fria. Gorbachev, plutonianamente, implodiu o velho modelo socialista e abriu terreno para a fragmentação política da Europa Oriental.

Isso significa que o mundo tornou-se mais pacífico e seguro? Nada disso. A primeira guerra do Golfo (1991) e a guerra civil das repúblicas da antiga Iugoslávia (Sérvia, Bósnia etc.) mostraram que a humanidade mergulhava de novo em velhas rivalidades que, de tão arcaicas, pareciam estar definitivamente soterradas pelos novos tempos. Mas eis que ressurgem a selvageria das cruzadas medievais, os conflitos religiosos e étnicos de tempos bárbaros...

Plutão em Sagitário

Com Plutão em Sagitário desde 1995, confirma-se o sentido dos trânsitos deste planeta, que parece trazer à tona exatamente as tendências mais inferiores do signo transitado. Sagitário não rege as leis e as religiões organizadas? Pois o que temos hoje? Nunca houve tantas revelações sobre corrupção no Judiciário quanto nos últimos nove anos. No Brasil, a figura-símbolo deste processo foi o famoso juiz Lalau. A corrupção atinge também grandes corporações, especialmente multinacionais (Sagitário rege as longas distâncias e os contatos com o estrangeiro). A China apareceu de vez como potência do comércio mundial, praticando preços baixíssimos em função da remuneração irrisória de seus trabalhadores. O subemprego e o desemprego estão em alta no mundo inteiro, assim como as denúncias sobre trabalho infantil. Cabe não esquecer que Sagitário forma quadratura com Virgem, signo do trabalho assalariado, e oposição com Gêmeos, signo a que podem ser associados os pré-adolescentes e adolescentes. Estes, aliás, sempre apareceram nos últimos anos como vítimas de práticas nefandas, como a prostituição infantil e a pedofilia.

Pedofilia? E o foco se acende sobre a Igreja. Sendo a religião organizada um assunto sagitariano, o trânsito de Plutão pelo signo da fé trouxe à tona revelações escabrosas envolvendo uma parcela importante das autoridades eclesiásticas (especialmente nos Estados Unidos). Ao mesmo tempo, o papa peregrino e incansável, no final de sua missão, prega a tolerância para com os diferentes e consolida a transformação da organização que dirige. A Igreja Católica nunca mais será a mesma. Outros tópicos que podem ser diretamente associados à passagem de Plutão em Sagitário são:

a) A discussão ética sobre a clonagem e as aplicações da biotecnologia. Plutão é considerado significador de processos genéticos; Virgem e Gêmeos, signos em quadratura e oposição a Sagitário, são significadores de tecnologia e de conhecimentos científicos; Sagitário, finalmente, é o signo das grandes questões éticas e filosóficas. Nada mais natural que tudo isso viesse à luz nos últimos anos. Dolly também é filha de Plutão.

b) O avanço espetacular da Internet e a circulação de informação em níveis jamais sonhados. Gêmeos-Sagitário constituem o eixo da comunicação e da circulação de idéias. Com Plutão em Sagitário, a Internet popularizou-se a ponto de responder hoje por parcela considerável da circulação de informações no mundo. A Internet vai além-fronteiras (Sagitário) e cria uma verdadeira aldeia global, mas, por outro lado, permite a propaganda de propostas criminosas sob a capa do anonimato (Plutão). Basta lembrar que a Internet tem sido o canal de articulação de redes de pedofilia, grupos terroristas, seitas exóticas, canibais e congêneres.

c) Radicalismo religioso. O fundamentalismo não foi "inventado" durante o trânsito de Plutão em Sagitário, mas é inegável que o sectarismo e a violência justificada por cultos de toda ordem aumentaram sensivelmente desde 1995. As últimas guerras que o mundo presenciou - Iraque, Kossovo, Afeganistão, Chechênia, Timor Leste - tiveram todas um forte componente religioso como causa direta ou indireta.

Finalmente, um dos resultados mais terríveis do atual trânsito de Plutão em Sagitário vem sendo a aceleração da degradação ambiental, com sensíveis mudanças climáticas. Meio ambiente é, antes de tudo, um conceito atribuível a Gêmeos, signo oposto a Sagitário. O outro tópico assustador é a progressiva perda de liberdades democráticas no mais sagitariano dos países, os Estados Unidos, como reação de defesa às redes internacionais de terrorismo (de novo, Plutão em Sagitário). Sob o efeito do medo, os mais belos ideais da Revolução Americana estão virando fumaça. Esperamos que não seja para sempre.

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