Um quincunce entre Marte e Júpiter explica
muito desta guerra. Entre outros significados, expressa a disputa
territorial e o alastramento de incêndios.
Quanto aos aspectos de Marte, de fato no mapa do
primeiro ataque o planeta não tem aspectos considerados maiores.
Entretanto, considero o quincunce de importância quase igual
à dos maiores e Marte faz um com Júpiter. Além
disso, existe o controverso aspecto do septil (aproximadamente 51
graus) entre Marte e Urano. No mapa do ataque, o septil está
praticamente exato. Marte, embora não seja ativado por aspectos
maiores, tem Saturno como dispositor, e este está em posição
crucial no eixo 4-10, em oposição com Plutão.
Se tomarmos Bagdad como a base onde se concentram os ataques, podemos
associá-la com a casa 4, encastelada, tentando se defender
como pode, embora sabendo que sua resistência não será
suficiente, e com Saturno - os representantes do Estado - num bunker
sob a terra.
Alexey Dodsworth mencionou o grande trígono
envolvendo Saturno, Lua e Vênus em casas de Água. Como
há alguns anos tenho dado preferência ao sistema Regiomontanus,
no mapa que montei a Lua fica distante da oitava casa cerca de 6
graus, mantendo-se na sétima casa. Apesar disso, concordo
com a possibilidade de um acordo oculto entre potências não
alinhadas, talvez até de algum modo favorecendo o Iraque.
Vladimir Putin, da Rússia, já exige o fim dos bombardeios
e Putin tem aquele "delicado" Plutão na casa 1...
A Lua permanecendo na sétima estaria de acordo
com uma aliança, ainda que não estabelecida formalmente,
da Rússia com os interesses dos países que estão
contra o conflito e uma aliança velada com o Iraque, em vista
dos aspectos enviados à casa 12. A Lua está muito
bem aspectada, o que não só pode levar a um amortecimento
do conflito (Libra) como pode aumentar o número de países
declaradamente opostos aos bombardeios. No entanto, logo a Lua entrará
em Escorpião, o que ativa fortemente a oposição
de Plutão com Saturno, podendo recrudescer e espalhar (Sagitário-Gêmeos)
o conflito para outras regiões, com sério abalo nas
relações políticas internacionais (Sagitário
+ Saturno-Plutão).
O quincunce de Marte com Júpiter não
pode ser deixado de lado, especialmente pelo fato de isso estar
vinculado à idéia de disputa territorial, alastramento
de incêndios e empenho de diversas nacionalidades num conflito.
No mito grego também podemos encontrar algumas referências
à relação conflituosa entre Marte e Júpiter.
Zeus detestava Ares, uma vez que este, representando todo um esforço
para impor a própria individualidade, normalmente não
respeitava as imposições ou leis do Olimpo - estas,
por sua vez, estabelecidas pelo rei dos deuses. Zeus tolerava Ares,
mas bem que gostaria de destruí-lo. Nascido de Hera, Ares
era tudo aquilo que ia de encontro à idéia de ordem
estabelecida para todos, que Zeus representava (regras estas que
normalmente Zeus mesmo burlava, como em suas escapadas do casamento).
A contradição entre Júpiter e Marte é
a contradição entre as regras da sociedade e o indivíduo,
especialmente no que tange à imposição de uma
ritualística e a sistemas de crenças e costumes. Os
protocolos culturais de Júpiter são uma faceta diferente
de Saturno, que representa a legitimação dessas regras
e a ação coercitiva para que os indivíduos
as sigam. Mas o conflito Júpiter-Marte também é
a contradição entre a vontade de domínio e
as vontades de uniformização comportamental de poderes
coletivos, além das vontades de vários outros sobre
a de um indivíduo.
Dane Rudhyar, num trecho de Uma Mandala Astrológica
(ed. Pensamento), nos graus simbólicos, fala sobre uma imagem
onde uma locomotiva estraçalha um carro. Eis o texto:
05 Câncer: Num cruzamento de estrada
de ferro, um automóvel é atingido por um trem.
Idéia básica: Os resultados trágicos
que apresentam probabilidades de ocorrer quando a vontade individual
se lança de maneira descuidada contra o poder da vontade
coletiva da sociedade.
Fica fácil observar que a locomotiva tem óbvias
conotações jupiterianas e marciais (um transporte
de massa e de longa distância, mas de metal e na dianteira
de uma composição) e o carro tem conotações
marciais individuais. A idéia é de um conflito entre
uma força coletiva e outra de natureza individual, ou de
uma força extremamente maior contra outra que, embora constitua
um certo grau de perigo, não tem chances. Estas chances,
no caso do Iraque, só viriam com a entrada de outras potências
na guerra. Enfim, quincunces em geral encontram-se em situações
de conflito e destrutividade, e este quincunce ocorre entre Leão
e Capricórnio, ou seja, estamos falando de "quem manda
mais", quem tem mais poder, quem merece a atenção
e a credibilidade do mundo. É a questão do poder carismático
e emocional (Leão) ou de um apelo a sistemas de crenças,
enfrentando a idéia de poder legitimado, a idéia de
ordem atribuída por consenso mundial à soberania de
um Estado (Capricórnio).
Por fim, no Ascendente do mapa do ataque temos a
estrela Achernar, que tem natureza jupiteriana, segundo Ptolomeu.
Apesar disso, não é tão maravilhosa assim e
tem tudo a ver com o evento. Achernar tem como dístico "O
Querubim e a Espada". Sugestivo, não? Butcher the Kid
(para citar a feliz expressão de Antonio Carlos Harres) empenha-se
nesta guerra como uma cruzada, cheio de discursos sectários.
A interpretação também coloca a estrela como
coincidente com assuntos envolvendo fogo e enchentes. Vivian Robson
aponta a interpretação tradicional que se refere a
"honras reais e êxito em atividade pública".
Entretanto, pensando como historiador, é preciso lembrar
que tais honras e êxito, na época em que estes tratados
foram escritos (seja na Idade Média, seja na Antigüidade),
referem-se na maioria dos casos a ações bélicas,
mesmo em se tratando de algo com a natureza de Júpiter. Aliás,
a expansão territorial de impérios dá-se não
somente por vias marciais, mas por vias jupiterianas, seja através
da propaganda, seja através da disseminação
dos costumes e a imposição das crenças.
Outro fator a ser levado em consideração
é o fato de arqueiros e cavaleiros serem figuras militares
ou no mínimo agressivas, antes de tudo, especialmente na
época em que foram escritos os textos que Robson traduziu.
E quem disse que os tipos sagitarianos ou jupiterianos (aqueles
com índole de Fogo, não os jupiterianos do tipo Peixes)
são dóceis e tranqüilos? Costumo ver Achernar
em evidência (culminando, ascendendo etc.) em mapas de pessoas
com grande necessidade psicológica de impor sua vontade ou
de, aos poucos, chegar a um ponto onde seus modelos sejam finalmente
aceitos por todos, nem que seja à força. Isso não
quer dizer que venham a ser consideradas desagradáveis, mas
a questão da necessidade de ascensão social é
bem clara. Eis a tradução do texto que Bernadette
Brady produziu para o programa Solar Fire sobre a estrela:
Risco de desfechos rápidos
Achernar simboliza o estuário do grande rio
Eridano, que deságua perto do Agro. Essa estrela tem um forte
efeito em cartas de eventos, indicando problemas com fogo ou enchentes.
Numa perspectiva mais pessoal, parece indicar um indivíduo
que correrá muitos riscos e que, em conseqüência,
candidatar-se-á a pular de uma dificuldade para outra.
|