Fernando Fernandes e Carlos Hollanda

Os filhos do nevoeiro e os filhos do trovão

E Lucas? Seria um leonino? Bem... Jade parece esperar o tempo todo que ele se comporte como um, mas o que predomina em Lucas é a dimensão netuniana. Na mesma novela, aliás, temos dois típicos personagens piscianos em Lucas, o homem de quem foram tiradas as células que fizeram o clone, e em Lobato, o ex-viciado, que a autora Glória Perez transformou no porta-voz de uma campanha antidrogas. Uma das declarações de Lobato na novela foi marcante, numa de suas consultas com o psiquiatra: "Você está me confrontando com a realidade! Não faça isso! Eu não quero me confrontar com a realidade. Eu quero crer que os culpados de minha situação são os outros. Não eu!". Tendemos a rejeitar as pessoas, condenando seus vícios. Mas perguntemo-nos: quem não tem algum tipo de vício? Muitos deles, por sinal, são aceitos socialmente, mas são vícios, e vícios normalmente são fugas da realidade ou compensações psicológicas a algum tipo de sofrimento. Já Lucas e seu clone, Léo, demonstram o comportamento passivo e sonhador, desprendido e artístico para o qual falta um pouco de orientação para que seja devidamente desenvolvido. A opressão exercida sobre Lucas pelo pai em função do irmão gêmeo falecido e a sensação de incapacidade para enfrentar o mundo e impor sua vontade levaram-no a sentir-se vitimado pelas circunstâncias. Léo, ao contrário, desliga-se da realidade como Lucas gostaria de ter-se desligado.

Pisciana é também a confusa e drogada Mel (Peixes), formando um contraste com a responsável, bem arrumada e correta Telminha (Virgem). Como as duas eram antes amigas inseparáveis, é exatamente a lucidez mercuriana de Telminha que serviu de pano de fundo para tornar ainda mais visível o processo de mergulho de Mel na dependência química.

Dificilmente uma novela cuja estréia se deu sob um mapa como este (01.10.2001, 20h56 - Rio de Janeiro, RJ) não estaria sintonizada com questões envolvendo religião, clonagem, ética e contato com culturas estrangeiras: a oposição Plutão-Saturno, a mesma que serviu de pano de fundo para o atentado ao World Trade Center, está no eixo Ascendente-Descendente do mapa da novela. Com Urano em Aquário no Meio-Céu, o fio condutor da história são os atos de um cientista que acaba por interferir na vida de toda uma família, a de Leônidas (Leão na casa 4).

Os valores de Sagitário estão diretamente conectados com alguns dos eixos principais de O Clone, que são a questão do choque cultural entre cristãos e muçulmanos e a discussão ética em torno dos limites da ciência. Se pensarmos que religião, moral, leis e contato com culturas estrangeiras são assuntos sagitarianos, logo observaremos que alguns personagens entram na trama exatamente para darem vida a tais funções de Júpiter. Para começar, perguntemos: que personagens assumem uma função sacerdotal, em sentido lato ou estrito? Há pencas deles, a começar pelo padre amigo de Albieri, é lógico. Do lado muçulmano, dois de uma única vez: os tios Ali e Abdo, cujas personalidades quase opostas expressam nada mais que duas atitudes diferentes diante da aplicação da justiça. Ali é o que aplica a lei e os preceitos religiosos com sabedoria e ponderação, simbolizando a confluência dos valores de Sagitário e Libra. É Júpiter, o misericordioso, aliado à sociabilidade de Vênus. Já Abdo é o cumpridor rigoroso dos princípios tradicionais, o que não admite interpretações liberais da lei, o fundamentalista, enfim. Lembra Saturno tensionado em Sagitário, ou ainda Plutão neste signo. Abdo, no plano da ficção, está em correspondência com a intolerância religiosa que se intensificou durante a oposição Saturno-Plutão no eixo Gêmeos-Sagitário.

Além destes, há vários outros personagens com conotações sagitarianas, se bem que não tão evidentes. O que não falta em cada núcleo de O Clone é um personagem moralista ou que exerça a função de "braço da lei". Até mesmo Dona Jura, atrás do balcão de seu botequim em São Cristóvão, também aprova, condena e mantém a ordem no "pedaço". Por outro lado, há os vários espertinhos e espertalhões, a maioria com conotações geminianas, como a dupla Raposo e Ligeiro, sempre às voltas com pequenos expedientes que dão vazão às habilidades menos nobres de Mercúrio (mentir, imitar, enrolar, confundir). A ambiciosa Mulher-Vulcão, que faz sua filha engravidar do rico Tavinho, já é uma espertalhona de outra classe, provavelmente unindo traços negativos de Leão e Capricórnio (trabalhava no palco, expelindo fogo, só pensa em ascensão social e faz uma idéia muito elevada de si mesma).

Albieri, Parsifal e a busca do Santo Graal

DEBATE: Introdução Signos dos personagens Albieri, Jade Zoraide, Yvete, Leônidas Maysa, Mel, Dalva e Dona Jura Said, Latiffa, Mohamed e Ali Nazira, Alicinha, Lucas e Lobato OUTRA VISÃO: Os dois lados de Saturno Jade, mulher jogada no vento Filhos do nevoeiro e do trovão Albieri, Parsifal e o Santo Graal