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ASTROLOGIA E ANTROPOLOGIA

Crenças e tabus: o zodíaco frente à cultura

Carlos Hollanda

 

Placebos, crenças, sistemas peritos e o cachorro de Pavlov

Pavlov (de barba) em São Petersburgo, 1905, cercado de admiradores e com o indefectível cão condicionado.

Observando cuidadosamente, compreendemos que um placebo é uma forma de ativar um fator de legitimidade social que o sociólogo Anthony Giddens denominou "sistemas peritos". Em poucas palavras, sistemas peritos são a crença coletiva na funcionalidade e eficácia de instituições, produtos ou serviços oferecidos por profissionais competentes e legitimados. Para facilitar esta comparação, eis um trecho de um ensaio do jornalista Ananias José de Freitas sobre as observações de Giddens:

Os sistemas peritos, considerados por Giddens como o mais importante mecanismo de desencaixe, são "sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje". Apesar da maioria das pessoas leigas consultarem, apenas periodicamente, profissionais (advogados, médicos, engenheiros etc), elas estão, o tempo todo e em todos os lugares, na dependência de algum sistema perito:

Ao estar simplesmente em casa, estou envolvido num sistema perito, ou numa série de sistemas, nos quais deposito minha confiança. Não tenho nenhum medo específico de subir uma escada, mesmo considerando que sei que, em princípio, a estrutura pode desabar (...) quando saio de casa e entro num carro, penetro num cenário que está completamente permeado por conhecimento perito (...) ao escolher sair de carro, aceito um risco (...) quando embarco em um avião, ingresso em outros sistemas peritos, dos quais meu próprio conhecimento técnico é, no melhor dos casos, rudimentar. (Giddens)

Os sistemas peritos dependem da confiança dos leigos. Essa confiança se constrói em dois níveis principais: a experiência cotidiana (os aviões sobem e descem, os sinais de trânsito funcionam, os médicos quase sempre acertam o diagnóstico, os edifícios, em geral, não desabam etc) e a existência de forças reguladoras além e acima das associações profissionais com o intuito de proteger os consumidores de sistemas peritos - organismos que licenciam máquinas, mantêm vigilância sobre os padrões de fabricação de aeronaves, e assim por diante.

Do mesmo modo, o falso remédio, que o paciente julga ser um produto de efeitos comprovados cientificamente, tem a propriedade de despertar a crença em sua eficácia e, por conseguinte, gerar uma reação orgânica compatível. Do que estamos falando, então? De um sistema de crenças coletivo que atua freqüentemente em nível individual. Voltamos, portanto, ao ponto que toca o simbolismo sagitariano: a crença formulada pela tradição cultural. No caso do placebo e das tecnologias, trata-se de um traço cultural típico das sociedades modernas do Ocidente.

Reflexo Condicionado: o Homem é muito mais passível que os animais

1 - Introdução
2 - A cultura e a baba que escorre da boca
3 - Astrologia: tão ambígua quanto um sapo
4 - Os significadores astrológicos dependem do contexto cultural
5 - A relação da cultura com símbolos zodiacais
6 - A cultura e os eixos Gêmeos-Sagitário e Câncer-Capricórnio
7 - Os significadores de cultura
8 - Placebos, crenças, sistemas peritos e o cachorro de Pavlov
9 - Reflexo Condicionado: o Homem é muito mais passível que os animais
10 - A oposição entre Plutão e Saturno no eixo Gêmeos-Sagitário
11 - O ser humano como um ator múltiplo, mas inconsciente
12 - Escorpião, o Senhor dos Tabus

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