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LANÇAMENTO DE LIVRO
Astrologia: doze portais mágicos

Crítica de Constelar
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Um livro com poucos senões

Como nada é perfeito, podemos encontrar também alguns senões em Astrologia: doze portais mágicos. O primeiro é o próprio título da obra, que sugere um conteúdo na linha de esoterismo de consumo - o que, felizmente, não se confirma na leitura; o segundo é a ausência de personalidades brasileiras entre os mapas de exemplo. Não chega a ser um defeito, mas é uma omissão que só se justifica caso seja intenção dos autores adotar um tom intencionalmente neutro, com vistas a futuras versões para outras línguas. Versões que, se vierem, serão merecidas, pois trata-se de literatura astrológica de primeira qualidade - e de primeiro mundo.

O terceiro senão é bem mais sério, e pode dar munição para astrônomos mal-humorados, sempre prontos a encontrar motivos para relegar a Astrologia ao rol das superstições indesejáveis. Alguém teve a idéia de incluir em cada capítulo uma ilustração com a constelação correspondente ao signo, acompanhada de legendas explicativas. O problema é que as legendas falam de estrelas que não fazem parte das constelações zodiacais, induzindo o leitor desatento ao erro. Assim, por exemplo, Sirius, Canopus e Procyon foram parar na constelação de Câncer, onde nunca estiveram, quando o correto seria falar na projeção de tais estrelas sobre a eclíptica - algo muito diferente. Imaginem um astrônomo como o intransigente Ronaldo Rogério de Freitas Mourão apontando para passagens como esta e aproveitando para fazer um discurso sobre a falta de conhecimento técnico dos astrólogos!

Detalhe da capa de Astrologia: doze portais mágicos

Mas estamos sendo severos demais. O livro é bom e vai agradar em cheio, mesmo a quem acha que não tem nada a aprender numa obra para principiantes. Espalhadas aqui e ali, há brilhantes manifestações de prosa astrológica à espera do leitor. Como a de Antonio Carlos Harres, por exemplo, ao definir o estilo "visceral, acidentado e fraturado como um chão torcido por terremotos" do sagitariano Jimi Hendrix. Interessante observar, aliás, como Harres lança mão de hipérboles e semeia imagens panorâmicas para falar de Sagitário, em absoluta concordância com a natureza do signo que descreve. E faz um delicioso contraponto com o estilo informal do geminiano Luís Pellegrini, que, malandramente, transforma o leitor em cúmplice enquanto conta suas experiências eróticas com uma taurina possessiva. São dois capítulos irresistíveis.

Contudo, o capítulo em que o livro atinge uma inesperada dimensão lírica e intimista é exatamente onde não esperaríamos encontrá-la: trata-se do texto sobre Áries, de Marylou Simonsen, onde Marte é apresentado com um vigor e uma beleza raramente encontrados na literatura astrológica. Confiram:

O broto que eu observava tinha sido uma semente plantada na dor do inverno, e era, agora, uma promessa que se cumpria plena. (...) E quanta fúria e teimosia e violência existe na papoula escancarando a cor, nos insetos obrigando-se a acordar do sono. O coelho pondo a cara para fora, a raposa faminta lembrando que esse coelho existe, o pássaro que voa - Marte é instinto puro!

Não só instinto, acrescentaríamos: no texto de Marylou, Marte virou também pura poesia. Mais uma surpresa deste belo livro que nos pega pela emoção e que merece estar em todas as estantes.

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