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UM MAPA PARA SÃO PAULO

E foste um difícil começo

Barbara Abramo

 

Uma gente rude comendo formigas assadas

Eram treze jesuítas numa casinha de barro e paus, coberta de palha, com 14 passos de comprimento e 10 de largura, onde, nas palavras de Anchieta, estavam a escola, a enfermaria, o refeitório, a cozinha e a despensa. Davam as aulas ao ar livre, para os índios.

Esse Colégio, comandado pela cabeça esperta de Anchieta, produzia todo tipo de miscigenação cultural nativa/cristã, de modo a facilitar a catequização. Desse modo de lá saíram, segundo os historiadores, os primeiros letrados e poetas que o Brasil possuiu, no entender por exemplo, de Sérgio Macedo. Isso remete a uma energia do elemento Ar.

Como em outros povoamentos coloniais, a região vivia sob constante ameaça de ataques de tribos nativas contrárias ao acerto político que compunha o poder em São Paulo.

Tibiriçá numa versão idealizada

Em volta do colégio foram erguidas tabas e o povoado era fechado por quatro portas. Duas ficavam ao norte, guardadas pelos índios de Tibiriçá, pai da mulher de João Ramalho, que aliás não se sabe ao certo quando aqui chegou, mas era a influência política hegemônica na região. As duas portas restantes ficavam ao sul, defendidas pelo grupo nativo de Caiubi, outro chefe indígena que compunha o poder político com João Ramalho.

Havia, pois, uma composição política, comum na época e inteligente na ótica da dominação: os colonizadores se apoiavam em grupos tribais e aproveitavam suas brigas internas para irem estabelecendo o poder no lugar.

Na época da fundação, havia o número cabalístico de 133 moradores, 13 jesuítas e 120 nativos.

A igreja de São Paulo é inaugurada em 1° de janeiro de 1556. Em 1561 é construído um recolhimento para os exercícios dos padres, onde também se ensinavam letras. Em 1560 a vila de Santo André é extinta e João Ramalho se muda para cá, sendo que este não via com bons olhos o crescimento de São Paulo, provavelmente por causa da hegemonia jesuítica aqui, ao contrário de Santo André. Ramalho traz o pelourinho com ele e o coloca na frente do Colégio dos Jesuítas. O primeiro Paço Municipal foi construído em 1575; a primeira cadeia, em maio de 1579.

Em 1562 João Ramalho vira capitão-mor de São Paulo, que então é elevada a comício eleitoral. No mesmo ano, no Natal, morre o cacique Tibiriçá, chefe guaianaz que fundou a cidade com o padre Nóbrega.

Nos anos subseqüentes chegam novas ordens religiosas. Em julho de 1598 é fundada a ordem beneditina e começa-se a construção de sua igreja: era a igreja da Sé.

A cidadezinha era pobre, as pessoas comiam formigas assadas, e aqui, ao contrário do resto do Brasil só as mulheres faziam o pão - e entenda-se por pão um tipo de broa de milho, porque pão mesmo só chegou depois de 1850, com a Grande Imigração, trazido pela mão dos italianos.

Com a mistura de índios e portugueses, a estrutura familiar européia se transforma: começam a aparecer famílias inteiras com mais de uma mulher. Uma endogamia fechada também era relatada nos diários de viajantes - Lery, von Martius e escrivães da corte portuguesa. As primeira mulheres européias que aparecem na região são francesas, moram ali perto de São Vicente, e a elas se juntam portuguesas, mulheres dos degredados.

As famílias andavam sempre meio trancadas em suas casas, eram arredias - ainda se fala isso de paulistanos. A Vênus em Capricórnio: essa gente rude e pouco expansiva que aqui medra...

No final do século XVI, duas famílias brigavam pelo poder: os Ramalho e os Pinheiro. O chefe da primeira facção era neto de Tibiriçá, filho da nativa Bartira com João Ramalho. As duas famílias eram miscigenadas e ricas. Brigavam por causa de extração de ouro.

NOTAS DO EDITOR:
Entenda-se por ricas as famílias abastadas para os padrões da região. Mesmo estas famílias tinham um padrão de vida bastante rude, comparado ao de Salvador, por exemplo.
O ouro da região de São Paulo era de aluvião, encontrado em quantidades ínfimas nos rios em torno da vila. A descoberta do ouro de Minas Gerais só aconteceria no final do século seguinte.

O mapa de São Paulo e os movimentos operários do século passado


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