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ASTROLOGIA E ANTROPOLOGIA

O tricot da Velha Senhora

Paulo Duboc

 

Utilizando como ponto de partida o estudo antropológico de Rodolfo Vilhena e o conceito de "matriz vetusta" de Jung, Paulo Duboc tenta estabelecer o fator diferencial entre a abordagem da Astrologia e das modernas ciências da saúde e do comportamento.

A população brasileira está se acostumando a ser usuária dos chamados Sistemas Alternativos, onde destaco, por sua importância e modernidade, a Astrologia. Também por ser uma tradicional técnica para tratar com os símbolos configurados na constelação dos arquétipos do Homem-Terra.

A proposta de interpretar o "discurso dos astros" sempre existiu e, em altos e baixos, acompanhou a evolução da humanidade. Desceu com força total na década de 80 e em progressão geométrica acelera-se nesta década final do Século XX [*]. No entanto, apesar de sua força oitavada, ainda goza do estigma de ser ciência divinatória e ainda é execrada oficialmente da árvore das ciências ortodoxas.

[*] O artigo foi escrito em 1998.

Indague-se, antes de analisar o mérito, que lugar ocupa hoje na ciência comum essa Arte da Velha Senhora, a Grande Dama do Céu que sempre existiu como uma espécie de Matriz do Homem terrestre? Quem são os Astrólogos senão os Cavaleiros da Herança Celestial, herdeiros da milenar técnica de observação do Casal Celestial , o Sol e a Lua, sua mãe, a Grande Deusa, seus filhos e todo a natureza, a Physis terrestre; quando não seres que podiam prever catástrofes, facilitar o ataque aos inimigos do Rei, ditar rumos da história da Humanidade?
À esquerda: Carl Gustav Jung, de quem Paulo Duboc tomou emprestado o conceito de "matriz vetusta".

A Astrologia, por óbvio, está em todo lugar. Está na cidade, no interior, onde quer que se consulte o Sol ou a Lua ou para plantar ou para colher; ou para o amor, o casamento, a lua de mel; ou para a catarse, a vingança, o plano de ataque; ou para a operação cirúrgica, o nascimento induzido, a cesariana. Que o digam as consultorias médicas, psicológicas, astrológicas, dentárias, até mesmo as delegacias, órgãos oficiais do Estado (em nível oficioso, é claro), autoridades, políticos, prefeituras, não apenas das capitais, mas do interior, não apenas do Brasil, mas da América e do universo.

Por toda parte cresce o apreço e admiração pelo "tricot" da Velha Senhora. Ela vai agasalhar, por certo, o pobre de espírito, o doente, o enfermo mental; da mesma forma aponta soluções para a crise do desvalido, ou propõe alterações nos rumos da empresa, administra o patrimônio do infortunado ou vai descobrir a origem da falência moral ou espiritual do indigitado, dando-lhe novos rumos e acessos à administração da sua Roda da Fortuna. Até para o rico ela aponta a idéia implícita de felicidade.

Há uma grande força, uma energia incessante que posiciona a Astrologia como uma "Matriz Vetusta" (Jung) que, como pescadora, joga a rede de integração arquetípica e de repente leva ao consultório do profissional centenas de pessoas em busca de autoconhecimento. Que força essa que, ao formar o profissional do "tricot dos ciclos", leva-o, numa espécie de carro, a passear pelos caminhos da liberdade sem medo, da responsabilidade individual e social; a ditar rumos para a felicidade alheia e administrar o patrimônio cíclico do arbítrio humano?

Da fragmentação à coerência

Em 1989 o antropólogo Luís Rodolfo Vilhena lançou em livro sua tese de mestrado, a segunda no Brasil a contextualizar a Astrologia a partir de uma perspectiva das ciências humanas.

A Astrologia se insere, no momento atual, como um objeto de conhecimento, da mesma forma que qualquer ciência. O notável trabalho de tese apresentado por Rodofo Vilhena - O mundo da Astrologia - estudo antropológico (Ed. Zahar, 1989) - oferece em suas conclusões a possível idéia "de que a presença das concepções astrológicas, por se contraporem à lógica do pensamento científico na sociedade moderna, ilustra a fragmentação que essa sociedade apresenta". Ao questionar em seu trabalho a natureza da modernidade e sua relação com a Astrologia, responde através do astrônomo brasileiro Rogério Mourão, que "arrisca a hipótese de que ela seria um elemento de segurança e coerência em meio a um mundo confuso e incerto". Por fim indica o autor que "a Astrologia, a partir das potencialidades que possui, associa-se às visões de mundo dos grupos que dela se aproximam. O Sistema é polimórfico".

O livro parte do pressuposto de que é necessário pesquisar para formar a tese. O próprio autor, assim pensando, fez parte de um dedicado grupo de Astrologia, e durante algum tempo vivenciou os trabalhos, os atendimentos e as idéias do grupo. Aos poucos foi aumentando o seu conhecimento na velha ciência, sem deixar, no entanto, de estar sempre afeito à pesquisa de tese que desenvolve. Com a obtenção de dados variáveis, cruzou-os e por fim sintetizou o espírito da Astrologia. O livro tornou-se tão interessante que todo o aluno de Astrologia deveria estudá-lo, porque ele é o fruto do estudo do autor para compreender a tese a que se propõe.

O que se infere da Astrologia e que temos deduzido de nossa experiência é que a grande procura aos profissionais não se restringe a sua quantidade ou popularidade, como ocorreu de cerca de dez anos para cá. Mas a uma espécie de "fator alternativo" que leva o cliente do psicólogo e do médico, bem como o próprio profissional ou cientista a indagar, conforme diz Rodolfo Vilhena, essa "estrutura de mordernidade que não possui diagnóstico definitivo mas variáveis polimórficos capazes de abrir campos de curas, descobertas de focos subconscientes dos sofrimentos e mesmo soluções alternativas para a cura de doenças". Como testemunho, ofereço a minha experiência profissional, levantada em mil cartas em média por ano, ao longo de mais de uma década e meia, onde constatei tais fatos em vivência e "vias paralelas" de atuação, mas sem o vezo da concorrência com o psicólogo, o psiquiatra, o médico homeopata e outros profissionais.

Assim, um profissional, como me tornei, pode perscrutar o símbolo em suas múltiplas e variadas formas, de tal sorte que posso, com precisão, indicar a terapia mais adequada ao cliente, o melhor tratamento, a melhor vocação, o mais rápido insight para resolver uma crise. Durante muito tempo enviei para os consultórios de Psicologia de dois renomados profissionais dezenas de pessoas, bem como aconselhei o uso de medicina homeopática, antroposófica, alternativa, com o intuito único de ajudar a pessoa. Nem de longe usei a Astrologia para enriquecimento próprio, como via muitos colegas fazerem, mas ao contrário, vi aumentar o meu conhecimento e verifiquei que o trabalho tinha um êxito anônimo, correto, eficiente - e esse era meu lucro. A média de atendimentos em consultas seqüenciais (com o mesmo cliente) atingiu 42%, extremamente alta para um profissional nessa área. Ainda hoje atendo pessoas com mais de vinte consultas e dezenas de anos de experiência.

Também creio que a necessidade de "perscrutar" o símbolo, ressaltada em Jung como a "necessidade de polir imagens interiores", leva as pessoas a procurarem o Astrólogo. Talvez seja uma reminiscência do antigo desejo arquetípico do Ser Humano de interrogar os astros. Afinal, interrogar os astros é interrogar a mãe.

E por que a Astrologia interessa?

Porque tem lógica, tem começo, meio, fim; porque atua como poder de Análise e Síntese; porque determina com precisão a doença, e o dispositor, bem como a capacidade de não aceitação ou resignação, superação, catarse, auto-cura. Inúmeros são os casos que constatei de doenças crônicas (casa 12) ou psicossomáticas (casa 6 sem planetas) que, em duas sessões astrológicas, alteraram o rumo, levando, logo mais, à descoberta da cura. Enfim, a Astrologia define a crise que se avizinha e propõe o modelo de superação. Os Astros põem e não dispõem, ensina a velha metafísica da ciência.

A Astrologia está em franca ascensão. Sua angulação social merece ser analisada tanto pela importância em estruturas postas socialmente como pela disposição em alterar estruturas estratificadas da sociedade, mostrando rumos e apontando alternativas.

Saiba mais sobre Paulo Duboc.

Atalhos de Constelar 02 - agosto/1998

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