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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 84 :: Junho/2005 :: -

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TEXTOS SELECIONADOS DE ASTRO-SÍNTESE

A Teoria do Conhecimento e
a representação cultural da Astrologia

Edil Carvalho, Silvio Pazotto, Ana Laraia, Ronaldo Castro e João Acuio

O guru chatérrimo

E vou te falar, o que não curto em determinadas posturas, mas isso é de caráter puramente pessoal. Por exemplo, acho chatérrimo aquele tipo de astrólogo ou professor de astrologia que posa de guru leonino. Ou aquele que aponta sadicamente coisas no mapa do aluno ou do consulente. Como se tivesse dizendo: haham, te peguei, safado!!! Acho isso uma cafonice. O lugar da leitura é o lugar da leitura.

Também acho empobrecedor quem não cita fontes. Isso empobrece a Astrologia. Parece que tudo sai pela primeira vez da mente do iluminado.

Outra coisa é quando o astrólogo quer fazer papel de terapeuta. E acaba não fazendo nem um nem outro. Sabe aquele tipo de coisa, de que o cara já tem na ponta da língua a sacada genial, o conselho de ir até o cemitério enterrar o pai (que ele aconselha sempre mesmo o outro sendo de Áries, Libra, Virgem, seja lá o mapa que for), ou pede para não loquear, porque tudo é uma invenção da mente, ou ainda, aquele que aconselha a pessoa a relaxar, porque, afinal, trânsito de Netuno ou Plutão sobre a Vênus, é relaxar e gozar?

Este tipo de postura é desonesta porque o neguinho foi lá para ler o mapa. Não para ouvir conselhos de quinta, que mais parecem chupados de livros de auto-ajuda. E outra, este astrólogo esquece que a leitura do mapa, bem feita (aí depois a gente discute isso), é terapêutica por si só. Noel Tyl tem vários livros onde ele mostra e fundamenta o seu discurso durante uma consulta. Eu fiz uma consulta com ele e é aquilo mesmo que ele conta nos livros. É uma coisa impressionante. Nunca vi livro de brasileiro, aliás, livro de brasileiros são poucos, talvez porque o povo não tem o que dizer, ou não tem paciência para escrever, que abordasse, assim na chincha, o que é dito e porque é dito.

Por que não se publicam as leituras?!

No final nas contas, não interessa muito a filosofia, as bases teóricas da astrologia, se, na hora de ler o mapa, você lidará com a construção de um discurso frente a uma pessoa. Este impacto no outro é que acho que é pouco pesquisado. A psicanálise, a neurolinguística, a teoria da informação, a semiótica, nos ajudam a pesquisar isso. Agora, Astrologia, a consulta astrológica, não é psicanálise.

Agora, tentando responder o seu esboço de pergunta, se é que entendi, acho que a gente está num momento onde a polifonia está ensurdecedora. Onde cada um está imerso no seu próprio mito pessoal mas sem poder edificar nada e sem saber ao certo o seu lugar. Momento onde tudo está sendo transformado em signo: coisas e pessoas.

Teremos que nos haver com o sentimento de que, nós, astrólogos, temos nas mãos um saber em ruínas. Que fazia sim eco a um entendimento do mundo organizado. A harmonia das esferas existia porque não se concebia o trítono, isto é, o diabo, a tensão, a falta de sentido. Se a Astrologia ficar nessa de harmonia das esferas, hmmm.... não dá para fingir que tudo está harmônico enquanto a vitrola toca violência.

Para terminar acho que a Astrologia não quer sujar as mãos. Os temas contemporâneos, como a cidade, a violência e a televisão, por exemplo, a gente não fala. Sinto falta disso. Qual é a violência do astrólogo? Ou somos todos bons e lindinhos? Qual é o mito que rege essa senhora chamada Astrologia? O que a Astrologia tem a dizer sobre as cidades? O que a astrologia tem a dizer sobre a televisão? Sobre este tema, infelizmente, um trabalho que coloquei na Sinarj para concorrer a uma das 6 vagas simpósio de 2004, não foi escolhido. Enfim, sinto que os astrólogos tocam pouco nos assuntos que estão na rua.

Veja você, quantos livros tem sobre Astrologia e Sexualidade? Parece que astrólogo não tem sexo. Por isso, que o Walter Mercado tem cara de andrógino. Assim como Tirésias.

A realidade contemporânea está mesmo tão distante do discurso astrológico quanto afirma João Acuio?

Agora é a vez de Edil retornar:

Acuio,

Quisera ir também por partes e comentar em detalhes cada um dos tópicos por você mencionado, mas não só o meu tempo urge como também boa parte das coisas que você falou mantém relações estreitas umas com as outras, formando uma grande teia bem tecida - e seria eu que iria desmontá-la? Eu, que nem sei por onde puxar o fio da meada e seguir fiel a rota do discurso? Eu, não. Prefiro agir como um esteta que fica a apreciar a luta da mosca para escapar desse imenso emaranhado - ou tal como a vítima do minotauro, que não percebe que ele acaba servindo de guia e estímulo para se encontrar a saída deste imenso labirinto que é o pensamento humano.

Por isso, não vou por partes: vou tateando, cego, as paredes de que se compõe a estrutura desta teia, desse labirinto, cuja estrutura geral é composta de certos corredores, certos compartimentos, cujos conteúdos tem reflexões suas com que também compartilho, e que vale a pena destacar:

1) os primórdios da Astrologia e seu aspecto doutrinal, de reverência e culto ao Céu, tornando-a semelhante a uma religião pagã, e as possíveis relações existentes entre o Mito e o Logos, entre Símbolo e Discurso - que me parece ser matéria de entendimento para o ato da interpretação;

2) a formação que o astrólogo-médico detém atualmente e que lhe dá um outro status, em comparação à formação antiga que o astrólogo detinha, e que o colocava na condição de saber cartografia, geografia, náutica, astronomia, matemática, filosofia - e também medicina;

3) o enorme fosso existente entre a imagem pública da Astrologia e a sua face íntima, praticada nos consultórios;

4) a elaboração de pesquisas e suar verdadeiramente a camisa, contribuindo para o bom desenvolvimento da Astrologia (e não o contrário, isto é, tirar tudo o que pode e o que não pode ser tirado da Astrologia em favor exclusivo do próprio bolso, deixando-a anêmica, depauperada, empobrecida, marginalizada, ridicularizada, à mingua), e fazer isto a partir do próprio paradigma e não a partir do paradigma da dita ciência, muito embora o paradigma de um indivíduo possa coincidir com o paradigma da própria ciência;

5) o conhecimento que o astrólogo detém, e que é manifestado sem notas de rodapé e referências bibliográficas. Talvez seja assim mesmo visto que o dito astrólogo talvez não tenha cultura geral e conta somente com a sua intuição proverbial, ajudando a criar o mito de que a Astrologia é um conhecimento de natureza revelada destinado a poucos privilegiados. Assim, toda a Astrologia autêntica necessariamente deverá ser pessoal e prescindir da observação de terceiros, estimulando a idéia de que toda Astrologia a ser criada deverá ter a marca indelével do Eu soberano do seu criador, sendo sempre apresentada como a "Minha Astrologia". Significa esquecer que a Astrologia deve ser alguma coisa infinitamente maior do que aquilo que seu imenso umbigo possa abarcar e demarcar e que, por isso mesmo, ela deveria ser tratada de maneira impessoal e imparcial, de um modo em que ela, a Astrologia, prevalecesse sobre o Indivíduo, e não o contrário, onde o Eu do criador se sobrepõe a Ela;

6) de que a leitura astrólogica, em si mesma, já é um recurso terapêutico e contém elementos que proporcionam uma "cura";

7) de que não interessam a filosofia e as bases teóricas da Astrologia no ato da realização da leitura;

8) o lugar da Astrologia dentro do conjunto dos conhecimentos e dos saberes que tentam compreender o mistério da identidade humana;

9) aceitar que temos um saber em ruínas nas mãos a ser reconstituído, e de que isso é um trabalho enorme, talvez chato, complexo, porém necessário;

10) de que o Astrólogo não quer sujar as suas mãos, indo até os temas que fazem parte do cotidiano do homem, e de que ele deveria saber ir até às ruas e alcançar o povo, sendo que talvez (talvez) a Astrologia tenha servido somente para aqueles que sempre quiseram compreender se há mesmo um sentido no Cosmos e no Céu. Estes nunca compuseram uma maioria ou a totalidade da humanidade, sendo para mim, Edil, um mistério esta tarefa de tentar inserir um saber - que nos obriga a olhar para cima - numa sociedade que só sabe olhar para a perspectiva que se abre entre os próprios órgãos genitais e a boquinha da garrafa.

Tentando reaver o fio da meada



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