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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 146 :: Agosto/2010 :: -

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RAUL VARELLA MARTINEZ

O legado de um grande astrólogo

Fernando Fernandes

A morte de Raul Varella Martinez deixa um vazio na Astrologia brasileira e em centenas de alunos, amigos e colegas que tiveram o privilégio de tê-lo como interlocutor.

Raul Varella Martinez

Raul em visita à Escola Gaia, de São Paulo, durante o evento Astrológica 2008.
Um raro momento documentado por Edil Carvalho.

Na noite de 11 de abril de 2010 o prof. Raul Varella Martinez, um dos mais antigos astrólogos em atividade no país, sofreu um AVC, sendo internado na UTI do hospital São Camilo, no bairro do Ipiranga, São Paulo. Apesar de pequenas melhoras, que mantiveram acesas as esperanças da família e dos amigos, não mais se recuperaria plenamente. Faleceu na terça-feira, 13 de julho, e, conforme sua vontade, teve seu corpo cremado no dia seguinte.

Raul Varella Martinez nasceu em 1926, em São Carlos. Formou-se em Engenharia Civil pela USP em 1951. Começou a interessar-se por Astrologia aos 42 anos, em 1968, quando já tinha desenvolvido uma sólida carreira como engenheiro civil e professor universitário. Na época, já atuava na coordenação do curso de Engenharia da Mauá, conhecida instituição universitária de São Paulo. Foi esse vínculo com o meio acadêmico que facilitou a Raul desenvolver um projeto de grande importância para a expansão do interesse pela Astrologia entre o final dos anos 70 e meados dos 90: a implantação do ensino de Astrologia sob a forma cursos de extensão universitária. A primeira experiência aconteceu na PUC-SP, em 1979, e teve à frente o psicólogo argentino Juan Alfredo Cesar Muller. Os cursos foram um sucesso, chegando a atrair um público de centenas de interessados.

Nos anos 80, já sem Muller, Raul implementou um nova experiência, desta vez em bases mais estáveis. Entre 1986 e 1994 ministrou e foi professor responsável por cursos anuais de Extensão Universitária, em Astrologia, no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista. Diversas levas de astrólogos conhecidos e de profissionais de outras áreas - psicólogos e médicos, por exemplo - que utilizam hoje a Astrologia como ferramenta auxiliar passaram pelos cursos de Raul, que ganhou na época um epíteto que jamais o abandonaria: o de professor.

Raul jamais fez atendimento em bases profissionais, se bem que tenha levantado cartas e prestado orientação astrológica a um número incalculável de pessoas. Contudo, seus focos de interesse sempre foram a pesquisa e o ensino. Organizado, metódico, ávido leitor de novas propostas teóricas e sem qualquer pudor de experimentar métodos transgressivos, Raul chegou aos anos noventa como um dos mais idosos e, paradoxalmente, mais modernos astrólogos brasileiros. Aposentado depois de quatro décadas dedicadas à Engenharia Civil, podia enfim dedicar-se em tempo integral à Astrologia e à exploração das novas ferramentas de informática. Quando a internet começou a popularizar-se no Brasil, foi um dos primeiros a descobrir seu potencial. Fez parte da lista de discussão pioneira em língua portuguesa, a Solstix, criada pelo astrólogo carioca Marcus Vannuzini. Seria também um frequentador habitual de listas em língua espanhola, como a Astrocuantica, o que abriu caminho para diversas traduções de seus artigos no mundo ibérico.

Raul começou a colaborar com Constelar antes mesmo da edição do número zero (ainda no formato de revista eletrônica), em junho de 1998. Suas observações foram importantes na definição da linha editorial da revista e a primeira edição já contou com um texto dele: Monômeros, ou Graus Simbólicos. De lá para cá, foram outros 72 artigos, seis dos quais ainda inéditos. Dentre todos os autores com textos publicados neste site, Raul era o de relacionamento mais fácil: deixava o editor à vontade para criar títulos e chamadas com maior apelo jornalístico, algo essencial na internet, onde os leitores são apressados e querem ir direto ao ponto. Por outro lado, o conteúdo já vinha na medida exata: textos enxutos, corretos, sem uma palavra desnecessária. A cada parágrafo, o astrólogo deixava entrever a formação técnica do engenheiro e o didatismo do professor.

Outra fator que tornava Raul especial era o gosto pelo contraditório e a permanente disposição para o debate de ideias. Apesar de gentil e generoso com todos os colegas, incapaz de entrar em conflitos pessoais, adorava uma boa polêmica, nadando contra o academicismo astrológico sempre que achasse que valia a pena. Defendeu, por exemplo, Gêmeos como exaltação de Plutão, quando a maioria dos astrólogos prefere Aquário ou Áries; defendeu o mapa de Lula com Sol em Libra, contra a opinião geral que atribui ao presidente um Sol em Escorpião (Lula tem duas datas de nascimento possíveis); quando da descoberta de Éris, foi um dos primeiros a estudar o significado do novo planeta. Atribuiu-lhe uma possível regência taurina, polemizando com outros astrólogos que defendiam a regência libriana.

Nos últimos anos de vida, dedicou atenção cada vez maior às conexões entre a Astrologia e outros sistemas simbólicos, como o tarô e a geomancia. Produziu nesta área alguns trabalhos realmente originais, sempre com a preocupação de disponibilizar ferramentas que pudessem ser testadas no dia-a-dia da prática astrológica.

Culto, atualizado, racional e com forte viés para o experimentalismo, Raul não tinha preconceitos: encarava com naturalidade todas as novas propostas e submetia-as aos testes da consistência teórica e da aplicabilidade prática. Seu compromisso era mais com a utilidade do que com a tradição. Nos primeiros meses de 2010 enviou para Constelar uma série de artigos (ainda inéditos) que dão conta da inquietação e da diversidade de interesses desse astrólogo de 84 anos e curiosidade de adolescente.

Ainda é cedo para avaliar corretamente a importância de Raul Varella Martinez para a moderna Astrologia no Brasil. Um ponto, porém, é fora de dúvida: para ele, a Astrologia só valia a pena na medida em que pudesse ser posta à prova em cada nova oportunidade de aplicação. Neste sentido, conseguiu conjugar ousadia e rigor, erudição e humildade intelectual. Afirmava que a Astrologia fora um presente em sua vida e que a ela devia muito. Da mesma forma, nós todos, aprendizes de Astrologia, devemos muito ao professor Raul. Que sua memória nos inspire.

Outros textos de Fernando Fernandes.

Leia a relação de textos publicados de Raul V. Martinez.

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